domingo, 31 de janeiro de 2010

eu, tu e... eles (1ª parte)

O seguinte conto é ficcionado. Apenas a resposta a uma provocação.
Por Francisco del Mundo

“É ele quem toca à campainha. Já ali tinha estado com um casal amigo. Mas agora ele não está sozinho. Ela veio com ele. Ouviu-o contar o quanto tinha ficado excitado por ali estar. A porta abre-se. Sobem as escadas com ela à frente. À porta a dona do bar, com um sorriso de quem vê chegar um casal novo, giro. Ele relembra a dona quando ali tinha estado e com quem. O sorriso abre-se ainda mais. Sim, tinha havido flirt entre os dois, mas o sorriso dela é causado por agora ele vir acompanhado. E muito bem acompanhado. Os olhos dela fixam a dona. Ela não gosta de loiras mas há uma sexualidade emanada que a deixa confusa. Agora ela entende porque ele disse que aquele sítio libertava a libido. Sim, há erotismo, há swing, mas acima de tudo há o despertar dos sentidos. Enquanto se deslocam para uma mesa e ele vai buscar duas bebidas, ela estuda o local. Um balcão, uma pequena pista com um varão a meio, algumas mesas à volta. A televisão mostra pornografia mas ela prefere continuar a descobrir. Pouca gente, apenas dois ou três casais. Nenhum elemento dos casais lhe chama a atenção. Noutro sítio talvez não analisasse tanto as pessoas, mas aqui é diferente. Aqui observa-se e é-se observado. Ela sentiu logo isso à entrada. Sabe que um casal como eles chama a atenção. Provocam curiosidade. E desejo. Ela sente esse poder. Uns degraus e duas mesas numa zona mais resguardada. E outro espaço. Ela está curiosa. Ele aguçou-lhe o apetite. Mas ele chega com as bebidas, ela pergunta o que é a outra divisão. Ele ri-se. Conhece-a. Sabe que a curiosidade dela não tem limites. Ele diz anda comigo e agarra-lhe na mão. Atravessam a pista e sentem os olhares a acompanha-los. Passam as mesas recatadas e chegam a uma entrada. Umas escadas sem varão indicam um andar superior. Ele sobe os degraus devagar, sabendo que a curiosidade está a mil. Ela desconfia do que possa ser, mas o desejo faz o coração estar acelerado. Aquele lugar apela a sexo. No fim das escadas, um hall com duas divisões. Ele mostra um primeiro quarto com uma cama enorme. Ela passa por ele e entra no quarto. Imagina quantos corpos nus ali estiveram. Quanto sexo, paixão, desejo, tesão, loucura, luxúria por ali passou. Sente um turbilhão de sentimentos e sensações. Está confusa. Muita coisa lhe causa estranheza. A traição consentida, o ciúme contido, a infidelidade inexistente. E depois encontra a cara dele. Ela conhece o sorriso dele. Nem tanto o da boca, mas o dos olhos. Aquele olhar travesso e malandro que a faz vibrar desde o primeiro dia. Sabe-o capaz das maiores loucuras mas sabe que não há pessoa mais leal. Sem segredos, disse ele desde o princípio. Preferiram chocar-se um ao outro com confidências e desejos, sabendo que o outro aceitaria, do que esconder fosse o que fosse. E por isso estavam ali. Ela não resistiu a sorrir. Sabia que ele a convencia a tudo, mas não tinha medo. Confiava nele. Ele pegou na mão dela e deixou-a entrar sozinha no outro quarto. Ela disse que não se via nada. Ele riu. Ela não percebeu. Ele disse devagar duas palavras: quarto escuro. Imediatamente a memória dela regressou à infância. Às brincadeiras inocentes de crianças que descobrem a sexualidade pela primeira vez. Ela sentiu-se a criança naquele quarto escuro para adultos onde o tacto substituía a luz. Imaginou como poderia ser estar com alguém que não se via, um desconhecido. Mais uma vez procurou o rosto dele e logo descansou nos seus olhos. Ela tinha ainda muito que aprender e conhecer. Mas com ele não sentia medo. Não com ele. Chegou perto dele e deu-lhe um beijo. Ainda não estou preparada para o quarto escuro, confessou. Ele riu com a sinceridade dela e disse-lhe para não se preocupar. Nunca faremos nada que não desejas, assegurou-lhe. O lobo mau e o príncipe. Juntos naquele homem, revelados naquele momento. O homem que a leva a quebrar as suas barreiras, mas sempre segurando-a para não cair. Ele abraçou-a. Sabia que estava a ser muita coisa ao mesmo tempo. Não a queria pressionar. Estavam ali para viver algo em conjunto.
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