Pingámos, rebolámos e provámo-nos,
entre flores.
Amanhecemos gotas de orvalho,
nossos corpos reacendidos.
Germinámos a preto a branco ou a cores,
antes assim que vendidos.
Pisada seiva entardecida,
doce futuro feito ferida,
o teu sangue quente remanescente
sulcando o chão vazando vida.
Lambemo-nos entre flores.
Sorvemos de trago rumores,
resplandecemos a nossa utilidade ejaculante.
Chovemo-nos em redondas gotas de humores,
apodrecemos no calor sufocante,
a minha, a tua propriedade de amante.
E restámos.
Um canto varrido de dores,
secas palhas de suores.
Tudo isto,
entre flores.
Texto original publicado em http://nao-lugar-nalgum-lado.blogspot.com/
4 comentários:
Será caso para dizer, temos de volta a primavera?:)
sim, porque podemos transformar o mais tenebroso dos invernos assim, entre flores, numa eterna e perfumada primavera...
gosto de chover contigo!
A primavera dos corações n tem estação nem tempo! Eis um poema q reflecte isso:
Charneca em Flor
Enche o meu peito, num encanto mago,
O frémito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...
Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!
E, nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu bruel,
E já não sou, Amor, Soror Saudade...
Olhos a arder em êxtases de amor,
Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!
Florbela Espanca
mais este aquele o outro e toda a gente
Amar e não amar ninguém
Florbela
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