sábado, 16 de julho de 2011

carpe somnium [13]


- Vamos passear? – digo, e levo o pessoal no Lancia a voar até à praia preferida do meu amor. Está deserta, como quase sempre fora da época balnear.
Agora reparo, ao fim destes anos todos, que a cor daquele mar está sempre reflectida nos olhos dele, por mais longe que esteja. E está convidativo (o mar, e ele também!) a um mergulho. Ninguém dispensa, despimos a roupa e cedemos aos encantos daquela imensidão líquida. Podemos dançar uns com os outros sem sentir o peso da gravidade. A frescura da água endurece os corpos, cada centímetro de pele, em contacto com a suavidade líquida da água, numa sensação de liberdade total, flutuante. É muito boa, dá-me vontade de rir às gargalhadas enquanto salto e rodopio. Agarro-me ao cão, prendo-o com as pernas pelas ancas, sinto-o intumescer lentamente, e deixo-me levar, apenas agarrada pelas pernas, com o resto do corpo a flutuar ao sabor dos seus movimentos. Procuro encaixar-me nele, vejo que eles fazem o mesmo. A água tem um ritmo próprio, mais liberto da gravidade, fluido…
Deixamo-nos levar assim os quatro, aos beijos molhados, salgados, abraçados, encaixados. Os nossos risos misturam-se, e os gemidos intensificam-se, excitam-nos em espiral. Embalamo-nos nesse prazer intenso, e deixamos os nossos corpos flutuar em paz.
O sol alaranjado brilha no horizonte, deixando um rasto de luz na água, reflectindo-se também em nós, brilhando-nos a pele. Nos olhos, espelhamos a cumplicidade e satisfação de um mergulho inesquecível.
No regresso à areia, começamos a dar ao meu amor um tratamento semelhante ao que demos ao cão, e ele volta para o mar, começa a nadar, a fingir que não está nem aí para o que se está a passar.
Eu ainda sugiro:
- Ele chegou em último, precisa de ser bem mimado para compensar o atraso, não queres ajudar?
- Nop – ok, há que respeitar.
- Não sabes o que perdes - diz ela. E continuamos os três entretidos, até o cansaço se começar a apoderar de nós. Temos de descansar porque para lá vamos a voar e eu ainda tenho umas lições de voo para dar ao meu amor. Ele não gosta das alturas, preferia ir de carro voador, mas eu insisto, vais ver que é bom!, e ele cede ao meu capricho. De início começa a tentar equilibrar-se no ar, na horizontal, de barriga para baixo. Isto é como andar de bicicleta, digo-lhe, tens de encontrar o teu centro de gravidade e depois desafiá-lo. Ele lá se vai aguentando, a meio metro do chão, muito a medo. Sobe um pouco mais, hesita e cai redondo na areia. Vá, tenta outra vez! Pensa em coisas boas! E rio-me que nem uma perdida com a falta de jeito dele. Não se pode ser bom em tudo, deixa, mas se treinares chegas lá. Pego-lhe na mão e levo-o de arrasto. Não quero arriscar, nem que a situação da Ângela se repita.

continua aqui, no dia do costume :)

2 comentários:

Luna disse...

Aguardando a continuação:-D

carpe vitam! disse...

Continuará, como já é habitual, no final da semana ;)