domingo, 15 de novembro de 2009

~ 32

Não entendia o que se estava a passar, pedi à Alice para lhe ligar, para me dizer se percebia porque é que ela nos estava a ignorar e respondia tão friamente ao nosso convite.

A gravidez vai bem, apesar do desequilíbrio hormonal dos primeiros meses, tudo corre espantosamente bem. Sempre pensei que fosse muito mais difícil, a minha avó sempre me disse que eu tinha sido uma gravidez complicada, que o parto tinha sido muito difícil… Isso não ajuda nada a ultrapassar os meus medos. Mas faço tudo o que posso para que tudo corra bem, pesquiso sobre o tema, falo com o médico, não fumo (aliás, deixei de fumar na Amazónia) faço as aulas de preparação para o parto e levo a Catarina comigo. Não faço mais nada a não ser preparar-me.
Não voltei a pôr os pés na produtora e cancelei a inscrição do ginásio, não me apetece nada ser gozada à força toda por me ter deixado engravidar.
A parte de ter de contar aos meus amigos como é que isto aconteceu é que é mais complicada. Mas também não preciso de explicar muito, eles imaginam o resto e riem-se à fartazana na minha cara, filhos da puta.
A Catarina tem sido impecável comigo. Sem ela, não sei se teria conseguido manter a sanidade mental até aqui. A única chatice é que sempre que pode, ela toca no assunto João. Eu estou sempre a adiar, não preciso dele para nada. Ela diz que eu sou burra e orgulhosa, que ele tem o direito de saber, blá, blá, blá…
A Alice liga-me. Pede-me desculpa por não ter ligado antes, teve alguns problemas de saúde (traduza-se reabilitação da coca) e quer saber como eu tou, como tinha sido na Amazónia e sobretudo, como tinha corrido a viagem aos Açores. Deve achar-me muito burra, a pensar que eu não sei que tudo o que eu lhe disser, ela vai contar ao outro. Aposto que foi ele que lhe pediu para ligar! Tento ser o mais breve possível nas minhas descrições, digo que os Açores foi bom, mas assim um bom a soar a pequeno. Ela tenta convencer-me a ir com eles, que me pagam a viagem, o que eu começo a achar insultuoso, e volto a dizer que não. Ela ouve o meu Ah! de espanto e pergunta-me o que foi. O bebé escolheu uma bela altura para me dar um pontapé. Digo-lhe que me assustei com uma parvoíce qualquer, sem importância. Que belo sentido de oportunidade…

A Alice disse-me que a achou muito estranha, na defensiva, que havia alguma coisa que não batia certo. Ela achava que o Brasil era só uma desculpa. Sabe que eu estou mesmo interessado em voltar a ver a Nádia e empenha-se a ajudar-me.

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