sábado, 28 de março de 2009

por que é que uma pessoa corajosa "tem tomates"?

Quando os admiradores da Sra. Tatcher afirmavam que ela “tinha tomates”, não queriam dizer certamente que a dama de ferro era um travesti, mas antes que tinha “carácter”. “Pulso”. Por outras palavras, os testículos eram erguidos à categoria de símbolo. (...)
Contudo, esta relação entre coragem e testículos não é evidente a priori. Talvez os homens tenham reparado que, em situação de fraqueza devida ao frio ou ao medo, os testículos encolhem e se recolhem no corpo, a ponto de ser muito difícil castrar coelhos, porque os seus testículos desaparecem quando se tenta agarrá-los.

É verdade que a castração é conhecida desde a Antiguidade. Não sei quem foi o primeiro que teve a ideia de cortar os tomates de um touro ou de um homem. É possível que a descoberta tenha ocorrido por acaso, na sequência de um acidente que teria castrado a vitima. Seja como for, descobriu-se que um animal sem testículos era mais dócil, desenvolvia mais gordura e interessava-se menos pelo deboche, o que era prático, tanto para os animais de quinta como para os guardas de haréns.

Como é evidente, a endocrinologia não era conhecida. Serão necessários muitos séculos até a biologia demonstrar que os testículos produzem uma hormona masculina, a testosterona. Esta hormona actua sobre o corpo, contribuindo para produzir músculo, mas também sobre o cérebro e o pénis, por intermédio da sua acção na libido e na erecção. Estes efeitos são visíveis nos homens submetidos a castração por razões médicas: a libido diminui bruscamente devido à quebra da testosterona. Não obstante, este facto não permite deduzir a existência de uma relação simples entre a testosterona e a sexualidade.

É conhecido, por exemplo, o efeito de retroalimentação no circuito da testosterona: a testosterona aumenta a actividade sexual, mas também aumenta graças a esta última (os homens segregam mais testosterona enquanto vêem um filme porno). É por isso que é difícil dizer se os engatatões vão para a cama mais vezes porque têm mais testosterona, ou se têm mais testosterona porque vão para a cama mais vezes.

Além disso, a testosterona não é uma espécie de afrodisíaco que se possa ingurgitar em injecções ou em cápsulas para melhorar o desempenho. É necessário um mínimo para se ter uma libido honesta, mas esta não aumenta linearmente com a testosterona. Ao invés, a castração não suprime forçosamente toda a vida sexual. Por exemplo, se um animal já tinha copulado antes de ser operado, pode continuar a fazê-lo depois (sem testosteona, a erecção será menos fácil, mas não é totalmente impossível).

Regressemos, porém, a essa famosa força de carácter, pois é dela que se trata quando se utiliza a expressão “ter tomates”. A observação de animais sugere que há alguma verdade nisso. Sabe-se que, nos grupos de primatas, os machos dominantes segregam muitas vezes mais testosterona. Mas é difícil dizer que se possuem mais por serem dominantes, ou se são dominantes porque possuem mais. Na verdade, é por intermédio da sexualidade que a hormona actua. O mais bem dotado em testosterona não é forçosamente o macho dominante, mas é o mais activo no plano sexual. Embora um macho dominante posa ter mais hipóteses de segregar testosterona porque tem mais fêmeas à sua disposição, as fêmeas podem preferir um subalterno e, nesse caso, ainda que ele continue a ser dominante, a sua testosterona diminui.

Nos seres humanos, é ainda mais difícil relacionar hormonas e comportamento. Algumas investigações mostram que a testosterona induz uma certa forma de agressividade: aumentaria, por exemplo, imediatamente antes de uma competição desportiva. Mas não se deve perspectivar esse tipo de relação sem se ter em consideração factores sociais e culturais. E aí, as hormonas tornam-se secundárias. Por exemplo, os delinquentes, mesmo os sexuais, não segregam mais testosterona que qualquer outra pessoa, e daí a ineficácia de uma castração terapêutica. Os suíços castraram cerca de 10 000 delinquentes no século XX, e, tanto nos Estados Unidos como em certos países da Europa do norte, recorre-se amplamente à castração química de criminosos sexuais, apesar de a supressão da testosterona nunca ter abolido as pulsões que lhes são imputadas.

Portanto, se fizermos um balanço, quando dizemos que um indivíduo “tem tomates” referindo-se ao seu carácter, cometemos pelo menos três erros. O primeiro consiste em fazer da coragem uma característia relacionada com a testosterona. É verdade que esta aumenta a libido e, talvez, em certa medida, a agressividade, mas nada tem que ver com o carácter. Um indivíduo pode ser corajoso sem ser megalómano ou maníaco do sexo, e, inversamente, o cobarde agressivo e libidinoso é uma realidade.

Mesmo que a testosterona aumentasse a coragem, o segundo erro esta em transformá-lo numa característica exclusivamente masculina. Com efeito, as mulheres também produzem testosterona nos seus ovários – em menor quantidade que os homens nos seus testículos, mas produzem. Na mulher, de resto, é a subida da testosterona que aumenta o desejo quando a ovulação se aproxima.

E, em terceiro lugar, o poder da testosterona deve ser relativizado. Como demonstram algumas investigações, a testosterona, para actuar, transforma-se, em certas situações, numa hormona feminina – o estradiol. Esta transformação faz-se por intermédio de uma enzima chamada aromatase, presente no cérebro e também nas gorduras. Em suma, a hormona masculina transforma-se em hormona feminina para actuar! E o pior é o que se passa nos testículos: as células de Sertoli, que alimentam os espermatozóides no fundo dos testículos, funcionam apenas graças a estrogénios. Estão a ouvir, machões? Nas profundezas dos vossos tomates, quem se esfalfa a trabalhar são as hormonas femininas!

Acabámos de apresentar boas razões para repor no seu devido lugar o velho mito que situa as virtudes masculinas nos penduricalhos. Homens e mulheres possuem hormonas masculinas e femininas simultaneamente, e é tempo de acabar com esse mito de uma dualidade psicológica baseada nas hormonas. O mito gerou muitos absurdos, como o de alimentar a ideia de uma “força de carácter” instalada nos testículos. Apesar da sua popularidade, a expressão “ter tomates” é machista e infundada.

ilustração: Charb

segunda-feira, 23 de março de 2009

Soneto Anal

"Ora deixe-me, então... faz-se criança?
Olhe que eu grito, pela mãe chamando!"
Pois grite (então lhe digo, amarrotando
Saiote, que em baixá-lo irada cansa):

Na quente luta lhe desgrenho a trança
A anágua lhe levanto, e fumegando,
As estreitadas bimbas separando
Lhe arrimo o caralhão, que não se amansa:

Tanto a ser gíria, não gritava a bela:
Que a cada grito se escorvava a porra,
Fazendo-lhe do cu saltante pela!

— Há de pagar-me as mangações de borra,
Basta de cono, ponha o sesso à vela,
Que nele ir quero visitar Gomorra.


Manuel Maria Barbosa du Bocage

quinta-feira, 19 de março de 2009

quinta-feira, 12 de março de 2009

suavidade agridoce

Estava aqui a ver isto:

e isto:

e isto...


...e a lembrar-me disto. Vou ter de terminar de contar esta história...

Foi uma bela surpresa, oh se foi!

segunda-feira, 9 de março de 2009

domingo, 8 de março de 2009

Coito Interrompido

Escrever poesia é algo inato para algumas pessoas, eu não sou de facto poeta, mas ele que assim escreve, é indubitavelmente único e provocador. Muita poesia é escrita, muita poesia é copiada dos livros para a internet e para os blogues, mas ele tem sido esquecido, logo ele que era apreciador tanto nas palavras como nos actos, de uma boa provocação! Esta é a minha homenagem!

"Mas se o pai acordar!..." (Márcia dizia
A mim, que à meia-noite a trombicava)
"Hoje não..." (continua, mas deixava
Levantar o saiote, e não queria!)
Sempre em pé a dizer: "Então, avia..." Soneto do coito interrompido2
Sesso à parede, a porra me agüentava:
Uma coisa notei, que me arreitava,
Era o calçado pé, que então rangia:
Vim-me, e assentado num degrau da escada,
Dando alimpa ao caralho, e mais à greta
Nos preparamos para mais porrada:
Por variar, nas mãos meti-lhe a teta;
Tosse o pai, foge a filha... Oh vida errada!
Lá me ficou em meio uma punheta!

Manuel Maria Barbosa du Bocage - Soneto Coito interrompido

sexta-feira, 6 de março de 2009

quinta-feira, 5 de março de 2009

TEMET NOSCE: esta coisa de conhecer pessoas na net - parte 4



continuação daqui


Às tantas fui eu que me esqueci de me proteger. Como é que uma pessoa se protege contra a paixão? As sensações atingem-me com uma violência tremenda, sinto tudo à flor da pele. Não tenho casca, tenho os miolos à mostra. Luto contra a obsessão, e até agora tenho conseguido vencer. Não deixo que a minha loucura se sobreponha ao meu dever. Deixo a razão falar mais alto e trazer-me de volta à terra.

Porquê que é suposto amar sexualmente apenas uma pessoa de cada vez? Porquê que a sociedade ocidental impõe legal e religiosamente essa exclusividade? Não estou a dizer que seja uma coisa fácil de gerir, mas se as pessoas conseguem ter vários filhos e dividir e multiplicar o amor por todos eles, não será possível fazê-lo também no amor sexual?

Talvez quando o tesão passar nos possamos encontrar fisicamente. Talvez o desejo nunca passe, fique apenas adormecido, à espera de uma pequena chama, uma faísca, para inflamar e incendiar tudo. É preciso ter muito cuidado com o que se deseja e atentar nas consequências. Talvez não seja a concretização do desejo que importa, mas apenas o desejo em si, o que fazemos com ele, o que nos faz mover.

Encontrei-a, ela é um precioso tesouro para mim que eu vou guardar com todo o cuidado num cofre muito especial. Amo-a. É certo que de uma forma completamente diferente do amor que sinto pelo meu homem. Mas não é menos intenso, menos válido. Ela está presente em cada fôlego, cada batida do meu coração. Vou tê-la para sempre tatuada na minha memória.

Mas o que vem a ser isso de conhecer alguém?
Não tenho dúvidas de que conheço muito bem uma parte dela. Mas será que conhecer presencialmente é conhecer melhor? Será que alguma vez conseguimos conhecer completamente alguém? Será que nos conhecemos verdadeiramente a nós próprios?


animação sobre ilustrações do cão sarnento

quarta-feira, 4 de março de 2009

TEMET NOSCE: esta coisa de conhecer pessoas na net - parte 3

continuação daqui

É claro que eu e o meu amor já nos tínhamos contorcido os dois no cinema a ver a Angelina Jolie, mas isso é normal, não? Quem é que não a acha tesuda a manejar armas? Quem é que não a deseja? Mas isto é diferente. Não é simples desejo. É paixão. E aqui as coisas começam a complicar-se.

Acordo a meio da noite com um tesão absurdo e vejo o meu amor a dormir pacificamente. O cheiro quente de macho inconsciente penetra-me no cérebro e faz-me ferver o sangue. Começo a chupá-lo lentamente, a entesá-lo. Ele geme, protesta ao princípio, mas depois deixa-me acalmar um pouco o desejo, fazer dele o bombeiro de serviço. Mas eu quero mais, quero-a a ela também. Apetece-me espetá-la com força, entrar dentro dela bem fundo, fazê-la estremecer de prazer. A única forma que tenho para o fazer é através das palavras escritas e empenho-me para o conseguir.

Não é a primeira vez que isto me acontece e não será com certeza a última, se bem que é sempre diferente. É a minha natureza curiosa que me move. Sei que a curiosidade matou o gato, mas tal como o gato, eu acho que também tenho nove vidas. E ainda vou só na primeira…

Ganho coragem e pergunto se ela nos quer conhecer pessoalmente. Sim, porque eu seria incapaz de ir ter com ela sem o meu amor. Estou consciente do risco que isso implica. Sei que pode ser uma desilusão, que pode não existir química entre nós fisicamente, embora me pareça difícil isso acontecer. Por outro lado, ela pode também superar as minhas expectativas, embora eu ache difícil bater o optimismo da minha imaginação, o que seria ainda mais complicado de gerir.
Mas ela corta-me as asas num mail com três parágrafos (demasiado texto para o estilo dela) explicando-me os motivos pelos quais recusa o convite. Eu compreendo e respeito a decisão dela, mas não desisto da ideia.

Digo-lhe que gostava de conhecer a namorada dela. Que deve ser lindíssima e muito especial porque é a pessoa que ela escolheu. Gostava de lhe dar prazer também.
Penso em nós os quatro, no interessante que poderia ser, mas ela corta-me mais uma vez as asas da minha imaginação. Percebo que elas são uma da outra, sem lugar para mais ninguém. Para ela, aquilo que existe entre nós é qualquer coisa que roça o proibido, um segredo só dela que não partilha com mais ninguém. Eu só tenho de respeitar isso. Mas não me sinto bem se não falar do que se passa com o meu amor. Ele é ciumento, mas consegue dominar o ciúme e compreender-me. Também tem os seus escapes de vez em quando, os dele mais físicos, os meus mais mentais.

Elas são uma. Uma família. Pensam em ter filhos um dia. Eu também penso nisso, mas sei que vai ser difícil, e não é por isso que não deixo de ser familiar do meu amor.

Às vezes penso, se a mulher dela tivesse conversas das nossas com outra mulher, ou melhor ainda, com um homem, como é que ela iria reagir? Tenho de lhe perguntar isso, mas tenho impressão de que não iria achar piada. Tal como o meu amor não aprecia muito estes meus devaneios, mas tolera. Eu também gostava que ele pudesse passar sem os dele, mas compreendo a necessidade de novidade. Preocupa-me porque eu acho que ele se expõe muito. Mas sei que ele se protege e minimiza os riscos e isso tranquiliza-me. (Ele acha que eu não dou por isso, mas sei perfeitamente quando ele esteve com outra pessoa. Mas prefere pensar que eu não me apercebo, apesar de eu já lhe ter dito que não me importo. Já sugeri um trio, mas ele não me levou a sério.)

Estou sempre a chamá-lo de “meu” amor, mas eu sei que na verdade, ele não é meu. Peço-o por vezes emprestado a ele próprio, por vezes tenho-o de facto, possuo-o, tal como eu sou dele e me deixo possuir por ele. Tenho de o deixar ser dele, porque só assim tenho a certeza de que está comigo porque quer, porque só se pode escolher em liberdade. Mas ele completa-me, somos o encaixe perfeito e custar-me-ia muito viver sem ele.

ilustração: cão sarnento
continua e termina aqui

terça-feira, 3 de março de 2009

TEMET NOSCE: esta coisa de conhecer pessoas na net - parte 2

continuação daqui

Ela foi extremamente simpática comigo, guardo religiosamente os e-mails que trocamos e releio-os sempre que me apetece. Incentivou-me e inspirou-me a escrever, teclamos algumas coisas a quatro mãos que nos dão imenso prazer. Pequenos contos, poesia, jogos de palavras e maluquices que nos passam pela cabeça.

Temos muitas vezes opiniões divergentes, o que nos leva a debates até à exaustão pela noite dentro. Aprendo sempre alguma coisa com ela e por vezes ela consegue fazer-me mudar de opinião, ver as coisas de outra forma.

Fomos construindo a nossa amizade devagar, ao sabor da disponibilidade dela, que entre o trabalho e os estudos não era muita. Eu vibrava cada vez que tinha o privilégio de a ver online e ela metia conversa comigo. Era um enorme prazer, sentia-me nas nuvens.
Tentava manter o contacto enviando e-mails. Inicialmente tímidos, a mandar o barro à parede, a ver até onde poderia ir. Fui sempre provocando um pouco mais, e ela respondia sempre à altura.

Fiz-lhe um retrato escrito de como a vejo: absolutamente maravilhosa. Descrevi a personalidade, especulei sobre o aspecto físico. Ela riu do meu retrato, achou que ficou bastante favorecida.

Ela descreveu ao pormenor como gostaria de me beijar e eu disse-lhe também ao pormenor como gostaria de lhe mimar o sexo, como gostaria de a mimar toda.

Na net as pessoas são todas lindas e entusiasmantes até prova em contrário. É claro que por haver química online, não significa que na realidade ela exista mesmo, mas a imaginação é uma ferramenta poderosa neste jogo, e pode ser perigosa se não a conseguirmos distinguir da realidade.

Trocamos fotos. Ela começa a enviar-me pormenores do corpo que eu adoro e retribuo como posso. Ela gosta e envia mais. Não me envia o rosto, apenas os lábios e os olhos.

Os olhos.
Sei de cor cada detalhe. Perdi a conta às vezes que me vim a olhar para aquela imagem, às tantas já não precisava de olhar e via apenas a gravação que fiz deles na memória.

Eu reconheceria aqueles olhos em qualquer lugar. Às vezes ponho-me a olhar para as pessoas que encontro pelo caminho, penso qual seria a minha reacção se os encontrasse. Jamais me aproximaria, creio que ficaria a observá-la tanto quanto possível, discretamente, sem levantar suspeitas.

Ela pode ser uma grandessíssima mentirosa. Pode até ser um homem, uma figura pública, o Pai Natal. Não faz a mínima diferença quem ela é na realidade. O que interessa é o que a minha imaginação faz como que ela me dá.

Nunca tinha questionado a minha orientação sexual, desde muito cedo se tornou clara e assim permaneceu até ao momento em que ela abalou a minha convicção e eu comecei a não ter tantas certezas e as dúvidas começaram a assaltar-me. Na teoria, sempre fez sentido para mim uma pessoa poder sentir tesão, apaixonar-se, amar, independentemente do sexo da outra pessoa, mas na prática, nunca tinha vivido tal coisa.

ilustração: cão sarnento
continua aqui

segunda-feira, 2 de março de 2009

TEMET NOSCE: esta coisa de conhecer pessoas na net - parte 1

Não é um fim, quando muito é um princípio, ou melhor, um meio. Uma ferramenta. Nem melhor nem pior que outra qualquer, apenas diferente. Estranho será daqui a uns tempos encontrar alguém cujo primeiro contacto não tenho sido feito à distância, através da grande teia.

A net avança a uma velocidade estonteante, não fecha para balanço. Fazem-se e desfazem-se “amizades” num ápice. As relações esfriam como comida aquecida no microondas e as pessoas pura e simplesmente deixam de dar sinal de vida.
Na “vida real” é muito mais difícil descartar alguém. Muitas vezes, somos obrigados a conviver no dia-a-dia com pessoas de quem não gostamos, é difícil fugir a isso quando acontece no trabalho ou no sítio onde se mora. Mas na net, basta um simples click e a pessoa indesejada desaparece definitivamente do mapa. Muitas vezes é por pura indiferença, quando deixa de existir o entusiasmo inicial, é muito mais fácil procurar algo novo do que tentar resgatar o que já existiu.

Mas eu gosto de vaguear pela net, de me perder por becos e vielas, nas grandes avenidas e jardins. Mantenho algumas amizades de anos sustentadas na rede. Acabo sempre por conhecer pessoalmente as pessoas que acho interessantes, mesmo que morem do outro lado do mundo, embora possa demorar anos a fazê-lo. Já tive algumas desilusões, mas a maior parte das vezes, quando encontro alguém pessoalmente com quem já tinha falado bastante, acaba por não ser nenhuma surpresa o que vejo. As pessoas que escolho costumam ser verdadeiras e a net funciona como forma de as encontrar e seleccionar.

Encontrei o blog dela saltitando despreocupadamente de link em link, numa busca incessante por novos rumos.
Foi paixão à primeira leitura.
Prendeu-me logo inevitavelmente. Pelo que diz, pela forma como o diz. Pela originalidade, frescura, objectividade. Pela diversidade, pelo tesão com que escreve sobre os mais variados temas, sempre com a mesma paixão mas com registos diferentes e com uma clareza impressionante.

O blog já tinha algum tempo, mas li-o de uma ponta à outra de uma assentada porque ela não escreve muito, mas o pouco que escreve é de extrema qualidade e fiquei a absorver letra a letra, cada sinal de pontuação, cada parágrafo, a saborear devagar.
Fiquei sem palavras, completamente em êxtase.
Logo eu, que tenho sempre alguma coisa a dizer, mesmo que não me perguntem nada…

Muito antes da imagem, as palavras seduzem com o seu perfume, o seu som, o seu sabor e o seu toque, inebriam quem passa e se deixa prender. Palavras que aquecem e por vezes fervem numa louca ebulição. É preciso ter muito cuidado para não nos queimarmos, o que acaba por deixar marcas bem visíveis na alma.

Claro que eu tinha de entrar em contacto com ela. Decidi enviar-lhe um e-mail.

ilustração: cão sarnento
continua aqui

domingo, 1 de março de 2009

Provocação Gratuita 53

"Há certos passatempos e prazeres ilícitos, que censuramos nos outros, mais por inveja do que por virtude"
Maricá , Marquês