Era um dia banal de fim de Inverno. Tinha estado a chover de madrugada, a estrada estava molhada. Ela fazia o trajecto diário ao encontro dele. A ansiedade de estar com ele fá-la carregar no acelerador, mas não mais que o habitual. Ela tem o pé pesado, o facto de a estrada estar molhada não a faz abrandar.
Era um carro velho que já tinha passado por vários donos. Pequeno, leve, de pneus estreitos, cor-de-burro-quando-foge. Apesar de ter carta há alguns anos, só há pouco tempo tinha o seu burrito, como gostava de lhe chamar. E gosta da liberdade que ele lhe dá, de poder chegar a qualquer lugar, a qualquer hora autonomamente.
E lá vai ela, a visita tem de ser rápida, tem de ir à escola, tem de aproveitar bem cada segundo com ele. A estrada está lisinha, foi arranjada e alargada, há zonas em que tem 3 faixas, em melhor estado que a auto-estrada. É um caminho agradável entre eucaliptos e pequenas povoações.
Ela sabe de cor as curvas, os melhores sítios de ultrapassagem, vai em piloto automático enquanto pensa nele e nas aulas.
Começa a abordar a curva de 90º a 80 km /h, com a confiança de sempre, da forma como sempre faz. Retira o pé do acelerador devagar, dá-lhe um cheirinho de travão, um pouco mais… o carro está a fugir-lhe, ela trava mas o sacana do burro é teimoso, foge com a traseira para o meio da estrada.
A adrenalina dispara, sente o sangue a subir naqueles décimos de segundo enquanto tenta perceber o que se está a passar, mas sabe que não é coisa boa. O carro quer virar-se, mas ela lembra-se de uma reportagem sobre condução defensiva e toca a virar o volante no sentido contrário à curva, a tentar endireitar o carro. Roda, roda, roda, roda, o volante gira uma série de vezes, o carro desliza. "Merda, merda, MERDA!" Ela já está a pensar que se vai espetar contra os rails, "e que é que eu vou dizer lá em casa?". Naqueles breves segundos de perda de controlo, começa a pensar no metal esmagado "e como é que eu vou para a escola sem carro?" Mas eis que consegue endireitar o volante e recuperar algum controlo.
O carro parou finalmente, no mesmo sentido em que seguia, mas em contra-mão, paralelo aos rails do outro lado da estrada, a meio metro de lhes tocar. Ela respira fundo. Está a tremer por todos os lados, deixou o carro ir abaixo. Liga os 4 piscas, vem um carro na sua direcção, ela consegue pô-lo a funcionar e arrancar para a sua mão.
Os km que a separam dele são poucos, mas demoram o dobro do tempo a metade da velocidade normal. Quando chega, abraça-o com força, ainda a tremer. "Não vais acreditar no que me aconteceu!" Aquele abraço acolhedor retempera forças e confiança. Acalma, reconforta, alimenta. É suave, quente, é exactamente o que precisava para seguir viagem.
Ela começa lentamente a ter noção do sucedido. Começa a perceber que teve imensa sorte. "E se viessem carros no sentido contrário?" Durante os próximos tempos que passar por aquela curva, vai redobrar a atenção, depois a pouco e pouco, começa a agir como dantes, como se nada tivesse acontecido. Atribui o despiste ao acaso, à água e óleo misturados no pavimento, a uma situação impossível de controlar. Dali a uns tempos, já conseguirá fazer piadas com o assunto. Mas ela não esquecerá nunca a tremenda sorte que tem no meio do azar. Aquele abraço.
Era um carro velho que já tinha passado por vários donos. Pequeno, leve, de pneus estreitos, cor-de-burro-quando-foge. Apesar de ter carta há alguns anos, só há pouco tempo tinha o seu burrito, como gostava de lhe chamar. E gosta da liberdade que ele lhe dá, de poder chegar a qualquer lugar, a qualquer hora autonomamente.
E lá vai ela, a visita tem de ser rápida, tem de ir à escola, tem de aproveitar bem cada segundo com ele. A estrada está lisinha, foi arranjada e alargada, há zonas em que tem 3 faixas, em melhor estado que a auto-estrada. É um caminho agradável entre eucaliptos e pequenas povoações.
Ela sabe de cor as curvas, os melhores sítios de ultrapassagem, vai em piloto automático enquanto pensa nele e nas aulas.
Começa a abordar a curva de 90º a 80 km /h, com a confiança de sempre, da forma como sempre faz. Retira o pé do acelerador devagar, dá-lhe um cheirinho de travão, um pouco mais… o carro está a fugir-lhe, ela trava mas o sacana do burro é teimoso, foge com a traseira para o meio da estrada.
A adrenalina dispara, sente o sangue a subir naqueles décimos de segundo enquanto tenta perceber o que se está a passar, mas sabe que não é coisa boa. O carro quer virar-se, mas ela lembra-se de uma reportagem sobre condução defensiva e toca a virar o volante no sentido contrário à curva, a tentar endireitar o carro. Roda, roda, roda, roda, o volante gira uma série de vezes, o carro desliza. "Merda, merda, MERDA!" Ela já está a pensar que se vai espetar contra os rails, "e que é que eu vou dizer lá em casa?". Naqueles breves segundos de perda de controlo, começa a pensar no metal esmagado "e como é que eu vou para a escola sem carro?" Mas eis que consegue endireitar o volante e recuperar algum controlo.
O carro parou finalmente, no mesmo sentido em que seguia, mas em contra-mão, paralelo aos rails do outro lado da estrada, a meio metro de lhes tocar. Ela respira fundo. Está a tremer por todos os lados, deixou o carro ir abaixo. Liga os 4 piscas, vem um carro na sua direcção, ela consegue pô-lo a funcionar e arrancar para a sua mão.
Os km que a separam dele são poucos, mas demoram o dobro do tempo a metade da velocidade normal. Quando chega, abraça-o com força, ainda a tremer. "Não vais acreditar no que me aconteceu!" Aquele abraço acolhedor retempera forças e confiança. Acalma, reconforta, alimenta. É suave, quente, é exactamente o que precisava para seguir viagem.
Ela começa lentamente a ter noção do sucedido. Começa a perceber que teve imensa sorte. "E se viessem carros no sentido contrário?" Durante os próximos tempos que passar por aquela curva, vai redobrar a atenção, depois a pouco e pouco, começa a agir como dantes, como se nada tivesse acontecido. Atribui o despiste ao acaso, à água e óleo misturados no pavimento, a uma situação impossível de controlar. Dali a uns tempos, já conseguirá fazer piadas com o assunto. Mas ela não esquecerá nunca a tremenda sorte que tem no meio do azar. Aquele abraço.
5 comentários:
Pois é... pé pesado é o que dá... um pião a 360º
mas o que importa é chegar onde se quer ir bem :-)
que bom o abraço, soube a sério!
xiiiii, fizeste-me lembrar uma história antiga em que o 1º encontro que tive com alguém por quem me apaixonara foi com o carro avariado e o reboque a chegar e a rebocá-lo e a chover e nós a beijarmo-nos no mei da estrada, debaixo de chuva, completamente nas tintas para onde rebocavam o carro. Depois, é que foi a merda.
beijos
Bem.. há dias em que as coisas só acontecem se assim tiverem de ser!
Não tinha de ser! E ainda bem! Gostei desse abraço.. São os melhores!
Beijos para voçês..São magníficos!
QJ, pois é , o que importa é chegar onde se quer, já agora, com as partes todas inteiras e sem nenhum risco no popó ;-)
cereja, o abraço foi a sério, garanto-te
Lua, lol, relataste o sucedido no blog? Tenho de lá ir espreitar...
Doce veneno, gracias pelo teu abraço de palavras, sabe bem!
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