quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Entre Flores




Pingámos, rebolámos e provámo-nos,
entre flores.

Amanhecemos gotas de orvalho,
nossos corpos reacendidos.

Germinámos a preto a branco ou a cores,
antes assim que vendidos.

Pisada seiva entardecida,
doce futuro feito ferida,
o teu sangue quente remanescente
sulcando o chão vazando vida.

Lambemo-nos entre flores.

Sorvemos de trago rumores,
resplandecemos a nossa utilidade ejaculante.

Chovemo-nos em redondas gotas de humores,
apodrecemos no calor sufocante,
a minha, a tua propriedade de amante.

E restámos.

Um canto varrido de dores,
secas palhas de suores.

Tudo isto,
entre flores.


Texto original publicado em http://nao-lugar-nalgum-lado.blogspot.com/

4 comentários:

Anónimo disse...

Será caso para dizer, temos de volta a primavera?:)

carpe vitam! disse...

sim, porque podemos transformar o mais tenebroso dos invernos assim, entre flores, numa eterna e perfumada primavera...
gosto de chover contigo!

SR disse...

A primavera dos corações n tem estação nem tempo! Eis um poema q reflecte isso:

Charneca em Flor

Enche o meu peito, num encanto mago,
O frémito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...

Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!

E, nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu bruel,
E já não sou, Amor, Soror Saudade...

Olhos a arder em êxtases de amor,
Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!

Florbela Espanca

arribro disse...

mais este aquele o outro e toda a gente
Amar e não amar ninguém
Florbela