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sábado, 28 de fevereiro de 2015

Sugestões de leitura com alguma música à mistura

Conhecemos o autor na Blogosfera e depois pessoalmente em três memoráveis concertos. Ele escreve, ele toca, ele canta, enfim, é um artista completo! Um humor e sentido crítico apurados, com toques de erotismo - é a forma que arranjamos para definir a sua obra. E já conta com 5 títulos:

Lilith

Miguel Lages é um escritor isolado numa casa de praia em plena crise criativa e a um mês da entrega do seu romance seguinte, para o qual não tem ainda, sequer, um título.
Inesperadamente recebe a visita de uma jovem de extraordinário porte e beleza que afirma chamar-se Lilith e que lhe dará a história da sua vida. Insta-o a procurar informação acerca dela e Miguel, com a sua curiosidade espicaçada, vem a descobrir as referências à primeira mulher de Adão, que se rebelou e saiu do paraíso, mas também descobre uma figura transversal a quase todas as antigas civilizações.
Incrédulo, Miguel dá-lhe uma hipótese de contar a sua história e acaba arrebatado por um misto de lendas e das realidades que estiveram na origem das mesmas. Mas se a principio tem apenas uma curiosidade académica, acaba por dar por si a respeitar e amar aquela mulher, embora tenha uma enorme dificuldade em percebê-la.
Mas ao mesmo tempo Lilith, sem que ele se dê conta, leva-o numa viagem de auto-conhecimento… 
WookFnac

Conscientização

Apesar de muitos afirmarem que as pessoas não mudam, haverá um momento em que ganhamos plena consciência de quem somos e do que nos rodeia, alterando permanentemente a nossa visão do mundo?

E se esse momento existir, seremos capazes de o reconhecer?


Fnac | Wook 





Chuva

E se alguém completamente à margem da sociedade, com desprezo pela humanidade e por si próprio por ser humano, descobrisse mensagens de eventos futuros ocultas na chuva?

Amazon (versão impressa e versão digital)
Treta de cabos, volumes 1 e 2

As aventuras e desventuras de um grupo de músicos à solta na tugalândia.
"Durante duas horas os Undercover desfilaram os sucessos mais recentes de bandas antigas e os temas mais antigos de bandas recentes num sítio que tinha uma lotação para umas quarenta pessoas mas onde estavam seguramente mais de duzentas, onde toda a gente falava de tal maneira aos gritos para se ouvirem por cima da música que era tocada que acabavam por a abafar."
Ambos os livros contêm CD com música dos XXL Blues
Wook | Fnac | Amazon (versão impressa e versão digital)

Amanhã às 15:30, haverá apresentação do livro Treta de Cabos na Livraria Lua de Marfim, Av. Conde Castro de Guimarães, 22 A, 2720-059 Amadora. Apareçam por lá!

C N Gil Blog  | Goodreads || XXL Blues Facebook

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

The escaped cock...

Em jeito de provocação, quando lia (e ainda estou a ler) o livro : "O Segredo dos Templários" encontrei a frase citada em baixo


"O galo (...) está associado à ideia do corpo ressuscitado (a figura humana Cristo, fazendo um jogo de palavras, exclama: "Ressuscitei!" quando, por fim, teve uma erecção...)"


Frase esta que vem algures, se bem entendi, no livro The escaped cock

Deixo eu aqui a minha dúvida quase que existencial: erecção igual a ressuscitar? Melhor dizendo, devendo primeiro descontextualizar e voltar a contextualizar, tal como Nietzsche fez na sua obra, não me transformando, nem renascendo, transformo o termo erecção para o termo orgasmos que este sim, abrange todos: orgasmo igual a ressuscitar?

Será que pelo prazer sexual no culminar último do orgasmo, não só o nosso corpo como a nossa alma ressuscita?

Será esse o verdadeiro Santo Graal?

Bom fim-de-semana provocante!

sábado, 28 de março de 2009

por que é que uma pessoa corajosa "tem tomates"?

Quando os admiradores da Sra. Tatcher afirmavam que ela “tinha tomates”, não queriam dizer certamente que a dama de ferro era um travesti, mas antes que tinha “carácter”. “Pulso”. Por outras palavras, os testículos eram erguidos à categoria de símbolo. (...)
Contudo, esta relação entre coragem e testículos não é evidente a priori. Talvez os homens tenham reparado que, em situação de fraqueza devida ao frio ou ao medo, os testículos encolhem e se recolhem no corpo, a ponto de ser muito difícil castrar coelhos, porque os seus testículos desaparecem quando se tenta agarrá-los.

É verdade que a castração é conhecida desde a Antiguidade. Não sei quem foi o primeiro que teve a ideia de cortar os tomates de um touro ou de um homem. É possível que a descoberta tenha ocorrido por acaso, na sequência de um acidente que teria castrado a vitima. Seja como for, descobriu-se que um animal sem testículos era mais dócil, desenvolvia mais gordura e interessava-se menos pelo deboche, o que era prático, tanto para os animais de quinta como para os guardas de haréns.

Como é evidente, a endocrinologia não era conhecida. Serão necessários muitos séculos até a biologia demonstrar que os testículos produzem uma hormona masculina, a testosterona. Esta hormona actua sobre o corpo, contribuindo para produzir músculo, mas também sobre o cérebro e o pénis, por intermédio da sua acção na libido e na erecção. Estes efeitos são visíveis nos homens submetidos a castração por razões médicas: a libido diminui bruscamente devido à quebra da testosterona. Não obstante, este facto não permite deduzir a existência de uma relação simples entre a testosterona e a sexualidade.

É conhecido, por exemplo, o efeito de retroalimentação no circuito da testosterona: a testosterona aumenta a actividade sexual, mas também aumenta graças a esta última (os homens segregam mais testosterona enquanto vêem um filme porno). É por isso que é difícil dizer se os engatatões vão para a cama mais vezes porque têm mais testosterona, ou se têm mais testosterona porque vão para a cama mais vezes.

Além disso, a testosterona não é uma espécie de afrodisíaco que se possa ingurgitar em injecções ou em cápsulas para melhorar o desempenho. É necessário um mínimo para se ter uma libido honesta, mas esta não aumenta linearmente com a testosterona. Ao invés, a castração não suprime forçosamente toda a vida sexual. Por exemplo, se um animal já tinha copulado antes de ser operado, pode continuar a fazê-lo depois (sem testosteona, a erecção será menos fácil, mas não é totalmente impossível).

Regressemos, porém, a essa famosa força de carácter, pois é dela que se trata quando se utiliza a expressão “ter tomates”. A observação de animais sugere que há alguma verdade nisso. Sabe-se que, nos grupos de primatas, os machos dominantes segregam muitas vezes mais testosterona. Mas é difícil dizer que se possuem mais por serem dominantes, ou se são dominantes porque possuem mais. Na verdade, é por intermédio da sexualidade que a hormona actua. O mais bem dotado em testosterona não é forçosamente o macho dominante, mas é o mais activo no plano sexual. Embora um macho dominante posa ter mais hipóteses de segregar testosterona porque tem mais fêmeas à sua disposição, as fêmeas podem preferir um subalterno e, nesse caso, ainda que ele continue a ser dominante, a sua testosterona diminui.

Nos seres humanos, é ainda mais difícil relacionar hormonas e comportamento. Algumas investigações mostram que a testosterona induz uma certa forma de agressividade: aumentaria, por exemplo, imediatamente antes de uma competição desportiva. Mas não se deve perspectivar esse tipo de relação sem se ter em consideração factores sociais e culturais. E aí, as hormonas tornam-se secundárias. Por exemplo, os delinquentes, mesmo os sexuais, não segregam mais testosterona que qualquer outra pessoa, e daí a ineficácia de uma castração terapêutica. Os suíços castraram cerca de 10 000 delinquentes no século XX, e, tanto nos Estados Unidos como em certos países da Europa do norte, recorre-se amplamente à castração química de criminosos sexuais, apesar de a supressão da testosterona nunca ter abolido as pulsões que lhes são imputadas.

Portanto, se fizermos um balanço, quando dizemos que um indivíduo “tem tomates” referindo-se ao seu carácter, cometemos pelo menos três erros. O primeiro consiste em fazer da coragem uma característia relacionada com a testosterona. É verdade que esta aumenta a libido e, talvez, em certa medida, a agressividade, mas nada tem que ver com o carácter. Um indivíduo pode ser corajoso sem ser megalómano ou maníaco do sexo, e, inversamente, o cobarde agressivo e libidinoso é uma realidade.

Mesmo que a testosterona aumentasse a coragem, o segundo erro esta em transformá-lo numa característica exclusivamente masculina. Com efeito, as mulheres também produzem testosterona nos seus ovários – em menor quantidade que os homens nos seus testículos, mas produzem. Na mulher, de resto, é a subida da testosterona que aumenta o desejo quando a ovulação se aproxima.

E, em terceiro lugar, o poder da testosterona deve ser relativizado. Como demonstram algumas investigações, a testosterona, para actuar, transforma-se, em certas situações, numa hormona feminina – o estradiol. Esta transformação faz-se por intermédio de uma enzima chamada aromatase, presente no cérebro e também nas gorduras. Em suma, a hormona masculina transforma-se em hormona feminina para actuar! E o pior é o que se passa nos testículos: as células de Sertoli, que alimentam os espermatozóides no fundo dos testículos, funcionam apenas graças a estrogénios. Estão a ouvir, machões? Nas profundezas dos vossos tomates, quem se esfalfa a trabalhar são as hormonas femininas!

Acabámos de apresentar boas razões para repor no seu devido lugar o velho mito que situa as virtudes masculinas nos penduricalhos. Homens e mulheres possuem hormonas masculinas e femininas simultaneamente, e é tempo de acabar com esse mito de uma dualidade psicológica baseada nas hormonas. O mito gerou muitos absurdos, como o de alimentar a ideia de uma “força de carácter” instalada nos testículos. Apesar da sua popularidade, a expressão “ter tomates” é machista e infundada.

ilustração: Charb

terça-feira, 1 de julho de 2008

de onde veio o peixinho...

"A tua beleza submerge-me, submerge o mais fundo de mim. E quando a tua beleza me queima, dissolvo-me como nunca, perante um homem, me dissolvera. De entre os homens eu era a diferente, era eu própria, mas em ti vejo a parte de mim que és tu. Sinto-te em mim. Sinto a minha própria voz tornar-se mais grave como se te tivesse bebido, como se cada parcela da nossa semelhança estivesse soldada pelo fogo e a fissura não fosse detectável."
Anaïs Nin, A Casa do Incesto

Este é o meu excerto preferido do texto que inspirou a cereja aqui

Download do texto completo e outras obras da mesma autora aqui

sexta-feira, 6 de junho de 2008

provocação gratuita 19

"Um homem só namora uma rapariga porque quer mantê-la fora do mercado de consumo. Só casa com ela porque quer mantê-la fora do mercado de consumo a título permanente."
Rui Coimbra, Os Homens são do pior que há (texto completo aqui; livro em que foi inspirado aqui)

sexta-feira, 30 de maio de 2008

provocação gratuita 18

"Se nos metermos com uma mulher, somos tarados; se não nos metemos, (...) somos maricas."
Francisco Salgueiro, Homem Sofre (artigo completo aqui)

quarta-feira, 28 de maio de 2008

para que serve o adultério?

ilustração: Charb



“Era bela como a mulher do outro.” Esta citação (que alguns atribuem ao anti-semita Paul Morand e outros ao judeu Groucho Marx, mas não é isso que se discute aqui…) resume bem a ambivalência humana. Pelo menos essa contradição que consiste em querer ao mesmo tempo uma só mulher… e um monte delas.

As sociedades polígamas (várias mulheres para um homem) oferecem uma forma (discutível) de resposta. Estima-se que representem cerca de 44% das sociedades humanas, contra 55% que são monógamas e menos de 1% poliândricas (vários homens para uma mulher, como acontece em África na índia ou no Tibete).

Polígamos há muitos. Mas, além disso, é preciso observar de perto os monógamos. Em primeiro lugar, os monógamos perfeitos, um só parceiro durante a vida, são raros: segundo inquéritos, os homens admitem ter tido 11 parceiras durante a vida, em comparação com 3,3 para as mulheres. Logo, as pessoas são, na sua maioria, monógamas num determinado momento, mas podem ser qualificadas de polígamas em série. E sobretudo, há o adultério. 20% dos homens e 11% das mulheres declaram ter cometido uma infidelidade nos cinco anos anteriores à data do questionário (será que as pessoas se enganavam menos antes de 1975, quando a lei francesa considerava o adultério como um delito passível de prisão?). Há pior. Os testes genéticos efectuados em vários milhares de pessoas revelam um número incrível de filhos cujo ADN difere do do pai legal: segundo os estudos, a percentagem de filhos adulterinos varia entre 1 a 10 % (por exemplo, 5,9% num inquérito inglês). De resto, as dúvidas quanto à paternidade à roda dos berços: não é por acaso que os psicólogos demonstraram que os comentários sobre o recém-nascido dizem sobretudo respeito às semelhanças com o Pai!

Woody Allen dizia que as únicas espécies fiéis eram os católicos e as pombas. Na verdade, há muitas outras (sim, eu sei, os católicos não constituem nenhuma espécie…). Pensa-se que existem cerca de 10% de aspécies monógamas – na sua maioria, aves (90% são-no) mas também 3% de mamíferos (gibões, chacais, etc.). Em contrapartida, a poliandria não tem muito êxito: 0,4% entre aves e os mamíferos.

O aspecto mais interessante é que, mesmo nas espécies que se pensava serem monógamas, se evidenciaram recentemente práticas adúlteras. Por exemplo, acreditou-se durante muito tempo que os canários eram monógamos e fiéis, até que um biólogo teve a ideia de realizar testes de paternidade. Ao comparar, numa mesma ninhada, o ADN das avezinhas com o do chefe da família, descobriu que, em média, 20 a 30% dos pequenos possuíam os genes de um macho vizinho! O espantoso é que os investigadores nunca tinham visto a fêmea a dar uma escapadela. Foi necessário segui-la o tempo todo para descobrir que se deixava inseminar discretamente pelos vizinhos, durante cópulas furtivas que tinha o cuidado de esconder do companheiro. Estas investigações torcem o pescoço à impostura que consistia em fazer de um ninho aconchegado a alegoria da harmonia familiar, e da avezinha que choca o emblema do “instinto” maternal. Conquanto desagrade aos românticos, a infidelidade parece desempenhar um papel na Natureza.

Do ponto de vista evolutivo, os biólogos explicam bem esta sexualidade de porta de cocheira. A monogamia “perfeita” permite à fêmea dispor de um macho que cuida dela, dela e das crias. Mas o inconveniente reside no facto de, ao limitar-se a um só macho, correr o risco de ficar com esperma de segunda escolha. A fêmea adúltera recupera as duas vantagens: por um lado, o macho que a protege, e, por outro, a multiplicação de probabilidades de recolher “bons genes”. A sobrevivência da espécie sairia a ganhar. Formularam-se outras hipóteses: as relancear os olhos pelos vizinhos, o borrachinho poderia forçar o “legítimo” a consagrar-lhe mais atenção. Acresce que o “bovarismo” também existe entre os animais. As fêmeas de canário são costureirinhas que se apaixonam por bons cantores. Um macho que lhes dê segurança, tudo bem, mas é difícil resistir ao encanto de um maestro de passagem.

Isto não nos deve fazer esquecer que os mais infiéis são, geralmente, os machos. Podemos explicá-lo afirmando que um macho aumenta as suas hipóteses de reprodução se multiplicar as cópulas, mas que uma fêmea não ganha nada em ter parceiros uns atrás dos outros. O que explica que este tipo de comportamento – macho engatatão, fêmea caseira – tenha sido conservado pela selecção natural.

Seja como for, não é o aumento das suas probabilidades reprodutivas que leva um indivíduo, homem ou animal, a dar facadas no matrimónio. O proveito é certamente mais imediato e agradável. É a necessidade de novidade, confessarão os Don Juans. O espantoso é que isso também exista entre os animais!

Com efeito, sabe-se que um rato fechado na companhia de uma fêmea copula como um tarado no início e, depois, cada vez menos… até acabar por se cansar. Mude-se a parceira ou, apenas, a cor da gaiola, e a libido volta. Os biólogos chamam-lhe “efeito Coolidge”, apelido de um presidente americano dos anos 20. Um dia, ao visitar uma quinta, Coolidge viu um galo a cobrir uma galinha, tendo-se desenrolado o seguinte diálogo. Presidente: “Ele faz isto muitas vezes?” Director da quinta: “Umas dez vezes por dia.” Presidente: “Com a mesma fêmea?” Director: “Não, sempre com uma fêmea diferente.” Presidente (cuja esposa se mantinha um pouco afastada): “Há-de dizer isso à minha mulher…” Alguns investigadores chegam a explicar a moda no vestuário pelo efeito Coolidge, porque proporcionaria um meio de satisfazer a necessidade de novidade!

É possível que o efeito Coolidge contribua para explicar o adultério humano (embora poucas esposas se contentassem com uma explicação tipo: “Desculpa, querida, mas é o efeito Coolidge, não há nada a fazer.”). Em todo o caso, alguns indícios sugerem que o adultério está profundamente enraizado. Sabe-se, por exemplo, que as espécies polígamas se caracterizam geralmente por um dimorfismo sexual: os machos são fisicamente muito diferentes das fêmeas. Em contrapartida, nas espécies monógamas (tanto entre aves como entre mamíferos), os dois sexos têm mais tendência a parecer-se um com o outro. Ora os seres humanos estão mais sujeitos ao dimorfismo… O que os aproximaria mais das espécies polígamas e não das monógamas!

De resto, alguns investigadores chamaram a atenção para a existência desta relação entre dimorfismo sexual e poligamia no interior das próprias sociedades humanas. As mais polígamas acentuariam o dimorfismo sexual: por exemplo, as sociedades muçulmanas, obcecadas pela barba nos homens e o véu nas mulheres. Inversamente, as sociedades ocidentais, onde a monogamia é a regra oficial, são as que mais atenuam o dimorfismo sexual: queixo rapado para os homens e calças para as mulheres.

Porém, convirá não esquecer que a poligamia subsiste, embora escondida, nas sociedades monógamas. Enquanto o chefe de clã somali possui um número de esposas proporcional ao seu prestígio, o empresário ocidental sustenta um número de amantes proporcional à sua conta bancária.

Acresce que, recentemente, a poligamia ocidental assumiu uma forma menos críptica, por meio da troca de parceiros. Esta prática, marginalíssima nos anos 90, explodiu subitamente, provocando uma proliferação de clubes em todas as grandes cidades. Ora, depois de demoradas investigações, o sociólogo Daniel Welzer-Lang, da Universidade de Toulouse, interpreta a troca de parceiros (cujo número de adeptos em França rondará os 400 000, segundo as suas estimativas) como uma forma de poligamia que ainda exprime o domínio dos homens, pois são eles que regulamentam as modalidades do comércio sexual.

Em resumo, o homem possui certamente um fundo polígamo, cuja origem biológica ou cultural não decidiremos aqui… E, ao mesmo tempo, um desejo monógamo, a propósito do qual podemos dizer o mesmo. Logo, o homem seria um monógamo infiel ou um polígamo que cria laços… Seja como for, alguém que nunca está tranquilo (tal como a mulher, consequentemente).


FISCHETTI, António: A Angústia do Chato antes do Coito – 36 perguntas sobre sexo que nunca fez a si próprio; Ed. Bizâncio, 1ª edição, Out. 2003.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Por que é que o riso conquista as mulheres?

ilustração: Charb

“Mulher que ri, meio caminho para a cama”, diz o provérbio. Rir é um prazer, admitamo-lo… Mas daí a transformá-lo num bilhete de acesso a outras formas de prazer, ainda vai um bocado. Contudo, é sabido que um homem aumenta as suas probabilidades de seduzir uma mulher se a fizer rir. O riso é, pois, um instrumento de sedução masculina, e os sociólogos demonstraram-no: são sobretudo os homens que fazem rir as mulheres. Decerto não é por acaso… Tão-pouco é por acaso que os homens ciumentos detestam ver a sua mulher rir na companhia de outro homem. Não há dúvida: há sexo no riso.

Não nos vamos lançar numa análise das teorias do humor, que exigiria um livro inteiro. Para Bergson, o riso explica-se pelo “maquinal aplicado sobre o vivo”, para Kant, “o riso provém de uma expectativa que, de repente, se converte em nada” e, para outros, o riso nasce da incongruência de uma situação, ou da transgressão de regras…

Seja como for, existe um ponto comum entre todas as formas de riso: de uma maneira ou de outra, troça-se de um terceiro. De uma pessoa real, de uma situação… Ou da pessoa virtual que poderíamos ser: imaginamo-la então a cair numa armadilha (no domínio da linguagem ou dos códigos sociais, por exemplo), e rimos por ter escapado subitamente a ela. Em suma, existe troça nessa mímica sonora que consiste em exibir os dentes, emitindo uma espécie de grito triunfal. O riso é a expressão de uma superioridade relativamente ao objecto de que rimos. E, no momento de uma piada ou de uma graça, a pessoa que provoca o riso adquire o poder.

Então, a mulher, numa situação dessas… Uma coisa é certa: uma mulher deve rir com um homem, e não dele. A mulher que ri torna-se cúmplice de quem desencadeou o riso. O que é uma forma de aliança com um dominante… um pouco como entre os primatas, em que as macacas se aliam aos machos “alfa” para lucrarem do ponto de vista alimentar.

Porém, quando nos rimos, não é só isso que fazemos. Todos nós mobilizamos, ao longo do dia, uma grande quantidade de energia psíquica para controlar os tabus sociais, esforço esse que acaba por cansar. O riso actua, pois, como uma válvula que permite a libertação brutal dessa energia repressiva. E daí o prazer.

Decerto que a mulher sente reconhecimento por quem lhe permitiu esse prazer… Abandona-se psicologicamente, e, ao mesmo tempo, fisicamente. Com efeito, o riso é uma expressão sonora não controlada. Não pronunciamos “Ah-ah-ah” deliberadamente, como quando falamos, mas entregamo-nos a salvas vocais que nos escapam. No inconsciente da mulher que ri, pode haver um raciocínio deste tipo: se este homem é capaz de desencadear em mim uma reacção destas, talvez possa proporcionar-me outras formas de abandono. Aliás, se se analisar o aspecto sonoro, será que o riso não evoca uma espécie de orgasmo? Uma mulher que reage com um “Ah-ah-ah” a uma piada de um homem, anuncia que pode emitir “Ah-ah-ah” de outra maneira. Rir é ter algum prazer.

O riso evoca o sexo… Mas o sexo também evoca o riso. Peça a um amigo para lhe contar uma anedota e são grandes as hipóteses de ele se sair com uma sobre sexo. Psicólogos americanos comprovaram-no. Pediram a 14 500 pessoas que classificassem cerca de trinta anedotas por ordem de preferência. Como não podia deixar de ser, são as anedotas sexuais que surgem à cabeça, e muito distanciadas das outras. É lógico. O sexo é o tabu que exige mais energia repressiva. Também é um ditador que está sempre a dominar-nos. Além de permitir a libertação da energia recalcada, a piada sexual proporciona a breve ilusão de ser mais forte que o sexo, “rebaixando-o” por meio do riso.

Quanto maior o mal-estar recalcado, mais divertido é. Inversamente, dir-se-ia que quanto menor é a frustração, menos rimos. Por exemplo, quando fazemos amor, já não estamos inibidos… enfim, estamos menos do que o costume. E, nesse caso, o sexo e muito menos divertido. Imagine que o seu parceiro se escangalha a rir enquanto você se afunda nos limbos do prazer. Dá cabo da atmosfera, não é? Esta incompatibilidade também se exprime nos filmes: é impossível fazer um filme ao mesmo tempo erótico e divertido.

Durante a fase de sedução, o riso aproxima os dois seres que se lhe entregam. Durante o acto sexual, porém, afasta-os. Talvez porque una os dois seres à custa de um terceiro. No amor, estamos sós, a dois. No humor, somos três: há um “objecto”, perante o qual nos encontramos em posição de voyeurs porque troçamos dele. Em primeiro lugar, isso distrai-nos do acto sexual. Além disso, o terceiro de que nos rimos corre o risco de ser a nossa própria pessoa. E isso não é bom, mesmo nada bom. Em suma, ao provérbio “Mulher que ri, meio caminho andado para a tua cama”, convém acrescentar o corolário “Mulher que ri na tua cama é mau sinal”.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

the vagina workshop

"[A slight English accent]
My vagina is a shell, a round pink tender shell, opening and closing, closing and opening. My vagina is a flower, an eccentric tulip, the center acute and deep, the scent delicate, the petals gentle but sturdy. I did not always know this. I learned this in the vagina workshop. I learned this from a woman who runs the vagina workshop, a woman who believes in vaginas, who really sees vaginas, who helps women see their own vaginas by seeing other women’s vaginas. In the first session the woman who runs the vagina workshop asked us to draw a picture of our own “unique, beautiful, fabulous vagina.” That’s what she called it. She wanted to know what our own unique, beautiful, fabulous vagina looked like to us. One woman who was pregnant drew a big red mouth screaming with coins spilling out. Another very skinny woman drew a big serving plate with a kind ofDevonshirepattern on it. I drew a huge black dot with little squiggly lines around it. The black dot was equal to a black hole in space, and the squiggly lines were meant to be people or things or just your basic atoms that got lost there. I had always thought of my vagina as an anatomical vacuum randomly sucking up particles and objects from the surrounding environment. I had always perceived my vagina as an independent entity, spinning like a star in its own galaxy, eventually burning up on its own gaseous energy or exploding and splitting into thousands of other smaller vaginas, all of them then spinning in their own galaxies. I did not think of my vagina in practical or biological terms. I did not, for example, see it as a part of my body, something between my legs, attached to me.
(…)
I found it quite unsettling at first, my vagina. Like the first time you see a fish cut open and you discover this other bloody complex world inside, right under the skin. It was so raw, so red, so fresh. And the thing that surprised me most was all the layers. Layers inside layers, opening into more layers. My vagina amazed me. I couldn’t speak when it came my turn in the workshop. I was speechless. I had awakened to what the woman who ran the workshop called “vaginal wonder.” I just wanted to lie there on my mat, my legs spread, examining my vagina forever. It was better than theGrand Canyon, ancient and full of grace. It had the innocence and freshness of a proper English garden. It was funny, very funny. It made me laugh. It could hide and seek, open and close. It was a mouth. It was the morning.
(…)
The woman who ran the workshop laughed. She calmly stroked my forehead. She told me my clitoris was not something I could lose. It was me, the essence of me. It was both the doorbell to my house and the house itself. I didn’t have to find it. I had to be it. Be it. Be my clitoris. Be my clitoris. I lay back and closed my eyes. I put the mirror down. I watched myself float above myself. I watched as I slowly began to approach myself and reenter. I felt like an astronaut reentering the atmosphere of the earth. It was very quiet, this reentry: quiet and gentle. I bounced and landed, landed and bounced. I came into my own muscles and blood and cells and then I just slid into my vagina. It was suddenly easy and I fit. I was all warm and pulsing and ready and young and alive. And then, without looking, with my eyes still closed, I put my finger on what had suddenly become me. There was a little quivering at first, which urged me to stay. Then the quivering became a quake, an eruption, the layers dividing and subdividing. The quaking broke open into an ancient horizon of light and silence, which opened onto a plane of music and colors and innocence and longing, and I felt connection, calling connection as I lay there thrashing about on my little
blue mat. My vagina is a shell, a tulip, and a destiny. I am arriving as I am beginning to leave. My vagina, my vagina, me."



obrigado pela sugestão, Afrika :-)