terça-feira, 16 de novembro de 2010

das Paixões e suas Gestões - parte 1

As minhas paixões têm sido muito diferentes ao longo dos tempos, mas têm sempre várias coisas em comum: arrebatam-me, apuram-me os sentidos, inspiram-me, tiram-me horas e horas de sono, fazem-me comer menos e saborear mais, suspiro de puro cansaço por não dormir nem comer como deve ser. E é assim que eu as reconheço e farejo à distância. Pelo menos numa primeira fase. Porque depois não há quem aguente… e das duas uma: ou a coisa é minimamente alimentada e dura algum tempo, ou deixo de a alimentar e morre na praia.
Tenho andado a tentar sustentar as minhas paixões, a tentar perceber quais as que têm pernas para andar para não me dispersar muito. Mas não é fácil. Tendo em conta que a Perspicácia não é coisa que abunde muito por estes lados, resta-me contar com alguma Sensibilidade para o fazer. Cheguei à conclusão que tenho de tomar uma atitude profissional em relação ao assunto - tenho de aprender a gerir melhor as minhas paixões. Não é que sejam assim tantas, nem têm de ser muitas, têm é de ser boas e bem geridas.

Não é cair, é voar.
Os ingleses têm aquela expressão “falling in love”, mas eu acho que quando me apaixono não caio. Pelo contrário, tenho muita dificuldade em não sair por aí a voar, tenho dificuldade em assentar os pés no chão. Mas nada que uns contra-pesos não resolvam.
As minhas paixões vão e voltam em ondas, como as marés. Algumas são de longa data, outras recentes. Personifico-as, são todas mulheres, claro, apesar dos objectos dessas paixões poderem ser masculinos. Algumas tenho de as separar dos respectivos objectos que as inspiram, assim é mais fácil.
Há uma que me acompanha há imenso tempo, é a paixão pela Expressão. Ela é muito querida, muito paciente, às vezes mistura-se com Amor e é muito bom! Outras quase que a esqueço, foge-me, mas depois procuro-a, dá-me um trabalho danado, mas volta, com uma Inspiração qualquer. Gosto muito dela, tem muita Paciência para mim.
Tenho outra que é a minha Base. É para ela que regresso, é nela que me refugio. Sei que está sempre lá embora às vezes arrefeça. Mas tem a capacidade de me surpreender, de me desafiar, de se reinventar. Porque é estimulada, porque é partilhada, porque é correspondida, porque faz a vida funcionar melhor, porque inspira o Amor. É sem dúvida, a minha melhor Paixão, com P grande!
Tenho ainda outra que é lindíssima, serena, experiente. Foi um encanto assim que a vi. Veio de mansinho, e quando eu me apercebi passava o dia todo a pensar nela, respirava-a a cada fôlego. Envolve-me num calor quase maternal, mas é um tesão. Pouco a pouco vou-me apercebendo que ela gosta de mim, gosta sobretudo do meu sexo. Mima-me. Mas eu sei que é uma coisa platónica, que nunca vai acontecer nada de físico entre nós. Não me importo. Gosto de ficar a olhar para ela, gosto de a provocar, gosto de provocar o objecto dela.
Há ainda outra Paixão vaivém que me apanhou de surpresa, mas é incrivelmente familiar. Foi-se aproximando e quando chega ao pé de mim a sorrir, eu vejo que… eu vejo que… SOU EU! Cum caneco! Aahahaaha! Esta agora, não estava à espera! Fico com vergonha do meu narcisismo, mas tenho de admitir: eu dou-me imenso tesão, pronto! Auto-tesão… esta agora…
As minhas paixões costumam conviver no mesmo espaço e costumam dar-se bem. Às vezes juntam-se e fazem coisas espantosas, e eu fico no meio a ver. Agora também me vejo no meio delas, sem roupa, enquanto fazem uma roda e se chupam umas às outras, que loucura…
Começam a juntar-se à Inspiração e ao Entusiasmo e eu descubro que estou mesmo apaixonada pela VIDA:
Alguém precisa de um pouco mais de Vida?
Sinto-a fluir, a correr loucamente pelo meu corpo, a transbordar do interior. Espanto-me, não a consigo conter, nem quero, deixo-a correr selvagem por entre os meus poros e exalo-a na respiração. Tenho esta vontade absurda de contagiar o Mundo com Vida.
Levanto-me ao nascer do sol. Não me calço. Sinto o chão quente dilatar-se, e a frescura da manhã. Quero sentir todas as texturas, todos os cheiros, todos os sons, todos os sabores e tudo o que houver para ver. Abro os braços e rodo sobre mim, até sentir a insuportável vertigem que só quem está vivo pode sentir. Tombo, fecho os olhos e rio perdidamente com o corpo deitado na relva.
Sabe-me bem a Vida! Como eu gosto de a aproveitar!
Apetece-me dizer e digo alto e bom som: AMO-TE VIDAAA!
Mais outra que apareceu de repente, sem se fazer avisar. Apanhou-me de surpresa, parece que nunca mais aprendo a precaver-me, a intuir os sinais. Ela chega a bambolear-se toda, numas calças super-justas de látex vermelho vivo, uns sapatos bicudos de salto agulha de verniz vermelho a roçar o piroso que são uma arma letal, e um soutiã a condizer com as calças. Realmente tesuda. Para completar o traje, um chicote enorme, imagine-se, também vermelho. Quase que ia jurar que lhe vi uma cauda a mexer-se atrás dela. Ela aproxima-se com cara de poucos amigos e antes que eu pudesse dizer alguma coisa, espeta-me com duas joelhadas no estômago e uma cabeçada que me deixam sem norte. E depois ajeita o cabelo e vai-se embora como se nada fosse. Eu fiquei a tentar perceber o que se passou. Percebo que vai dar luta. Eu não sou propriamente uma pessoa violenta, gosto de resolver as coisas com diplomacia, é preciso chatearem-me muito para me saltar a tampa. Mas quando salta…
Quando dou por isso, estou com ela num pequeno recinto preto redondo, parece um sofá porque é almofadado e forrado a vinil, mas é fechado como se fosse uma piscina e tem um creme qualquer no fund… Ela não me dá tempo de perceber que creme é aquele e zás!, espeta-me uma estalada na cara. Tem um reduzido bikini vermelho vestido que lhe fica lindamente, eu estou sem roupa. Pergunto-lhe o que é que se está a passar, ela não responde e tenta arrear-me de novo, mas eu travo-lhe a mão, e como o chão está escorregadio, caímos inevitavelmente e lutamos as duas naquele creme que eu provo quando vou ao chão, sabe a chantilly e tem pedacinhos de morango! Puxo-lhe o bikini e o pequeno triângulo desvia-se e deixa-me ver-lhe o mamilo vermelho. Não resisto e trinco-o e ele fica ainda mais vermelho. Ela liberta o animal sexual que há em mim. Não se mexe, fica sem reacção. Não entendo. Indiferença? Não desisto enquanto não perceber. Saio de cena e preparo outras abordagens. Quero experimentá-la.

Não é a primeira vez que isto me acontece. Uma vez fiquei sem um dente e a cuspir sangue. Mas tal como apareceu de repente, bateu forte e passou depressa. Esta está a demorar mais, tenho um certo receio dos estragos, mas não sou capaz de me afastar. As piores, ou melhor, as mais perigosas, são as que entram de mansinho, sem eu me aperceber, e quando dou por mim já estou completamente envolvida. Sabem muito, as minhas paixões. Há que saber lidar com elas. Há que saber aproveitar os estímulos que me dão para avançar e aprender mais qualquer coisa.

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continuação aqui

7 comentários:

M. disse...

De experiencia em expeiencia...ainda acabas sem dentes...

Unknown disse...

Que seria da nossa vida sem as paixões? Nada!!
Era a monotonia completa...e mais, convém ter várias ao mesmo tempo..
Se uma está mais parada..achamos "vida" numa outra...
A vida para mim não tem o menor sentido sem paixões....
No meu caso, podem ser é menos violentas do que algumas aqui descritas...mas desde que se goste...vale tudo

► JOTA ENE ◄ disse...

ººº
As paixões são phodidas ...

carpe vitam! disse...

M, hoje em dia existem tratamentos dentários muito eficazes, e exercitando o músculo cardíaco também se ganha alguma resistência, não achas? ;)

Céu, estou completamente de acordo! Quanto à violência, também não é coisa que procure, mas sei que está presente, desde que nascemos. Há coisa mais violenta que nascer?

Jota, são mesmo! E isso até costuma ser bom! :D

Unknown disse...

CV..concordo...é no nascer o 1º contacto com ela..tal como com o amor...

anarresti disse...

:D é bom viver. temos este belo cardápio de emoções, que nos incendeiam. e a paixão é dos pratos mais requintados, muitas vezes servido bem picante. abraço.

carpe vitam! disse...

Como é bom provar o sabor quente, altamente condimentado da paixão! mas como tudo, requer moderação, sob pena de nos dar cabo da saúde. É mesmo muito bom viver, provar a dor só para que dê mais sabor ao prazer!