domingo, 10 de maio de 2009

~ 11

Estranho, sinto-me poderosa, linda, mas ao mesmo tempo frágil e insegura, isto não é normal… devo estar a ficar maluca, os saltos dos sapatos desequilibram-me as pernas e os miolos. Vou a cantarolar Brass in Pocket dos Pretenders na minha cabeça, a ver se me convenço que sou mesmo boa e especial, mas está difícil.

Ainda por cima isto é calcetado, caraças… eu sabia que me ia arrepender.
O que vale é a vista do rio, a outra margem toda iluminada... 
  
43 minutos depois da hora marcada, lá estava ela. Mas seria mesmo ela? Bem, que transformação! Abordo-a mais uma vez por trás, enquanto ela olha estarrecida para o rio.

"Bela vista!" ele quase que sussurra ao meu ouvido. Bolas, sinto um arrepio… ele até que tem um bom timbre, não fosse aquele sotaquezinho irritante.
O restaurante é muito fixe, modéstia à parte, tenho bom gosto, mas eu só cá tinha vindo uma vez, é caro e só é bom para se comer com os olhos, quando não se tem fome. Espero não encontrar ninguém que eu conheça.



Ela estava mesmo deslumbrante, fiquei surpreendido. O vermelho escuro era definitivamente a cor dela. Agradou-me pensar que ela se produziu assim para mim, mas talvez fosse pretensão minha. Ou talvez seja pura provocação.


Começamos por falar de viagens, dos sítios por onde já passámos. Eu digo-lhe que já conheço meio mundo à conta do trabalho e daqui a uma semana vou para a Amazónia fazer um documentário sobre o abate ilegal de árvores e o impacto que isso provoca nas tribos e em todo o ecossistema. É uma cena que me entusiasma falar do meu trabalho. Falo-lhe de mais alguns projectos em que estive envolvida, alguns dos quais ele viu o resultado final. Ele pergunta-me o que me prende a Portugal. "Lisboa é um vício" digo, e ele entende e concorda. Fico a saber que afinal ele tem dupla nacionalidade, filho de mãe portuguesa e pai inglês. Tendo isso em conta, ele até nem fala mal. "Falo com a minha mãe e irmãos, leio bastante em português e venho cá sempre que posso". Tem uma academia de ginástica com um sócio e tem montes de dinheiro, pelo que posso entender.

Que decote, my God, atrás e à frente, era de perder a concentração. Só me apetecia saltar-lhe em cima. Tentava não olhar para os seios dela, mas era inevitável.

Isto é divertido, ele não tira os olhos do meu peito! As minhas mamas devem ter um poder magnético que eu ainda não tinha descoberto. Maravilhas do wonderbra invisível… os homens são tão básicos!


"Ok, isto é tudo muito interessante, mas eu gostava mesmo de saber se trouxeste o gravador, como prometeste." Ela olhou-me com olhar desafiador. A maquilhagem realçava-lhe os olhos verdes escuros que eu até então ainda não tinha reparado. Fui ao bolso do casaco e pus o gravador em cima da mesa.

Respirei de alívio! A brincadeira ia sair-me cara se eu não devolvesse o gravador a tempo. Óptimo! "Muito obrigada!" Meto o gravador dentro da ridícula bolsa minúscula que o Paulo me impingiu e dou graças pela miniaturização da tecnologia.

"Agora em relação ao vídeo, foi estranho ver-me a mim próprio, dancing with myself, não estou nada habituado a ser filmado, muito menos a ver-me em filme. Calculo que queiras ver também." Ela divagou um pouco, disse que se não tivesse curiosidade, não tinha posto lá as câmaras, mas que não está disposta a dar nada em troca por isso.

início | continua daqui a nadinha

Sem comentários: