sexta-feira, 1 de maio de 2009

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16:33. Não aguentava esperar mais. Será que ela me iria deixar ali plantado ao pé das oliveiras? Ia ligar-lhe, mas ela apareceu entretanto. Trazia um top que me deixava ver-lhe o umbigo, era muito branquinha. E magrita, mas com músculos, o karaté fazia-lhe bem.

Isto de passar o dia a filmar animais, é cansativo, mas foi bem fixe, pra variar! É verdade, tenho de me despachar…Um pouco depois da hora combinada, cá tou eu. Peço uma sangria e preparo-me para o que o João tem a dizer. Tou curiosa para ver o que vai sair daqui. Ele até me parece interessante, tendo em conta que é um homem. Tenho alguma dificuldade em olhá-lo nos olhos, não sei porquê, estes olhos azuis incomodam-me, não me deixam nada confortável e isso irrita-me um bocado. Isso e o sotaque british de imigrante de longa data. Já não o acho tão snob de ténis e t-shirt. Agora parece-me apenas parolo.

“Não te quero tomar muito tempo, por isso vou directo ao que me trouxe cá. Eu sei que estás interessada na Alice, quero saber se estás interessada em mim também.”

“Interessada?” Decido fazer-me de parva, na verdade, não sei bem o que ele quer dizer com aquilo. Como é que um gajo destes pode estar interessado em mim? Sexualmente?

Que engraçado, ela corou! “Sim, eu reparei no teu «interesse» por ela, queria saber se eu posso fazer parte desse jogo.”

Ok, a sinceridade dele espanta-me, e a proposta também. Será que isto traz água no bico? Será que a Catarina tem razão e o melhor que tenho a fazer é afastar-me?
“Não”, respondo decididamente. “Eu só gosto de mulheres, lamento.”


“Que pena. Acho-te muito interessante. Podíamos passar uns bons bocados os três, ou só nós dois… Mas então diz-me, quais são os teus planos em relação à Alice? Ela está muito frágil, e já me disse que está interessada em ti, eu não quero que se magoe. Ela está com um problema com drogas, está a passar por uma fase delicada…”

Que protector! “Já percebi, vou ser prudente, não tenho intenção de a prejudicar, muito pelo contrário. Mas se te preocupas assim tanto com ela, por que me tás a fazer estas propostas? Não é egoísmo da tua parte?”

“Vamos lá deixar-nos de infantilidades. A minha relação com a Alice é muito sincera. Eu gosto dela, nós damo-nos muito bem, mas sabemos perfeitamente o que queremos e isso não passa por uma relação exclusiva nem de longo termo. Sinto-me atraído por ti e ela também. Penso que podemos juntar o útil ao agradável e…”

Ele está a ir depressa demais para mim. E eu gosto das coisas bem aceleradas, mas isto é demais. Até me sinto um bocado ofendida, afinal de contas, já lhe tinha dito que a minha cena eram mulheres, não quero ter nada a ver com ele. Tenho de deixar isto bem explícito.

“A Alice sabe que estás aqui?” Disse-lhe que não, que apenas lhe tinha dito que ia tratar do assunto, sem adiantar pormenores. “Ok, eu admiro o vosso fair play, mas realmente não alinho com homens. Se fosses mulher, podia ser que até fizéssemos um belo trio, mas assim… Eu estou mesmo interessada na Alice, e se ela sente o mesmo, então vou falar com ela. Se a vossa relação é assim tão aberta, com certeza que não te importas que ela se passe um «bom bocado» comigo, pois não?”

Confesso que a ideia de lhe pedir a namorada emprestada é um bocado estranha para mim, mas não deixa de ser excitante. Conquistar uma mulher a um homem, é um desafio interessante, nunca me aconteceu, embora já tenha deixado algumas meninas com dúvidas sobre orientação sexual. Se ele não contestar, dou a mão à palmatória, deixo de implicar com ele.

“De facto, não me importo nada, eu quero mais é que ela se divirta e seja feliz.”

Isto cheira-me a esturro, mas ok. Vou fingir que acredito. “Então tá, vemo-nos por aí” E vou andando. Afasto-me devagar, à espera que ele grite “espera!”, mas nada. Que raio de conversa mais estranha!

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