sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

swingin' (in the rain) parte 10

continuação daqui | início

Não foi difícil dar com o sítio, apesar de ser bastante inacessível, é necessário subir, subir, subir até lá chegar. Apesar de ser noite cerrada, adivinhava-se uma bela paisagem daquela altitude. Deparámo-nos com uma vivenda de dimensões generosas, na entrada algumas pessoas vestidas normalmente, mas o porteiro denunciava o que se passaria lá dentro, pois debaixo da gabardina espreitavam um peito depilado e uns boxers. Não fosse a simpatia e pareceria um daqueles prevertidos que andam pelos jardins a mostrar as pendurezas. Uma mulher jovem e bonita mostrou-nos o espaço. Uma área lounge com lareira e sofás confortáveis garantiam que ninguém teria frio. As pessoas pareceram-nos demasiado vestidas. Havia bastantes quartos, alguns com portas, outros sem, bastante espaçosos e aquecidos. Havia também casas de banho com bom aspecto e limpas. Descemos e encontrámos mais quartos, uma sala sado-maso com uma jaula, uma cruz de Santo André (tradução baunilha: um X na parede onde se amarram as pessoas que querem levar de tau-tau) uma cadeira multi-posições e uma cadeira baloiçante que a Yin fez questão de experimentar e não achou muito prática. Levou a chibata, just in case... O piso inferior tinha também uma sala ampla, ainda vazia, com dois varões e bolas de espelho - a pista de dança, com um aspecto normalíssimo e área considerável (tendo em conta as dos outros clubes a que fomos).
Voltámos acima e tratámos de nos despir num dos quartos. Após a espera no bengaleiro, regressámos ao lounge. A música era ambiente e não estorvava a conversa. Os sofás estavam todos ocupados, pelo que nos sentámos numa espécie de muro que separava o bar dos sofás. Era uma superfície de pedra e estava gelada, mas nada que não aquecesse com o calor do corpo. A Yin pediu o seu já habitual creme de whisky e passado pouco tempo, fomos para uma mesa alta. Não tardou muito até que nos vieram abordar. Era um casal com quem já nos tínhamos cruzado. O Yang achou simpático da parte deles terem vindo ter connosco, a Yin ainda está a remoer o facto de eles nos terem deixado pendurados certa vez porque encontraram uns amigos e decidiram ir embora com eles antes de nós chegarmos. Não era coisa que fizessemos, mas cada qual tem a sua maneira de funcionar e há que respeitar as prioridades. Pode dizer-se que ficaram apresentados. Junto com esse casal estava outro, que conhecemos do site e entendemos como uma espécie de embaixadores do espaço. Muito simpáticos, fizeram-nos sentir em casa. Tivemos oportunidade de trocar ideias sobre algumas partes desta história que temos vindo a publicar no site e eles são das poucas pessoas que comentaram. São também dos poucos que mantêm actividade regular. Esta ideia de haver verdadeiros casais swingers a fazer relações públicas nos bares pareceu-nos bastante inteligente e funcionou perfeitamente connosco. Facilitou imenso termos tido algum contacto virtual com eles, conhecermo-lhes os gostos e os amigos, ajuda a quebrar o gelo. Frio foi coisa que não sentimos. As pessoas respeitaram o dress code e havia alguma sintonia, alguns corpos bonitos, outros nem por isso, mas completamente à vontade. A Yin estava com algum receio de parecer vulgar com a sua fatiota, mas sentiu-se perfeitamente integrada. O Yang, passado algum tempo, tirou a máscara, tal como a maior parte das pessoas, e a t-shirt também. A Yin fez questão de manter a máscara, era o seu reduto de conforto.
Quando fomos para a pista, o espaço já estava bastante composto e não se pode dizer que houvesse demasiadas pessoas, o calor humano e a sensualidade dos corpos dançantes mantinha o espaço quente e o nível de fumo era suportável. Encontrámos um casal com quem a Yin tinha estado a falar antes de irmos mas não nos deram grande troco, talvez por já estarem com mais gente. Não voltámos a falar com eles, apesar de nos cruzarmos algumas vezes. Havia imensos corpos bonitos e apetecíveis, mas sem grande margem para abordagem, com o barulho das luzes, nem os nomes se percebiam. Cada vez se torna mais claro que é muito mais interessante conhecer as pessoas pela cabeça e depois ver se o corpo interessa. Mantivemo-nos no nosso canto, a dançar e a observar o que se passava à nossa volta. Ao contrário de uma disco normal, a (maior parte da) música era dançável e não havia os habituais gajos colados ao bar, toda a gente dançava e parecia divertir-se a olhar ou a provocar olhares, exibicionistas e voyeurs interagiam no seu habitat em perfeito equilíbrio. Do nosso cantinho víamos os dois casais que vieram ter connosco a conviverem saudavelmente, meninas com meninos, meninas com meninas, nada de meninos com meninos. Um deles comentou connosco numa altura em que as meninas se estavam a entender: “olha para aquilo, o que é que um gajo há-de fazer?” A Yin respondeu “Ver?” Ainda pensou acrescentar “fazer o mesmo entre os homens?” Sim, isso teria-lhe dado um certo gozo extra ver, mas ela sabia perfeitamente que eles eram todos hetero e que esse tipo de surpresas estariam fora de questão, além de que entre o barulho das luzes e a falta de interesse, ele não iria ouvir nada.



continua aqui

2 comentários:

Ser. Como. Agua disse...

A forma como tudo foi descrito,.. parece-me mais um ambiente de festa, que propriamente swing.

Bem,... também não tenho conhecimento ou experiência para poder falar sobre este tema. Mas suponho que como em tudo,...há que conhecer,...antes de envolver.

Quanto ao final:
"eles eram todos hetero e que esse tipo de surpresas estariam fora de questão," - acho preconceituoso,...no entanto não distante da realidade.

Acho que,...o tema anda mais na cabeças dos homens,...do que as mulheres pensam,.. mas o homem jamais admite,...por ter receio que isso possa afectar a forma como eles possam vir a ser vistos pela parte feminina ou por os colegas.

Facto é que,...essas praticas são conotadas como actos de homossexualidade,...sobre qual continua a existir um grande estigma,..vergonhosamente,...encapsulado. Para fora, para o mundo, para quem nos vê e houve somos modernos,...e aceitamos.
Por dentro (em nos), em nossos lares, entre os nossos familiares e melhores amigos e amigas,... as conversas são quase sempre outras.

Somos politicamente correctos para o mundo,...e hipócritas com nos próprios.

Curiosamente aceitamos melhor de mulheres do que de homens.

A relação entre homens é mais distante,...em comparação com a relação entre mulheres.
Quando elas se entendem, existe uma empatia e cumplicidade,...não se vê e não existe entre homens (por norma.) Alem disso as mulheres são muito mais decididas nestas coisas (mulher + mulher), e tem menos problemas em o assumir para si mesmo. Graças a essa empatia entre as mulheres esta criado o ambiente para alguém dar o primeiro passo.
Esse ambiente entre homens não existe, logo ninguém do o passo para não colocar o pé em falso, e cair,...seja ser descoberto.

Alem disso,..creio que o admitir,...podia fazer tremer a autoconfiança (questionar a sexualidade) de um homem.

Se calhar somos só sexo forte em papel.
Vemos as coisas demasiado a preto e branco.
Somos terrivelmente inseguros quanto a nossa sexualidade e por tal,...andamos a proclamar pelo mundo que somos os bravos, os machos, os liders, os que dominam, os dominadores, o sexo forte.

Questiono-me por vezes se todo este circo,...em grande parte,...não é mais que uma peça de teatro mal enseada,...para encobrir o quanto inseguros não somos?

O ser humano tem este terrível jeito de atacar,..."algo" que ele não conheca, em especial quando ele suspeita que este "algo" o pode ofuscar, denegrir.

Temos assim tanto medo de ser excluídos da sociedade,(por pensar ou seremos diferentes), que para o evitar,... se justifica ser hipócrita com nos próprios, seja chegar ao ponto de nos auto-enganaremos.

Isto não só se aplica aqui,...mas em muitas facetas das nossas vidas, e começa pelas coisas mais simples,...fazer, dizer tudo para que façamos parte daquela ideia generalizada da sociedade.

Grande rebanho de ovelhas que todos acabamos por vir a ser!

(Ok,..possivelmente estou a ser demasiado negativo,..mas não longe da verdade).

carpe vitam! disse...

pois, aquele final é de fato preconceituoso, presunçoso e talvez até um pouco rancoroso, mas como tu dizes, não andará muito longe da realidade.
E sim, isto tem muito pouco de swing e muito mais de exploração e tentativa de entender um meio que é novo para os intervenientes. mas quem sabe se um dia destes não aparecerá a tão apregoada chuva... ;)