sábado, 26 de março de 2011

diálogos (im)prováveis XI

texto por Lúcio Ferro "Na mouche do Hadith"

«(…) A tua net é lenta. A minha? Ou a tua? A minha costuma ser bastante rápida. É por cabo - fibra óptica - a informação viaja velozmente até me cair no colo; isto é, desde que não esteja a receber ficheiros oriundos do teu pc que, como de costume, está cheio de viroses, em virtude de toda a porn que o infecta... Não tenho porn no meu computador. Não me insultes. Ah! Consultas porn online, é? Claro. Pior um pouco, mais riscos corres; já eu armazeno toda a minha porn em suportes fixos. E só consulto porn na net se e quando oriunda de fontes fidedignas, gosto de porn, não o nego, mas prefiro-a filtrada. Ora, lá estás tu com a tua paranóia habitual; de todos os modos, digo-te que isso de porn, o lexema, é uma palavra muito feia. Prefiro o tradicional e insuspeito eufemismo de "filme de foda". Hmm, parece-me uma combinatória robusta and straight to the business at hand, literalmente, contudo peca por excesso de brejeirice. Que tal, er… filmes de educação sexual? Qual educação. Um mestre por definição já não precisa de educação. Se bem que há algumas películas onde ainda se vê qualquer coisa fora do vulgar. Concordo, há pouco de novo no mundo da porn mas, paradoxalmente, também é verdade que a porn é hoje um dos mais ousados meios de expressão artística, se bem que, por vezes e na ânsia de inovar, a dita expressão roce o doentio.

Ah... Foder como quem faz um filme porn... Ui. Sabes, uma vez fodi a ver um filme de foda: Senti-me como um verdadeiro artista: uma espécie de Clark Gable da foda. E foder para a câmara, já fodeste? Não, alto lá, taradices é que não! Eheheh. Também nunca o fiz, mas sei de quem já o tenha feito. Parece que possui algum mistério, então se for com a criatura amada... Pois, o mistério é como é que é possível agarrar a sarda numa mão e a máquina de filmar na outra. Hmm. É tudo uma questão de prática e ademais pode ser a parceira a segurar; numa coisa ou na outra, bem entendido. Desde que não me dê cabo da máquina... de filmar, bem entendido. Olha, estão a passar educadoras de infância na minha janela, é do infantário ao fundo da rua… Uma loira, metro e sessenta, com colete de sinalização do trânsito... 27, 28 anitos, boa, tão querida, tão boa… Pois. Acredito. Educadoras... educação... filmes de educação... filmes de arte... filmes de arte, filmes de foda... Desculpa, mas não gosto da combinatória "filmes de foda": é feio. É horrível. Imaginas-te a acariciar a tua parceira e às tantas a dizeres-lhe, como quem não quer a coisa: “Querida, vamos ver um filme de foda?..” Não, mas ainda menos me imagino a dizer-lhe: "Querida, vamos ver um filme pornográfico?.."

Realmente, tens alguma razão, é muito complicado gerir as palavras e os eufemismos ainda mais; na volta o melhor é ser ela a dar a dica. É isso mesmo, o giro é quando é ela te confronta com o filme à má-fila; acredita, um tipo fica todo encavacado. Mas depois...Vinga-se. E dá uma excelente foda, garanto. Tem a ver com o sindroma Clark Gable; a arte pela arte. Hmmm… Ou, então, engendra-se uma situação em que, como por "acidente", aparece um filme de foda no canal onde normalmente está a Oprah e um tipo finge que nunca tal coisa viu na vida e diz: "Oops! Mas que vem a ser isto? Já agora, querida, vamos ver o que estão a fazer?.." Bem, é uma estratégia com mérito. Muito embora, mudar da Oprah para um canal porn me pareça ligeiramente inusitado.

Ora, detalhes, sabes, com a minha ex-mulher era giríssimo... Um filme do princípio ao fim e fazíamos questão de replicar a performance dos protagonistas. Isto, claro, se fosse apenas um casal, quando eram orgias entrávamos em variações… Pois. É importante ser versátil e capaz de reproduzir a personagem escolhida com diferentes características; desse ponto de vista é mais um Anthony Hopkins do que um Clark Gable.Er... Não percebi o Hopkins. Há um filme em que ele de facto fode uma gaja mais nova, aquela tipa que foi casada com o Tom Cruise, a australiana. Boazona, ruiva e a fazer papel de mulher ferida e rebelde… Mas, foder imolando Anthony Hopkins? Sim, repara, o Anthony Hopkins é um actor capaz de desempenhar diferentes papéis de modo credível, já o Clark Gable era mais canastrão, era sempre o mesmo. De todo o modo, isto era somente uma metáfora. Sim, claro, percebo, vês-te então como um Anthony Hopkins da foda? Não, mais um Stalone. Um Rambo. Fodo-as a todas com a minha metralhadora, sé é que estás a ver a coisa e, se ficar sem balas, uso o facalhão. Caramba, uma metralhadora? Nunca tinha pensado na foda sob esses termos; e muito menos “facalhão”… mas… Estás louco ou quê? Não me digas que andas por aí armado em Jack the Ripper da foda... Metaforicamente, caralho. Pensava que tinhas uma veia poética, caramba!

Er… Mas um facalhão corta, decepa. E um caralho, pelo contrário, penetra sem ferir, aloja-se, conquista e a dado momento explode. Que lindo, que bonito, mas estás a ver mal a coisa: uma metralhadora tem um ritmo incessante de disparo que pode ser regulado à medida que a munição se esgota ou o cano aquece... Ora bem, a analogia da metralhadora refere-se a sua velocidade de repetição e potência de impacto. O facalhão, no contexto do Rambo, refere-se à capacidade de improvisação quando perdido no meio do mato (também tenho que te explicar a analogia de "no meio do mato"?) Hmm.., sabes, adoro a metrosexualidade púbica, sobretudo se praticada pela minha parceira. Metro quê? Metrossexualidade. Rapar os pelos púbicos, ou queres que te faça um desenho?

Sim, faz-me um desenho, estou curioso. Opá, tu não me provoques, menino. É muito diferente. Sabe bem melhor, isso te garanto... Lamber uma bela cona rapadinha é uma experiência inolvidável e, se for o sexo duma mulher que nos ama, aí então… Esquece. (…)»

2 comentários:

JANE DOE disse...

ESTÁS PROVOCADO.... ( A ) ..... !

Mulherómem disse...

Maravilhoso e tão certo, o ultimo paragrafo...