terça-feira, 22 de novembro de 2011

provocação gratuita 83

"If you believe that you can use sex to shore up your fragile
self-esteem by stealing someone else's, we feel sorry for you, because this will never work to build a solid sense of self worth, and you will have to go on stealing more and more and never getting fulfilled."

será por isto que há gente que diz ser "insaciável"?

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

InspirAR-te



[Liga o som]


(Inspira-me… a tua respiração.)

Respirações… lentas, rápidas, pausadas, ofegantes, entrecortadas às vezes mesmo bafejadas, asfixiadas ou suspiradas. Sinto os músculos a contraírem, a contracção do diafragma o relaxamento do abdómen enquanto te oiço o ar a entrar pelas narinas, apercebo-me da pressão nos pulmões que é depois aliviada pela expiração que me acaricia, sinto-lhe o ritmo, a amplitude, a frequência…

Fico sem fôlego a ler-te. Inspirar é fazer entrar o ar, oxigenar todas as células do corpo, alimentar a alma. Insuflar bolas de sabão, dizer ao vento para as soprar e deixar que toques e rebentes a Perfeição. PUF!

ExpirAR-te
Sorvo-te o ar como num beijo selado, oxigeno -me de ti. Respirar é inato, raquidiano, libertação de energia, combustão de moléculas que me percorrem, acto vital que me mantém viva. Respira-me… expira-me, inspira-me, transpira-me.

E se o ar me faltar, insuflas-me os pulmões?

Oxigeno-me em ti. Inspiro nas tuas vírgulas, suspiro nas reticências… expiro no ponto final.

RespirAR-te

Aromas de ares trocados, temperatura que flui á superfície corporal, função vital, metabolismo…. Transpira-se.

Deixo que o ar me invada as narinas e estimule as células olfactivas. Cheiro-te. Guardo a memória desse aroma, no momento único que se repete sempre que o evoco, sinto o teu cheiro.

Prendo-te, liberto-te, prendo-te, liberto-te, prendo-te, liberto-te... Na troca gasosa desse vaivém cíclico, essencial, vital. Desde a expulsão do líquido amniótico, até ao meu último suspiro. Enquanto durar, viverei.

TranspirAR-te
Em gotas salgadas que escorrem através dos poros, arrefece-me quando estiver muito quente. Deixa-me fluir à flor da pele, sentir o arrepio das lufadas de ar fresco.

evaporAR os líquidos que bebes em goles sedentos, num último sopro, suspiros (doces, de claras em castelo com raspa de limão)...

Na pele, aspiro-te o ar transpirado… numa respiração profunda em ritmo de dois tempos, cadenciado… em frequências, de compassos de sopros exalados.
dermatologistested + carpe vitam!

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

NadAR e o Prazer de FlutuAR na ÁGUA



Eu tinha medo, muito medo no início. Custava-me a crer que tivesse vindo do líquido, a água afligia-me quando chegava ao peito. Mas fascinava-me a imensidão salgada, o cheiro da maresia, e queria mergulhar sem medo, de olhos abertos. Mariquinhas… ano após ano, tentei e melhorei. Ao meu ritmo, a conversar com as ondas. O que é uma onda senão espírito do mar, arrepio de alegria? (Sim, eu sei que existem ondas zangadas, o melhor é não nos metermos com essas. O Mar é para admirar e respeitar.)
Decidi que havia de ser peixe e esforcei-me para controlar a respiração e nadar na água doce (que de doce não tem nada, mais sabor insípido e um cheiro intenso a cloro que me faz sempre espirrar. Gosto muito mais do tempero do mar). Descobri então que não tenho vocação para peixe, nem guelra, nem elegância, mas consigo movimentar-me de um lado para o outro, dentro de água. Longe de possuir a graciosidade de um cisne ou a sensualidade de uma bailarina aquática, sou Foca (arraçada de lontra) trapalhona e brincalhona, e duvido que venha a conseguir agilidade de Golfinho, muito menos incisividade de Tubarão. Mas isso não me preocupa nem me impede de tentar aprender a fazer melhor, com mais eficácia, aprimorar a técnica, aumentar a resistência e diminuir o atrito. Treino, aprendo a respirar para me deslocar melhor e com menos esforço no meio aquático. Fora de água é tão fácil, tão instintivo que não damos importância nenhuma ao que é vital – usamos o Ar e nem lhe agradecemos a existência. Mas eu descobri a importância de Bem-Respirar com a Água, gerir a Inspiração e a Expiração.
Ó Ar, agradeço a tua existência, por me permitires respirar! Não sei viver sem ti, nem um minuto consigo passar, ó Ar!
Admiro toda a leveza que o ambiente líquido permite, uma reinterpretação da gravidade, da realidade. Os sentidos submersos têm outras prioridades, reina o tato em detrimento do olfato; a água anula o gosto, muda a visão e deturpa a audição. Admiro a natação sincronizada, os saltos perfeitos para a imensidão líquida e embora esteja a milhões de léguas submarinas, lá vou tentando aproximar-me dessa Beleza. Definitivamente, acho muito mais fácil e rápido nadar de costas, mas isso é provavelmente porque ainda não me dediquei completamente à mariposa. Desenrasco-me de bruços, consigo coordenar instintivamente a respiração, maximizar os movimentos de braços e as pernas, como um sapo, tudo flui naturalmente, agora crawl… que raio que mania de respirar debaixo do sovaco é aquela? Aquilo tem alguma coisa de instintivo? Eu bem tento, respirar só para um lado, respirar para os dois alternadamente, mas acabo por inspirar quando não devia e lá me entra a água toda pelo nariz e pela boca, engasgo-me e perco completamente o ritmo. E “crawl”… que espécie de aberração é essa? Eu não quero “rastejar” na água, quero deslizar! (Mas pronto, estou a tentar…)
Gosto de ficar a flutuar, gosto da Paz que isso me dá. Na água doce clorificada é mais difícil manter-me a flutuar sem me movimentar, mas tento ficar o mais imóvel possível, a ouvir apenas a respiração e a água a ceder sob o meu peso, a vir mais ao de cima quando inspiro – é giro – encho os pulmões de ar e mergulho, a libertar milhares de bolhas a cada expiração!
Na água salgada, quanto mais sal tiver, mais fácil se flutua. Dizem que há águas tão salgadas que tornam impossível que alguém se afogue nelas, mas eu tenho as minhas dúvidas, porque basta o pânico e até um alguidar pode ser perigoso.
Mas a água já não me mete medo. Venço-a ou deixo-me ir com ela quando me canso (o corpo é mais leve dentro de água, mas o movimento tem de vencer o atrito e uma braçada ou uma pernada lá dentro, custa bem mais que vencer o ar cá fora. Com calma, a respirar. Descontrai, relaxa, regula o sono pelo cansaço. Hei-de conseguir “rastejar” como deve ser. Hei-de conseguir dominar a técnica e continuar a respeitar e admirar a Água, tão elementar e essencial à Vida quanto o Ar.

Água viva fecundante que chove na Terra
descida dos Céus, mata-me a sede
e lava-me a alma!

Alimenta as flores com o teu orvalho
do cimo da montanha nascente
a rasgar o leito dos Rios
para se fundir com o Mar!
E em brumas de espuma salgada,
sobe de novo às nuvens até evaporar!
Bem-hajas, ó Água!


música: Tchaikovsky, O Lago dos Cisnes (excerto)

foto: Getty Images (leão marinho do Alasca)

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