quinta-feira, 5 de março de 2009

TEMET NOSCE: esta coisa de conhecer pessoas na net - parte 4



continuação daqui


Às tantas fui eu que me esqueci de me proteger. Como é que uma pessoa se protege contra a paixão? As sensações atingem-me com uma violência tremenda, sinto tudo à flor da pele. Não tenho casca, tenho os miolos à mostra. Luto contra a obsessão, e até agora tenho conseguido vencer. Não deixo que a minha loucura se sobreponha ao meu dever. Deixo a razão falar mais alto e trazer-me de volta à terra.

Porquê que é suposto amar sexualmente apenas uma pessoa de cada vez? Porquê que a sociedade ocidental impõe legal e religiosamente essa exclusividade? Não estou a dizer que seja uma coisa fácil de gerir, mas se as pessoas conseguem ter vários filhos e dividir e multiplicar o amor por todos eles, não será possível fazê-lo também no amor sexual?

Talvez quando o tesão passar nos possamos encontrar fisicamente. Talvez o desejo nunca passe, fique apenas adormecido, à espera de uma pequena chama, uma faísca, para inflamar e incendiar tudo. É preciso ter muito cuidado com o que se deseja e atentar nas consequências. Talvez não seja a concretização do desejo que importa, mas apenas o desejo em si, o que fazemos com ele, o que nos faz mover.

Encontrei-a, ela é um precioso tesouro para mim que eu vou guardar com todo o cuidado num cofre muito especial. Amo-a. É certo que de uma forma completamente diferente do amor que sinto pelo meu homem. Mas não é menos intenso, menos válido. Ela está presente em cada fôlego, cada batida do meu coração. Vou tê-la para sempre tatuada na minha memória.

Mas o que vem a ser isso de conhecer alguém?
Não tenho dúvidas de que conheço muito bem uma parte dela. Mas será que conhecer presencialmente é conhecer melhor? Será que alguma vez conseguimos conhecer completamente alguém? Será que nos conhecemos verdadeiramente a nós próprios?


animação sobre ilustrações do cão sarnento

26 comentários:

Bernardo Lupi disse...

Tocaste num ponto fulcral: será que nos conseguimos conhecer a nós próprios de modo verdadeiro? Assim, sendo não temos muito a recear do próximo nem alimentar grandes expectativas em relação a ele.

carpe vitam! disse...

Bernardo, creio que a questão não está na alimentação de expectativas, mas sim a forma como se lida com a realidade.

- Moisés Correia - disse...

Sublimes versos escapam das almas dos poetas
Viajando até ao fundo dos céus como balões …
Suspensos ficam no tecto brilhando poesias inquietas
Reflectindo olhos orvalhados em prados de emoções

Dedicado a todos
Os poetas e poetisas
Deste mundo,
Os que já adormeceram,
E aos outros
Que ainda nem sono têm...

Bem hajam!

Um resto de uma boa semana...

O eterno abraço…

-MANZAS-

Anónimo disse...

PROVOCADORES
Sigo este blog há muito tempo, praticamente desde o início. Deu para notar as evoluções que fizeram neste curto espaço. A pergunta básica é: atingiram o objetivo? ou seja realmente nos provocaram, e vice versa? ( se era isto que almejavam) Quanto à primeira parte digo que sim pois dou o testemunho de quanto fui provocado e excitado, quer através de textos, desenhos, musicas ou mesmo fotos. quanto à recíproca somente vcs podem responder. Sei que de minha parte nunca os provoquei. Verifico agora uma nova guinada no blog. Casos seriados, mais novelescos, mais chamativos, seqüenciais, aceitação de parcerias e de colaboradores. Já não são mais só os treis fundadores, com o advento da Pekenina.
As ilustrações do Cão Sarnento ficaram excelentes, principalmente esta ultima com animação. Quanto aos conteúdos estão excelentes trazendo à baila a discussão do compartilhamento do amor. Esta tese é comum em todas as apresentações do amor, quer filial, maternal, fraternal e principalmente no carnal. O sentimento de propriedade nos é culturalmente muito arraigado dificultando inclusive a aceitação de relacionamento entre pessoas do mesmo sexo, não ajudando em divisões possíveis, que conhecemos mas temos receio em praticá-las, pois surge aí uma coisa chamada ciúmes e o terrível sentimento da traição. Os Swingers já evoluíram e se encontram neste aspecto em outros patamares que as vezes podem nos parecer ridículos.
Em suma, aprovo toda tentativa de mudança e desenvolvimento. Vcs estão de PARABENS. Continuem, pois talento não lhes falta.
Beijos para as meninas e abraços para o QJ

carpe vitam! disse...

gracias Manzas, vejo que temos pelo menos duas paixões em comum, bem-hajas também, bom fim-de-semana!

carpe vitam! disse...

Júlio, precisamente por nos seguires desde o início, os teus comentários são muito fáceis de identificar. Estás sempre presente, sugerindo, opinando, e fá-lo sempre com pertinência e qualidade.
Por isso quero agradecer-te o apoio e o carinho.
É sempre bom saber que conseguimos provocar, é para isso que aqui estamos. É certo que nem sempre conseguimos, cada pessoa é diferente e nem sempre é fácil lá chegar. As provocações sexuais são a forma mais simples, mas não queremos ficar por aí, interessa-me explorar todo o tipo de prazeres, percorrer outros caminhos, experimentar novas abordagens, agitar, criar tempestades!

e sim, não tenhas dúvidas que nos sentimos provocados, mas eu pessoalmente quero mais, e sobretudo melhor. Tento dar mais e melhor na expectativa de receber mais e melhor. Se não acontecer, paciência, isso não me fará desistir porque tal como o tema desta história, vou aprendendo sempre no processo, vou conhecendo-me melhor e conhecendo pessoas fantásticas.

Fica aqui renovado o convite à participação, sei que não gostas de escrever, mas podes sempre fazê-lo com imagens, vídeos, sons, qualquer tipo de meio que seja reproduzível aqui.

Já sabes que estamos sempre receptivos a todas as sugestões de qualidade que queiras propôr. Gracias!

Anónimo disse...

Não gosto de novelas.

carpe vitam! disse...

Somos dois ;)

Darkinha disse...

Passar da imaginaçao para a realidade é sempre um grande dilema! Quase um jogo proibido...
Tenho pena de nao teres conseguido o que desejavas...

Beijo em ti

carpe vitam! disse...

Não tenhas, nem sempre não conseguir o que se deseja é mau. "Cada desejo enriquece-me mais do que a posse, sempre falsa, do objecto do meu desejo". Já dizia o Gide...

http://provocame.blogspot.com/2008/08/provocao-gratuita-27.html

escarlate.due disse...

não!!
(é a resposta às 2 últimas perguntas)
só depois de vivenciamos todas as experiências possiveis e imaginárias teríamos a possibilidade de nos analisarmos completamente e (talvez) conhecermo-nos por inteiro. como tal não é possível, ficamo-nos pelo conhecimento parcial (nalguns casos nem isso)

acompanhei este texto desde o 1º post. muito, mesmo muito bom!!!!! esmiuçadas as várias questões, dariam pano para mangas de muitos casacos

carpe vitam! disse...

eu e as minhas perguntas de retórica... mas é claro que gosto muito de esmiuçar questões e fazer casacos com o pano que vai sendo tecido, cozido a experiências e bordado de opiniões. o resultado nem sempre é bonito de ser ver, mas pelo menos costuma ser acolhedor :)
vamos a isso?

Miriamdomar disse...

Carpe, este teu texto, está excelente,está realista, sensivel ,provocador ! Resumindo ,
puseste a vivência humana a nu!
O ser humano ,nunca se chega a conhecer completamente, umas vezes, tão frágil e outras tão forte, umas vezes, convicto e outras ,com tantas duvidas!
O valor do amor, está no facto de não se medir!O amor sente-se ,não se mede!
O amor é uma vitamina, para qualquer ser humano capaz de amar!
Ame ele outro ser humano , um animal de estimação ou até uma ilusão!
Bjs

carpe vitam! disse...

"o amor é uma vitamina", gostei!
e sim, suponho que muitas vezes amamos ilusões, ou como diria Bernardo Soares, "Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém."

http://provocame.blogspot.com/2008/03/provocao-gratuita-6.html

Espero que tenhas um fim-de-semana muito vitaminado! ;)

Muito Complexo disse...

"Porquê que é suposto amar sexualmente apenas uma pessoa de cada vez? Porquê que a sociedade ocidental impõe legal e religiosamente essa exclusividade? Não estou a dizer que seja uma coisa fácil de gerir, mas se as pessoas conseguem ter vários filhos e dividir e multiplicar o amor por todos eles, não será possível fazê-lo também no amor sexual?"

A mim custaria-me imaginar a minha parceira (que neste momento já não existe) com mais alguém. É simples.

carpe vitam! disse...

Entendo, é de facto bastante simples. O que não significa que seja fácil. Tenho estado a pensar sobre o que é isso de amar e chego à conclusão que para a maioria das pessoas, amar é possuir. Parece que só faz sentido amar se se for correspondido e no caso da pessoa amada não corresponder, há pessoas que farão qualquer coisa para serem amadas. Amar não deveria ser querer o melhor para a outra pessoa, mesmo que isso signifique não a ter, deixá-la escolher o seu caminho? a exclusividade poderá ser um caminho se existir consenso, mas não é também um egoísmo? o medo da perda é legítimo, mas é preciso aprisionar?
Vivemos numa sociedade que adoptou a monogamia como regra, mesmo sabendo que é natural as pessoas sentirem-se atraídas umas pelas outras. Uma sociedade que prefere esconder esse facto e até mentir, a ter de admitir a sua natureza. Não posso deixar de questionar isso, de questionar o modelo actual de casamento, de família.

Penso que amar é sobretudo prender para libertar.

Muito Complexo disse...

Acredito que será egoísmo o que sinto. De facto "carpe vitam!" este teu último comentário abriu-me bastante os olhos. Muitas vezes pensei no que estava a sentir numa determinada altura e é exactamente o que expuseste.

De notar no entanto que enquanto rola uma paixão louca, este sentimento (pelo menos a mim) não vem ao de cima.

carpe vitam! disse...

Ai, a paixão, a paixão... dizem que o amor é cego, mas a paixão é completamente autista. E quando se confunde amor com paixão, a coisa complica-se... e pode também tornar-se mais interessante :)

... disse...

Mudam se os tempos mudam se as vontades, as regras criadas podem e devem ser mudadas conforme vão evoluindo as relações entre as pessoas, a sociedade em que vivemos já está diferente da sociedade em vigor no tempo dos nossos pais, mas há pessoas que estão sempre muito à frente e quase sempre são essas mesmas que dão o primeiro passo para a mudança, muitas das vezes sofrem na pele a ousadia da mudança mas só assim as coisas mudam, é preciso coragem para se assumir e se tentar ser verdadeiro.

carpe vitam! disse...

Felina, as ideias nunca são novas, a mudança é cíclica. a evolução no que diz respeito à essência humana é muito pouca ou nula. Não tenho a pretensão de achar que o meu ponto de vista é melhor, ou que é "à frente". sei apenas que é o que eu penso, o que sinto, e quero perceber o que pensam e sentem os outros.

Muitas vezes é preciso sofrer para perceber. Não faz mal, sei que depois da dor, virá o prazer.

Anónimo disse...

Complicado.

:)

carpe vitam! disse...

pois é, mas eu amo o complicado. Estou a aprender a descomplicar. é difícil!

Alien David Sousa disse...

Segui com atenção estes teus textos. Adorei. Sabes, acho que passamos uma vida em busca do que somos. E da mesma forma que necessitamos de uma vida para nos encontrarmos, para nos conhecermos verdadeiramente - se algum dia conseguimos também acredito que não é possível conhecer outro a 100%. Não acredito na frase: conheço-o/a como me conheço a mim. A não ser que no caso a pessoa não se conheça de todo.

Saudações alienígenas

carpe vitam! disse...

Alien, não é uma questão de não conhecer de todo, mas sim de não conhecer a totalidade. Desta forma, creio que é possível afirmar que se conhece alguém tão bem quanto nos conhecemos a nós próprios ou até melhor. Há pessoas que são previsíveis e outras que nos reservam sempre uma surpresa.

E sim, o conhecimento é sem dúvida uma aprendizagem contínua.

saudações provocadoras de coisas boas :)

Cão Sarnento disse...

Há pessoas que vivem juntas durante décadas, dormem lado a lado na mesma cama, comem frente a frente à mesma mesa e, depois de uma vida em comum, separam-se com a ideia: "eu não conheço esta pessoa". Portanto, conhecer é relativo, mesmo com a mais próxima convivência física. Às vezes, acreditar que se conhece alguém é apenas um acto de fé. Num dado momento, lá teremos de acreditar. A alternativa é bem menos agradável.

carpe vitam! disse...

"E, depois, vêm para cá com teorias pseudo-académicas de que nunca alguém conhece verdadeiramente alguém. Pudera! Se ninguém se dá realmente a conhecer, é apenas isso que se tem." Creio que isto que escreveste resume eficazmente o assunto.
A questão aqui é saber se se conhece melhor alguém presencialmente, sabendo os seus gostos, o número que calça, a expressão do olhar quando está triste; ou à distância, sabendo dos seus medos, dos seus desejos, dos seus segredos.
No fundo, como é que as pessoas são mais sinceras, olhando nos olhos ou protegendo-se do outro lado da linha?

Uma coisa é conhecer, outra é acreditar. São ambas dissociáveis, mas juntam-se no amar. E volto ao desassossego do Bernardo Soares, "amamos tão-somente a ideia que fazemos de alguém"...