Isto é claro, deixa-me com mais algumas dúvidas. “Que raio de orientação sexual é a tua?” Não consigo entender. Acho que vou dar em doida. “O que é que isso interessa? Sou uma pessoa que se apaixona por outras pessoas, independentemente do sexo. Bem vistas as coisas, isso é só um pormenor.” Será? Agora que penso melhor sobre isto, há qualquer coisa que continua a não bater certo, sinto uma pedra no sapato. É o João e o bebé, tenho de resolver isto de uma vez por todas. “Liga-lhe.” “Não ligo.” “Tens de lhe ligar!” “Se ele souber até pode querer ficar com o bebé e eu acho que isso não é o melhor para ele. O melhor é o João não saber. “Tu tens medo que ele aceite o bebé! Deves estar a pensar que eu não te conheço! Para além de ele ter o direito de saber que tem um filho, tu não lhe podes fazer isso, ele sempre foi correcto contigo! Como é que tu vais conseguir dá-lo para adopção sem o consentimento do pai, estás doida?” “Sim, deve ser, como nos contos de fadas. Tu dizes que ele gosta de mim, aposto que se ele souber desaparece logo do mapa, nunca mais me vai chatear! Deves tar a pensar que ele vai adorar a ideia de ser pai e já agora, pede-me em casamento! Tu és tão romântica, Catarina! O mais certo é não acreditar que o bebé é dele! Nem penses, eu não vou passar por isso!” A Catarina está-se mesmo a passar, nunca a vi assim. Mas decido pôr mais lenha na fogueira: “É verdade que eu não quero que ele fique com o bebé, acho que ele fica melhor com um casal a sério, mesmo que ele e a Alice o quisessem adoptar, não sei se eles são o casal ideal, tendo em conta o comportamento sexual …” “Tu és uma preconceituosa! Uma parvalhona, egoísta, egocêntrica, mais teimosa e retorcida que eu sei lá! Eu nem sei como é que posso gostar tanto de ti! Pensava que a gravidez te podia trazer algum discernimento, mas tu estás cada vez mais parva! ” Preconceituosa, eu? “A julgar as pessoas pelo comportamento sexual! Pelo que tu me dizes, eles nunca foram irresponsáveis, nunca te trataram mal, por que é que tu és assim? Porque é que não tomas de uma vez por todas a atitude certa? Por que é que tens de ir sempre pelo caminho mais difícil? Tou farta de aparar os teus golpes, de te ver estenderes-te ao comprido! Ou lhe contas tudo até à próxima semana ou eu conto-lhe! Escolhe! ” “Chiça! Agora tás armada em minha mãe?!” “Se estou a fazer isto é para teu bem e porque gosto de ti!” Dá meia volta, pega na mala e no casaco e bate com a porta. Decido ir tomar um bom banho de imersão, aquilo já lhe passa e daqui a nada já está aí, de certeza. Ponho a Susana Félix a cantar para mim 3 vezes seguidas:
“Flutuo
Consigo deslindar o meu gosto sem esforço
Balanço é o que a maré me dá
E eu não contesto
O meu destino está fora de mim
Eu aceito
Sou eu despida de medos e culpas
Confesso
Hoje eu vou fingir
Que não vou voltar
Despeço-me do que mais quero
Só para não te ouvir dizer
Que as coisas vão mudar
Amanhã
Flutuo
Consigo deslindar o meu gosto sem esforço
Balanço é o que a maré me dá
E eu não contesto
Amanhã pensar nisso sempre me dá mais jeito
Fazer de mim Pretérito Mais Que Perfeito
Hoje eu vou fingir
Que não vou voltar
Despeço-me do que mais quero
Só para não te ouvir dizer
Que as coisas vão mudar
Amanhã
Amanhã
Hoje eu vou fugir
Para não me dar a vontade de ser tua
Só para não me ouvir dizer
Que as coisas vão mudar
Amanhã
Amanhã
Amanhã
Flutuo”
Adoro o vídeo, naquela parte em que o BI se afunda na água, como se perdesse a identidade, ela sai de dentro de água e entra no carro, desperta para outra realidade, purificada, com mais clareza. Eu também saio de dentro de água purificada, mas num contexto bem diferente, e acordo para uma realidade em que já não sei qual é a minha identidade. A minha vida mudou tanto nos últimos meses… A Catarina ainda não chegou e começo a ficar preocupada. Vou deitar-me. Dou voltas e mais voltas, não consigo dormir, a Catarina ainda não chegou, sinto a falta dela na cama. Passo a noite em claro, a Catarina passou-se de vez comigo.
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