domingo, 21 de setembro de 2008

"and now for something completely different"...

Uaaaaaaaaaa… espreguiço-me alongando bem os músculos dorsais e esticando as patas ao comprimento máximo, depois de uma bela sestada. Dou as boas vindas ao cair da noite com um longo bocejo, enquanto me rebolo e sinto no pêlo da barriga os últimos raios de sol do dia.
Estou com fome, apetece-me algo… diferente. Mordisco dois ou três biscoitos, bebo um pouco de leite. Vou caçar.
Roço-me na minha humana como quem diz “venho já”. Ela não precisa de saber que tenho planos para a noite toda. Gosto dos biscoitos dela, gosto de lhe lamber o suor da pele e da roupa, de me acariciar nela, do cheiro do chão da cozinha e da casa de banho. Gosto de lhe cravar as garras no colo e lá dormir longas sestas. Mas ela compreende que eu tenho outras… necessidades.
Sorrateiramente, as minhas patas almofadadas percorrem o cimento do páteo e de um impulso tantas vezes já calculado, salto o muro que separa o meu território do do vizinho. Dou um longo passeio para desentorpecer o corpo, gosto de me manter em forma. Os meus ouvidos, os meus olhos e o meu nariz se mantêm alerta. Está tudo calmo hoje. Olá!... estou a ouvir um gafanhoto! Sim, consigo cheirá-lo! Sim, já o vi! Ih, ih! Adoro gafanhotos! Aproximo-me devagar, sem fazer barulho, pela retaguarda. Ele está distraidamente pousado num tronco. Num gesto coordenado, zás!, deito-o por terra com uma patada! Ele salta. É isto que eu gosto nos gafanhotos, dão luta! Eu espero que ele salte de novo para lhe dar mais uma patada e trincar-lhe uma para traseira, a ver se ele ainda salta e fico quietinho à espera… Saltou! E desta vez ponho as duas patas em cima dele e levanto-o no ar, e pulo com ele, que festa! Trinco-lhe a outra pata, é estaladiça e verdinha, gosto muito! Salta lá agora, salta! Sem saltos, isto não tem tanta piada, prendo-o ao mínimo movimento e depois de me fartar, decido arrancar-lhe a cabeça e mordiscá-lo um bocado.
Depois do aperitivo, vou à procura da caça grossa, a fome ainda não está saciada. Estamos na altura do cio, vamos ver o que é que se arranja por estes lados. As minhas orelhas rodam e procuram algum som suspeito: os meus olhos de pupilas dilatadas habituados a detectar qualquer movimento, perscrutam a escuridão da noite. Nada. Vou andando, alerta, até encontrar algo suspeito: aglomerado de gatos! Lá está a fêmea no meio! Demasiados concorrentes. Vou procurar mais. Ando, calcorreio jardins, casas abandonadas, até que encontro outra junto aos caixotes de acepipes. Está doente, e eu não estou assim tão desesperado. Continuo a minha caminhada, até que oiço um rrrrrrrrnhauuuuuuuuuuuu aflito. Finalmente... sim, lá está ela! CONA! Sinto o arrepio a percorrer-me a espinha: quero, quero, QUEROOO!!!! Mas ela está na varanda de um primeiro andar… vou ter de improvisar… caleira com trepadeira! Faço uns cálculos rápidos de distância e velocidade e lá vou eu! Agarrar é a missão das minhas garras! Uuuupsss! Calculei mal a resistência da trepadeira e fico agarrado só por uma pata, mas rapidamente recalculo os passos e os meus reflexos felinos não me deixam ficar mal. Os miados dela são todo o estímulo que eu preciso para continuar…
Ah, cá está! Cona linda, o odor penetra-me as narinas e deixa-me doido. Ela rebola-se, empina o rabo e olha para mim com cara de poucos amigos. Ffffffffffssssssst, assanha-se para mim, como eu gosto! Faço-me a ela de um salto, mas ela vira-se de barriga, faz-se de difícil e eu não vou de modas, espeto-a mesmo assim, com a garganta na minha boca: toma-Toma-TOMA-TOMAAAAA! Aaaaaaahhhhhh! Quentinha, apertadinha! Por um momento, afroxo um pouco a prisão da garganta e ela aproveita a distracção para se libertar e me dar uma dentada no focinho. Agora percebi porque é estas abordagens devem ser feitas por trás. Ela sente as minhas farpas, quer-se soltar e eu faço-lhe a vontade. Rebola-se toda de barriga para cima e mia satisfeita. Começamos a nossa prazenteira auto-higiene genital pós-coito, que bem que sabe! Antes que eu pudesse terminar, o humano dela aparece e eu nem tenho tempo de calcular o salto, faço-o em movimento, e safo-me, como sempre, com as quatro patas bem assentes no chão.
Está lua cheia e a noite ainda é uma criança. Há que aproveitar!
gata2
Pronto, tal como acontecia no Circo Voador dos Monty Python, não é tão diferente assim…

3 comentários:

ERH()S disse...

hummmm delicia de texto


Erhos

Nemogeleia disse...

Nunca deixes para amanha o que podes fazer..de imediato...
Cump.

Carla disse...

provocante...deixou-me vontade de ler mais