segunda-feira, 12 de maio de 2008

Por que é que o riso conquista as mulheres?

ilustração: Charb

“Mulher que ri, meio caminho para a cama”, diz o provérbio. Rir é um prazer, admitamo-lo… Mas daí a transformá-lo num bilhete de acesso a outras formas de prazer, ainda vai um bocado. Contudo, é sabido que um homem aumenta as suas probabilidades de seduzir uma mulher se a fizer rir. O riso é, pois, um instrumento de sedução masculina, e os sociólogos demonstraram-no: são sobretudo os homens que fazem rir as mulheres. Decerto não é por acaso… Tão-pouco é por acaso que os homens ciumentos detestam ver a sua mulher rir na companhia de outro homem. Não há dúvida: há sexo no riso.

Não nos vamos lançar numa análise das teorias do humor, que exigiria um livro inteiro. Para Bergson, o riso explica-se pelo “maquinal aplicado sobre o vivo”, para Kant, “o riso provém de uma expectativa que, de repente, se converte em nada” e, para outros, o riso nasce da incongruência de uma situação, ou da transgressão de regras…

Seja como for, existe um ponto comum entre todas as formas de riso: de uma maneira ou de outra, troça-se de um terceiro. De uma pessoa real, de uma situação… Ou da pessoa virtual que poderíamos ser: imaginamo-la então a cair numa armadilha (no domínio da linguagem ou dos códigos sociais, por exemplo), e rimos por ter escapado subitamente a ela. Em suma, existe troça nessa mímica sonora que consiste em exibir os dentes, emitindo uma espécie de grito triunfal. O riso é a expressão de uma superioridade relativamente ao objecto de que rimos. E, no momento de uma piada ou de uma graça, a pessoa que provoca o riso adquire o poder.

Então, a mulher, numa situação dessas… Uma coisa é certa: uma mulher deve rir com um homem, e não dele. A mulher que ri torna-se cúmplice de quem desencadeou o riso. O que é uma forma de aliança com um dominante… um pouco como entre os primatas, em que as macacas se aliam aos machos “alfa” para lucrarem do ponto de vista alimentar.

Porém, quando nos rimos, não é só isso que fazemos. Todos nós mobilizamos, ao longo do dia, uma grande quantidade de energia psíquica para controlar os tabus sociais, esforço esse que acaba por cansar. O riso actua, pois, como uma válvula que permite a libertação brutal dessa energia repressiva. E daí o prazer.

Decerto que a mulher sente reconhecimento por quem lhe permitiu esse prazer… Abandona-se psicologicamente, e, ao mesmo tempo, fisicamente. Com efeito, o riso é uma expressão sonora não controlada. Não pronunciamos “Ah-ah-ah” deliberadamente, como quando falamos, mas entregamo-nos a salvas vocais que nos escapam. No inconsciente da mulher que ri, pode haver um raciocínio deste tipo: se este homem é capaz de desencadear em mim uma reacção destas, talvez possa proporcionar-me outras formas de abandono. Aliás, se se analisar o aspecto sonoro, será que o riso não evoca uma espécie de orgasmo? Uma mulher que reage com um “Ah-ah-ah” a uma piada de um homem, anuncia que pode emitir “Ah-ah-ah” de outra maneira. Rir é ter algum prazer.

O riso evoca o sexo… Mas o sexo também evoca o riso. Peça a um amigo para lhe contar uma anedota e são grandes as hipóteses de ele se sair com uma sobre sexo. Psicólogos americanos comprovaram-no. Pediram a 14 500 pessoas que classificassem cerca de trinta anedotas por ordem de preferência. Como não podia deixar de ser, são as anedotas sexuais que surgem à cabeça, e muito distanciadas das outras. É lógico. O sexo é o tabu que exige mais energia repressiva. Também é um ditador que está sempre a dominar-nos. Além de permitir a libertação da energia recalcada, a piada sexual proporciona a breve ilusão de ser mais forte que o sexo, “rebaixando-o” por meio do riso.

Quanto maior o mal-estar recalcado, mais divertido é. Inversamente, dir-se-ia que quanto menor é a frustração, menos rimos. Por exemplo, quando fazemos amor, já não estamos inibidos… enfim, estamos menos do que o costume. E, nesse caso, o sexo e muito menos divertido. Imagine que o seu parceiro se escangalha a rir enquanto você se afunda nos limbos do prazer. Dá cabo da atmosfera, não é? Esta incompatibilidade também se exprime nos filmes: é impossível fazer um filme ao mesmo tempo erótico e divertido.

Durante a fase de sedução, o riso aproxima os dois seres que se lhe entregam. Durante o acto sexual, porém, afasta-os. Talvez porque una os dois seres à custa de um terceiro. No amor, estamos sós, a dois. No humor, somos três: há um “objecto”, perante o qual nos encontramos em posição de voyeurs porque troçamos dele. Em primeiro lugar, isso distrai-nos do acto sexual. Além disso, o terceiro de que nos rimos corre o risco de ser a nossa própria pessoa. E isso não é bom, mesmo nada bom. Em suma, ao provérbio “Mulher que ri, meio caminho andado para a tua cama”, convém acrescentar o corolário “Mulher que ri na tua cama é mau sinal”.

16 comentários:

carpe vitam! disse...

Encontrei este livro em saldo numa feira do livro. Foi uma bela surpresa! Atempadamente, irei divulgar algumas das pérolas que contém.

Não estou totalmente de acordo no que diz respeito ao riso não ser erótico. A troça dos estereótipos do erotismo pode ser igualmente estimulante.
Em relação ao riso durante o sexo, também me parece ser bastante libertador, e em situações potencialmente embaraçosas, alivia bastante o constrangimento.

Otário Tevez disse...

sim vitam, concordo! aliás, penso que o vosso blog está cada vez mais atractivo, com assuntos mais interessantes, pensamentos, etc. quanto ao tema,tive a ler o texto e fiquei um tanto surpreendido por ser tao esclarecedor. nao conheço esse autor, mas ele soube o que escrevia.

hum... nao sei bem mais o que acrescentar, este tema nao é de opiniao, é mais um facto. mas gostei, sobretudo!

carpe vitam! disse...

quando li este texto, lembrei-me do filme "Quem tramou Roger Rabbit?" (http://www.imdb.com/title/tt0096438/)
Quando perguntam à boazuda da Jessica Rabbit por que casou com o coelho, ela responde, com aquela vozinha de cama: "Ele faz-me rir"

lalisca.cs-life disse...

Sim qundo eu me riu na cama do gajo é muito mau sinal!! nem me lembres...

E sim aprecio um homem que me faça rir, sempre!!

beijinhos

carpe vitam! disse...

bem, gargalhar não me acontece muito na cama, mas um belo dum sorrizinho pós-orgásmico é muuuuuito bom!
E quando rimos de nós próprios? Nada melhor para aliviar o stress!
Uma vez, acordei a meio da noite a rir às gargalhadas. Ainda hoje não sei porquê, mas soube-me bem!

Anónimo disse...

Eu n concordo com a lalisca. Rir na cama, desembaraça muitos momentos constragedores. Porque nada é perfeito. Uma cabeçada na mesa de cabeçeira, um pé preso nos boxers.. enfim. O riso é relaxante, liberta endorfinas que estimulam as hormonas que nos excitam. Logo rir faz bem ao sexo!

Rir na cama n é rir-se de alguém como é óbvio. Isso é humilhação.

Parabéns pelo texto.

Beijinhos

carpe vitam! disse...

sim, concordo! endorfinas é bom :) e cócegas :))))))))

Anita disse...

sem dúvida...rir é o melhor remédio para todos os males e, ter a capacidade de provocar o riso é sem dúvida uma mais valia para a arte de bem seduzir ehehehe;))

beijinhos

The Perfect Stranger disse...

carpe

as mulheres só se riem de mim, durante o sexo,quando não, como hei-de dizer, não consigo levantá-lo.

olha, nós homens somos uns coitados. não podemos falhar uma só vez. tramam-nos logo.

podias fazer essa pergunta aqui: os homens têm de estar sempre prontos? Não têm enxaquecas? não podem estar inibidos tal como elas? sim, as mullheres, algumas, fazem-se de bla blabla, mas não passam de bla bla bla. tiram-te o tapete há mais pequena falha do indivíduo.

o homem não é como elas nos pintam...certo?
singular. plural. nota!

carpe vitam! disse...

Oh, que mazinhas as tuas mulheres, mas também, que querias que fizessem, chorar?

Mas as questões que colocas são bastante pertinentes. Eu desconfiaria bastante de um homem que não estivesse sempre pronto, a não ser que estivesse mesmo muito doente!

"o homem não é como elas nos pintam" é lindo! sem dúvida que esta (in)compreensão entre géneros e sexos dá pano para mangas! Irei continuar a abordagem do tema até conseguir chegar a alguma conclusão ou até me fartar.
vai passando, gosto de te ler (a maior parte das vezes) :)

luafeiticeira disse...

Obrigado pelo texto que nos prendaste que dá para grandes dissertações. Refere coisas certíssimas, pois é certo que as mulheres gostam de quem as faça rir, mas tem coisas discutíveis como o facto de destrinçar tão categoricamente os homens das mulheres; devia referir também a proibição da comédia de aristóteles e nem vou comentar esse facto, etc. Quanto a não ser possível misturar erotismo com humor deixa-me na dúvida, pois tem sido isso que tenho tentado fazer ultimamente no meu blog (excepto os 3 últimos posts).
Há um blog, para mim dos melhores, que precisa que lhe deiam força. Vai vê-lo no meu blog, por favor.
Beijos

carpe vitam! disse...

Não tens de quê, Lua, mais virão, porque este livro é uma fonte de bom humor que aliado à investigação científica, explica o sexo de uma forma bastante interessante.

Fizeste-me lembrar "O Nome da Rosa", quando os monges discutem o riso e um deles afirma que deve ser proibido porque afasta o medo.

Concordo contigo na questão dos homens também serem sensíveis ao humor, mas aqui o objecto de estudo é somente a mulher.
E também já tinha tido a oportunidade de explicar mais acima que não concordo com o autor quando diz que o riso e erotismo não são uma boa combinação. Uma prova disso é o teu blog. Eu até percebo a ideia, é um lugar-comum pensar que o erotismo é uma coisa para ser levada a sério. No fundo, podem servir os dois exactamente para o mesmo fim: seduzir!

em relação ao outro blog, já tens a minha resposta no teu post :)

The Perfect Stranger disse...

acreditas que nunca falhei uma?
bang!

carpe vitam! disse...

não me acertaste! nha, nha, nha, nha... :P Mas também não acredito que tenha sido a primeira que falhaste... afinal de contas, errar é humano ;)

Cão Sarnento disse...

Sorriso é coisa do Demo! Eu sei-o bem. Tenho um que é verdadeira maldição.

carpe vitam! disse...

é, não é? :) e o riso, e a gargalhada? completamente demoníacos! devia ser proibido...