a directora
Há sete anos, inscrevi-me numa loja para um part time para colaborar com uma empresa multinacional do ramo alimentar sem saber bem o que era o trabalho, mas cujos requisitos preenchia.
Uma série de meses depois, quando eu já nem me lembrava do assunto, uma voz feminina muito simpática e eficiente telefonou-me a marcar entrevista. No dia combinado, lá fui, tive de esperar um pouco, estávamos em Junho e o fresco do ar condicionado sabia-me bem. Enquanto esperava, pus-me a ler o livro para disfarçar o nervosismo destas situações, não devia ser grande coisa porque já não me recordo dele. Sei que algum tempo depois a mesma voz que me tinha ligado abordou-me, acompanhada de uns olhos verdes intensos, enormes, hipnotizantes. Como eu gostava de lhe beijar as pálpebras! E os lábios frescos, naturais, sorridentes, feitos para serem beijados… Perguntou-me o nome numa afirmação, ao que eu respondi positivamente, e lá fomos para as entranhas do armazém da loja, aquela parte nunca visitada pelo comum consumidor. Era um cubículo deprimente sem janelas, a sala dos empregados, voltei lá algumas vezes depois, mas nunca teve tanta luz como quando estive lá com ela. Era verdadeiramente uma mulher brilhante! Muito empática e com um ar ultra profissional e competente no seu tailleur verde seco, a condizer com os olhos. A entrevista correu lindamente, tinha sido a primeira escolha dela e não quis entrevistar mais ninguém. Fiquei super contente, o trabalho parecia agradável e a remuneração era bastante simpática, pelo que aceitei logo. Combinámos encontrar-nos na semana seguinte para assinar o contrato e para ela me dar a formação necessária e trabalharmos um pouco em conjunto. Se foi difícil o tempo passar entre o telefonema e a entrevista, ainda mais devagar passou aquela semana, em que eu contava os segundos para a hora exacta. Muito antes do tempo, lá estava eu à espera. Ela apareceu no Audi A6 da empresa, desta vez de t-shirt, calça de ganga e ténis, uma vez que íamos para o terreno, mas nem por isso menos encantadora e apetecível. O trabalho correu lindamente, foi super agradável e interessante. Fiquei a saber que a formação dela era em línguas germânicas e que morava em Sintra. A partir daí, comecei a trabalhar individualmente mas com imensa motivação. Fazia relatórios semanais comparativos, enviava postais de natal e de primavera feitos por mim, convites para festas e tudo o que me passava pela cabeça. O trabalho foi-se estendendo a todo o país, foi criado um departamento próprio na empresa e eu deixei de contactar com ela. Lembro-me que no primeiro Natal, enviaram-me um postal assinado por várias pessoas e com uma mensagem dela onde agradecia "o excelente trabalho realizado". Como fiquei feliz! Falei com ela ao telefone mais uma ou duas vezes, e trocámos alguns mails profissionais. Nunca mais a vi, mas nunca mais esqueci a competência e os olhos dela.
o chefe de zona
Quando eu ia ao sábado à tarde entregar o meu trabalho, por vezes, muito raramente, via um rapaz que eu achava bonito. Nessa altura, escrevi isto sobre ele, para o QJ e para a Quimera:
"Ele deve ter mais ou menos a minha idade, não é muito alto, é magrito, cabelo castanho, olhos azuis. Ele faz-me lembrar alguém, um actor, aquele que fez o Crime do padre Amaro, sabem, o Jorge Corrula. Embora as feições sejam parecidas, ele é muito mais bonito, tem o nariz mais perfeito, um ar frágil que lhe dá imensa piada. Eu acho graça, o que é que querem? Gosto de olhar para ele entre os detergentes, as couves e a roupa, discretamente, sem que ninguém perceba. Deleito-me numa onda de voyeurismo, a ver o que ele está a fazer enquanto finjo indecisão quanto ao arroz a levar.
Creio que a primeira vez que o vi, foi no escritório. Ele não tinha farda vestida, por isso parti do princípio que seria um chefe de zona ou de loja. Depois vi-o num Audi, e confirmei a minha teoria, porque os big bosses andam todos de Audi, quanto maior for o Audi, maior o cargo. O dele é uma carrinha A4.
Se bem que ainda não tenha percebido muito bem o que é que ele é, vejo o que ele faz. E acho-lhe mais piada ainda quando o vejo a supervisionar os legumes, a varrer a secção, ou a limpar as balanças. Achava piada, mesmo que ele fosse feio, porque não é todos os dias que eu vejo um chefe fazer o que ele faz. Hoje estava a ajudar um funcionário a desmanchar caixas de cartão e também já o vi a lavar o chão. A loja hoje estava cheia, princípio do mês, eles fartam-se de vender. Disse boa tarde ao gerente da loja que me costuma entregar o trabalho e a resposta dele foi "Boa tarde? Só se for para si!" Fez-me rir, porque aquilo estava realmente caótico. No meio do caos, lá andava ele, com calças de fato e mangas de camisa arregaçadas, acho-lhe mesmo piada! A dedicação que ele põe no trabalho, sempre muito concentrado… a competência excita-me, sem dúvida."
Vai fazer um ano que deixei de colaborar com a empresa, e consequentemente deixei de lá ir ao sábado e deixei também de voltar a ver este rapazinho tão bonito e tão… tão não para o meu bico!…
12 comentários:
Interessante este expor de dois pontos de vista... tão interessante como é o relato de um flirt inocente num local tão inusitado!
Um beijinho viajante...
pequenos prazeres... pequenas imaginações, pequenos sonhos... como será, como foi, como é?
O passado, o presente e o futuro, fecha-se os olhos e deixa-se correr a imaginação
A compet~encia excita-me, principalmente na cama!
lol
Bjs***
Aqui está um texto enigmático e então olhando para o perfil do/a autor(a)... ficamos na mesma...
jocas
Não é um enigma assim tão difícil de decifrar...
RedLightSpecial, é certo que competência profissional não significa obrigatoriamente competência sexual, mas os princípios da competência são sempre os mesmos, independentemente das áreas, basta aplicá-los ;-)
Competência...
Quem avalia quem e como avalia...
Se os olhos também comem...
A atracção vinha do paralelismo? Daquela noção de quem se empenha a sério numa coisa se empenha a sério em tudo o que lhe interesse? :P
Talvez. Quem se sabe empenhar numa coisa a sério, sabe empenhar-se no que quiser, o que não significa que o queira fazer...
Nem mais...ia comentar exatamente aquilo que respondeste acima...
A cena descrita enquadra-se perfeitamente no LIDL ...
O autor do blog
e...
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