quinta-feira, 24 de julho de 2014

o Pazer de Meditar

foto: Supconnect

«Quando a mente sabe, chamamos a isso conhecimento.
Quando o coração sabe, chamamos a isso amor.
E quando o ser sabe, chamamos a isso meditação.»
Osho

Para mim, meditar é encontrar Paz cá dentro, por mais tumultuoso que possa estar lá fora. Fazer pausa no mundo exterior para tocar melhor o interior. 

Do latim “meditare”, que significa “voltar para o centro”, ponderar ou cultivar. Gosto bastante desta ideia de cultivo de conceitos, muitas vezes quando sinto falta de algo, imagino-me a semeá-lo. Seja paciência, energia, criatividade, qualquer coisa de que precise. Lavro a terra fértil da minha mente e lanço a semente. Depois tento regar, adubar amiúde e colher. Isto ajuda-me a interiorizar os conceitos e a desenvolver competências.

A meditação é uma prática ancestral, existem registos milenares no Oriente (China e Índia) mas é provável que muito antes, desde que o ser humano tem consciência, que tem a capacidade de alterar o seu estado através da meditação. Hoje em dia é praticada por todo o globo, transversal a culturas e religiões.
Experimentei inicialmente a meditação através da ginástica (no final das aulas, fazíamos meditação e massagens que ajudavam bastante no relaxamento mental e muscular) e de um workshop sobre sonos e sonhos (parte deste curso consistia em adormecer utilizando uma técnica em que nos mantínhamos imóveis e percorríamos mentalmente vários pontos do corpo. Algumas pessoas que ressonavam diziam que não tinham dormido nada). Achava extremamente difícil manter o corpo imóvel, as comichões apareciam sempre nas alturas e sítios mais impróprios, as pernas não paravam quietas, não sabia o que fazer com a saliva, tudo atrapalhava as minhas tentativas de imobilidade e concentração. Com treino, fui conseguindo o relaxamento necessário, controlando a respiração, sentindo-me confortável, coisa essencial à prática meditativa.
Percebi que não é preciso sentar na posição de lótus, nem sequer é preciso sentar, nem permanecer imóvel. A imobilidade é uma ilusão, se tivermos em conta que a Terra se desloca em órbita, à estonteante velocidade média de 108 mil km/h. O que é preciso é concentração, encontrar conforto numa posição qualquer, até pode ser a caminhar ou a andar de bicicleta, ou a nadar. Uma das minhas posições preferidas é flutuar na água. Depois de umas vigorosas braçadas em que não me concentro em mais nada a não ser nos movimentos e na respiração, sabe mesmo bem virar de costas, fechar os olhos e deslizar ou ficar simplesmente a boiar na água, de olhos fechados, a sentir o sol nas pálpebras. Na piscina de água doce é mais difícil flutuar sem o sal, mas abordo a borda como se fosse sair e elevo as pernas, fazendo-as passar entre os braços, erguendo os pés e pousando as pernas até aos joelhos, fazendo um ângulo de 90º com as coxas, que fazem outro ângulo de 90º com o tronco, a flutuar na água. Eu faço um desenho:



Depois mergulhar de costas devagar e ver a luz filtrada através da água... Poder fazê-lo sem roupa, a fruir um pôr-do-sol ou numa noite quente, a olhar as estrelas, fechar os olhos e continuar a vê-las… ficar assim, uma ilha flutuante, é um regresso ao útero, com ligação direta ao sentir do universo!

“Deves meditar vinte minutos por dia. A não ser que não possas. Nesse caso, deves meditar uma hora”
provérbio zen
Não ter tempo não é desculpa, a meditação pode ser feita ao acordar ou ao adormecer, na cama, no duche, no autocarro. O que não falta são situações e sítios onde se pode fazer, basta usar um pouco de criatividade.
Existem vários tipos de meditação e estou longe de os ter experimentado todos. Também não quero estar aqui a explicar as diferenças, antes convidar quem quiser a explorar o que lhe interessar. A informação está disponível, existem grupos e organizações por todo o lado, basta querer e procurar. Para tal, deixo algumas ligações no final. Há muitos sítios e aplicações de telemóvel gratuitas onde é possível fazer meditação guiada, com música de fundo e temporizador que facilitam bastante a tarefa. A música, normalmente com sons da natureza, ajuda bastante a criar a atmosfera necessária.
Do que já experimentei, o que mais gostei foi sem dúvida de Mindfullness. Um conceito que abrange a meditação, mas que vai para além disso. Pode ser traduzido por “atenção plena”, sentir o aqui e agora focado, com todos os sentidos, processar a informação que chega do exterior e do próprio corpo, sem julgar, apenas observar e contemplar, em comunhão com a Natureza.
Com concentração e contemplação, dou por mim a apreciar e valorizar coisas nas quais não reparava por as dar como garantidas. O ar que respiro, a luz, a comida, a paisagem… tudo coisas banais que me sabem extraordinariamente bem e que eu saboreio com imenso apetite. A meditação apura os sentidos: o cheiro, o toque, o som, o paladar, a visão, tudo parece mais definido e intenso, consigo focar melhor os estímulos exteriores que interessam para o meu equilíbrio.
Os benefícios são muitos e estão amplamente estudados e documentados: baixa o ritmo cardíaco e a pressão sanguínea, reforça o sistema imunológico, diminui o stress, aumenta a concentração, a resiliência e a inteligência emocional. é indicada para todas as idades, incluindo crianças. "Se ensinássemos meditação a todas as crianças de 8 anos, eliminaríamos a violência em uma geração.", diz o Dalai Lama. Não custa tentar!
Tenho tido algumas experiências positivas de meditação para alívio da dor. Não deixa de doer, nem substitui todos os medicamentos, mas a percepção com que fico da dor é diferente. Existem estudos que demonstram que a meditação muda a forma como o cérebro processa a dor.
Gosto muito de me sentar numa cadeira de pano suspensa, cruzar as pernas e ficar naquele casulo, num suave baloiçar que parece flutuar, a ouvir os pássaros chilrear uma melodia que soa sempre bem, independentemente da quantidade de intervenientes alados, conseguem estar sempre afinados e em sintonia.
A parte mais difícil para mim é o “esvaziar da mente”. Parece-me impossível estar consciente e deixar de pensar, ou melhor, deixar de divagar pelos pensamentos. É-me impossível não pensar, por isso, foco o pensamento concentro-me na respiração, na pulsação, no sentir do corpo e quando começo a divagar (porque acabo sempre por fazê-lo) noto simplesmente que isso está a acontecer e trago-me de volta, sem stress. Por vezes consigo sentir o corpo sem peso, como se pudesse sair dele e voar por aí, desincorporar-me. E é uma sensação bastante agradável.
Estou ainda a aflorar esta forma de estar e sentir, mas não deixo de me fascinar com os resultados. A prática de meditação regular, aliada ao exercício físico, acalma-me, faz-me olhar para as minhas inquietações noutra perspetiva vista de cima, e daqui parecem mais pequenas e fáceis de resolver e controlar.
Convido-te a experimentar!




quinta-feira, 3 de julho de 2014

o Prazer de Caminhar!

Quero partilhar contigo o meu entusiasmo pela caminhada. Nem sempre gosto de andar, especialmente se não tiver calçado adequado à distância a percorrer e detesto fazê-lo sob pressão para chegar mais depressa. Mas descobrir novos caminhos caminhando está a ser um enorme prazer. Se tiver companhia (uma pessoa, um cão), tanto melhor, se não tiver, um leitor de música e uns auscultadores também servem. Gosto de conversar enquanto caminho, de levar o cão e soltá-lo nos trilhos ou na praia para correr à vontade. Dá gozo ver como aproveita essa liberdade: corre como se não houvesse amanhã e depois volta e fica parado de língua de fora, à espera da companhia para depois continuar. Por novos caminhos ou já conhecidos, porque o mesmo percurso nunca é igual dependendo da hora do dia e da estação do ano, caminhar permite desfrutar da paisagem a um ritmo moderado, sentir a viagem com todos os sentidos.

Na minha zona existem uma série de percursos pedestres devidamente mapeados e assinalados que tenho vindo a percorrer. Aliás, acontece um pouco por todo o país. Passam por locais de interesse histórico, arribas de larga beleza que permitem fruir paisagens junto ao mar, montes e vales de vinhedos, campos de trigo e pomares; florestas frescas de verdes luxuriantes alimentadas por cursos de água que escorrem melodias de calma ao humedecer da terra; simples flores silvestres que pincelam a paisagem de cores vibrantes… É curioso como se descobrem pormenores, pequenos recantos - tantos! - plenos de encantos... Participo também em caminhadas organizadas por grupos que partilham deste prazer: já contornei rios verdes, lagoas azuis e barragens castanhas; fui ao rabisco da fruta entre pomares e quintas, segui a rota das vinhas no S. Martinho que terminou numa exposição de pintura e magusto numa adega; fiz o percurso de batalhas épicas, revivi a História; vi o sol nascer na praia, a clarear devagar, numa indecisão de lusco-fusco que mesmo depois de iluminar o céu, demora-se a surgir no horizonte. As nuvens pintam o céu com a luz alaranjada do acordar do sol que se levanta, num espreguiçar lento de raios de luz e calor, cada vez menos oblíquos. Como sabe bem sentir a areia molhada debaixo dos pés e refrescá-los na beira-mar!; Vi moinhos velhos e novoscom 360º de paisagens do mar à montanha. Descubro trilhos e arribas de locais distantes e outros bem perto que desconhecia, vejo os caminhos que já conheço de outros ângulos, caminho regularmente na cidade à noite, sempre por percursos diferentes, com centenas de caminhantes, um mar de gente que invade as ruas e faz parar o trânsito, para algum espanto dos moradores, condutores e outros transeuntes.

Caminhar é um desporto barato, bom calçado, roupa confortável, uma garrafa de água e eventualmente alguma coisa para comer se a caminhada for mais longa, é quanto basta. Por vezes nem isso é preciso, se for na relva ou na praia. “Só somos felizes quando já não sentimos os sapatos nos pés.” Ou quando andamos descalços, acrescento. Para desfrutar da Natureza não é preciso pagar mensalidade nem equipamentos dispendiosos, mesmo as caminhadas organizadas costumam ser gratuitas ou então o valor da inscrição é para ajudar alguma causa relevante.

Nem sempre está bom tempo para a prática, é verdade, e de Inverno não apetece tanto sair de casa e cortar o frio. Já fiz 12 km debaixo de chuva e por mais agradável que fosse a paisagem, tinha de olhar mais para onde punha os pés para não escorregar na lama. Mas é sempre uma aventura. E como sabe bem ter um miminho doce à espera no final e vestir roupa seca! Ironia das ironias, a chuva a parar e o sol a espreitar uns minutos depois… caminhar é chamar o bom tempo!

Não gosto de correr, fico sem fôlego rapidamente, mesmo que seja uma corrida moderada, mas não me importo de subir e descer pelos trilhos mais íngremes, devagar, a apreciar a paisagem, até chegar ao topo do monte e ganhar como prémio uma paisagem de cortar a respiração! A caminhada é um exercício de baixo impacto nas articulações, pode ser praticada por pessoas de todas as idades, contribui para a manutenção geral do corpo, melhora a circulação e a respiração, combate doenças cárdio-vasculares, osteoporose, depressão, diabetes, ajuda a regular o peso, o sono e o apetite, aumenta a sensação de bem-estar físico e mental.

Caminhar ajuda-me a pensar melhor. Existe uma relação entre o movimento do corpo e da mente que está comprovada cientificamente. Conhecer sítios diferentes ativa-me a criatividade, gosto de fotografar pormenores dos lugares por onde passo para mais tarde recordar-me e inspirar-me.

Por tudo isto, acredita, vale a pena caminhar e fruir uma incrível sensação de bem-estar, paz e liberdade em comunhão com a Natureza!

 
foto cabeçalho: JM [pormenor] | fotos rodapé: carpe vitam, JM, Trilhos do Mar e CMTV