Seguimos a voar em direcção a sul, e aterramos junto a um portão enorme de ferro, todo trabalhado. Em cada um dos pilares, um majestoso gato cinzento de loiça impõe-se, abrindo o portão para nos dar as boas vindas.
- A Quinta do Gato Cinzento! Não acredito! – como sabe bem ouvir estas palavras! O meu amor está completamente siderado a olhar para aquilo que já foi uma quinta totalmente degradada, agora totalmente recuperada. Desata a correr pelo caminho fora. Pastam alguns cavalos no prado, uma égua e um potro. Chilreiam os pássaros a dançar com os ramos das árvores e mais acima assistimos ao voo das gaivotas. A casa está linda pintada de azul e branco, com o telhado cinzento, quase se confunde com o céu. O Jardim, verdejante e florido encaminha-nos para o gazeebo. Os azulejos azul índigo da cúpula brilham e recortam o horizonte onde o céu se encontra com o mar, revelando toda a majestade daquele sítio mágico. Absolutamente soberbo! A Ângela corre para lá e dá pulos de alegria quando encontra um verdadeiro tesouro – um Stradivarius! Pega nele com se fosse a maior relíquia do mundo, respira fundo e começa a tocar. Celebração da Natureza, uma interpretação fervilhante da estação do ano que eu sempre achei mais triste e sombria. Curiosamente, é das quatro, a parte que eu prefiro da obra dele. Devia gostar bastante do Inverno, este Vivaldi. Fiquei farta da Primavera depois de passar anos a ouvir o genérico da meteorologia na RTP. Esta passagem também já serviu para publicitar a fusão de um banco, mas foi durante menos tempo. Ela vai dançando com o violino, e eu subo até lá e vou dançando em volta dela, inspirada pelas coreografias da Danielle Veille, completamente nua.
Lentamente, a temperatura desce, o céu muda para um tom mais dramático e começa a bater “leve, levemente, como quem chama por mim”… NEVE! Como é raro poder apreciar tal espectáculo, divirto-me a sentir os flocos na pele nua. Vamos para dentro da casa, que está requintadamente decorada, num estilo que concilia o tradicional com a mais alta tecnologia. É muito confortável, tem um belo soalho de madeira e lareira crepitante. A parte redonda com a menina do gato que parece a Alice do país das maravilhas pintada na parede, tem também uma cama redonda ao centro, as janelas são espelhadas e tem um espelho embutido no tecto, numa sugestiva moldura esculpida com gatos em várias posições. Por vezes até me esqueço que estou a sonhar. Tenho novamente a sensação gritante de que tudo é possível. Sou uma locomotiva a vapor a toda a brida e sei que nada me vai conseguir parar. Tenho um ego pequenino, tenho…
Viro-me para a Ângela:
- E se continuássemos aquela nossa luta de doce de leite, mas desta vez de uma coisa menos intelectual?
- Ummm, vamos a isso!
Ok, preciso da ordenha de 3 vacas, 4 canas-de-açúcar bem grandes e umas quantas vagens de baunilha. Tudo ingredientes que se podem encontrar na quinta, claro. Vamos fazer isto a preceito! Ordenhamos as vacas, extraímos o açúcar, e secamos as vagens. Como tenho o poder de manipular o tempo, tudo isto passa muito depressa, como se estivéssemos num filme mudo, com musiquinha de piano de fundo, ihihihih, é muito divertido! Depois vamos para a cozinha, vestimos aventais (apenas aventais) brancos com barrete de cozinheiro a condizer e pegamos numas colheres de pau gigantescas. O resultado é um panelão enorme de creme, não hesitamos a saltar lá para dentro nuas (só com o barrete), com o creme ainda quente. Ummmm, é tão bom! Eles já estão a alçar a perna para se juntarem a nós:
- Na, na, vocês vão a descascar a fruta! – o cão danado e comenta:
- Pois, se fossem vocês a fazê-lo, eram umas escravas, já nós…
- Tens muita razão de queixa, quem é que te levou a frutinha descascadinha à boca ainda há bocado, quem foi? – diz a Ângela, toda empertigada. - Além disso, para virem para aqui, só se estiverem completamente depilados. – Acrescento eu. Os dois dispensam. Demasiado zelosos dos seus pêlos? Não me parece, é mais pela trabalheira que dá e desta vez sem ajuda, teriam de se desenrascar sozinhos. Ainda por cima, depilar testículos é uma ciência, não o fazer como deve ser é corte certo. Não quero sangue misturado com o creme, é melhor que fiquem de fora mesmo. Ficam a ver enquanto nos deliciamos com o creme, mergulhando a fruta e saboreando o banquete. Claro que também têm direito a provar. Estico as pernas e dou-lhes os meus pés banhados de creme de leite e cerejas no intervalo dos dedos para se irem entretendo enquanto a Ângela me saboreia os lábios.
A cor e a textura do creme assemelha-se a lama, mas é infinitamente melhor, escorrega pelos nossos corpos e forma uma camada escorregadia, muito saborosa. Delicio-me a lamber-lhe as mamas, a mordiscar os mamilos até ficarem sem creme. E depois volto a mergulhar as mãos no doce e começo a verter lentamente pelo corpo dela. Faço desenhos com o fio que escorre, mas depressa se desvanecessem na cremosidade. Ficamos assim, mergulhadas no doce, a saborear a fruta e os nossos corpos, a provocar-vos com o creme de leite, a salpicar tudo com o rasto viscoso, escorregamos e rimos perdidamente. E que bem que sabe!
Um novo banho é inevitável e voltamos a juntar-nos na banheira espumante. Quando saímos, levamos ainda no corpo o aroma da fruta misturada com a doçura do leite.
Não resisto a chamar os Queen, e como o Freddy está muito bem descansadinho no céu, eu resolvo fazer uma coisa que fica algures entre um genial tributo e um brutal assassínio da música quando começo a cantar: Don't stop me now! dando ainda mais ênfase a esta parte:
I'm a rocket ship on my way to Mars
On a collision course
I am a satellite I'm out of control
I am a sex machine ready to reload
Like an atom bomb about to
Oh oh oh oh oh explode!
O que eu curto as guitarradas do Bryan May!
- Vocês segurem-me, vocês segurem-me que senão eu não paro mesmo! - Oh pá, o que eu me rio! - Não vou descansar enquanto não estiver toda a gente satisfeita! Quero ouvir-vos arfar, uivar, relinchar!
continua aqui :)
3 comentários:
Coitada da senhora da limpeza, quando deparar com o que precisa de limpar...
Rafeirito, a vantagem dos sonhos é que depois fica sempre tudo automaticamente limpo, basta acordar!
O texto está simplesmente fantástico, parabéns.
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