sábado, 17 de maio de 2008

... duramente suave

foto: Dylan Ricci
continuação daqui

A minha atitude. Surpreendi-me a mim mesmo. Foi uma explosão, um soltar de amarras. Sabia que a resposta ia ser positiva, pois ele já tinha falado abertamente da sua homossexualidade e eu já vinha a sentir-me seduzido há algum tempo.

Sempre pensei que pudesse fazer uma mulher feliz. Creio que o consegui, por alguns momentos, sei que não é coisa que conseguisse a vida inteira. Eu tentei, eu bem que tentei e não me arrependo de o ter tentado, o resultado disso foi a coisa mais incrível que alguma vez fiz.

A minha filha. Ternura infinita. Faço qualquer coisa por ela. E foi por ela que saí de casa. Estou com ela quase todos os dias, mas morro de saudades de a ver adormecer. Escolhemos dar-lhe paz e tranquilidade, sei que ela está melhor assim.


Eu estava tão bem com a minha pacatez, o meu trabalho, os meus amigos... ele surgiu para me inquietar.

Tentei resistir-lhe, bem que tentei. Mas era cada vez mais difícil. Masturbava-me a pensar nele, a imaginar como seria estar com ele, ser com ele. E quando chegava a quinta-feira, ansiava por o ver, por poder estar com ele, respirar com ele.

O cinema. Era algo que iria acontecer, mais tarde ou mais cedo. Ela sabia-o muito bem e tratou de me facilitar as coisas. Adoro aquela mulher!

Ele encantou-me. Culto, sofisticado, bem-humorado, expansivo… bom demais para ser verdade. Ele é um sonho do qual eu não quero despertar.
Deixou-me à vontade, ser eu a escolher, como um verdadeiro anfitrião.

A velocidade estonteante a que o sangue me corria pelo corpo. Mas tudo acontecia de forma natural, instintiva, animal.

A boca dele. Grande, generosa. Lutamos os dois pelo domínio. Despimo-nos como se não houvesse amanhã, com fúria, com raiva por não o termos feito antes.

O duche. Mil e uma gotas mornas a escorrer, a percorrer os corpos, as fundirem-se com o gel transformando-o em espuma, dando-nos um pretexto (como se fosse preciso) para nos explorarmos mutuamente.

A boca dele no meu pau… as mãos dele percorrem-no, brincam com as minhas bolas, deslizam com a espuma do duche até encontrarem a minha entrada. Pressiona devagar com um dedo enquanto a sua boca encontra cabeça e mordisca, e faz qualquer coisa com a língua que me deixa doido e pede-me para lhe passar um preservativo de morango. Tem uma colecção enorme no duche. Ele põe-mo com a boca como se já tivesse nascido a fazê-lo. Desliza e engole-me todo, até eu sentir a cabeça apertada contra o fundo da garganta e continua, numa cadência certa, e as mãos deslizam, e os dedos penetram… sinto-os dentro de mim, devagar, a tocar no sítio certo, a aumentar o ritmo, a fazer-me gemer, até eu não aguentar mais de tanto prazer e peço-lhe que pare.

Levanto-o. Beijo-o. Percorro-lhe o corpo coberto de espuma.

O pau dele… ai o pau dele… massajo-o. Beijo-lhe a boca. Acaricio-lhe a cabecinha, devagar, enquanto lhe mordisco as orelhas, o pescoço, os ombros… ele suspira ao meu ouvido… eu percorro-lhe as nádegas, aperto-as, enquanto a minha outra mão continua a percorrê-lo, a rodear a glande, a deslizar pela pele em redor com o polegar… viro-o contra a parede, faço-o sentir-me duro contra as nádegas e continuo a acariciar-lhe as bolas, o pau, as nádegas… encontro a entrada e pressiono com os dedos até ele me pedir para entrar e eu obedeço, devagar… até ele me pedir com mais força, mais depressa… e o tempo pára. A mão dele e a minha no sexo dele. O meu vaivém. A explosão dele. A minha…

Tranquilidade. Cigarro à janela e o tempo retoma o seu curso, o mundo regressa. Nina Simone e dois copos de Mouchão tinto. Cama. Fecho os olhos para ouvir melhor, para saborear melhor. Está calor.



Novamente a inquietação, a fome dos corpos. Sinto o vinho a escorrer-me no rego das nádegas. Ele lambe. Ele morde. Ele penetra-me com a língua… ele lambuza-me com lubrificante, entra devagar com um dedo... com dois… viro-o de costas, provo-o com o vinho, ponho-lhe o preservativo, desço sobre ele devagar… dói. Volto a tentar até me sentir confortável, enquanto ele acaricia o meu pau. Rodamos. Ele por cima, virado para mim, penetra-me devagar enquanto me toco… a dor funde-se com o prazer, com o suor dos corpos. E o prazer sobrepõe-se. Imenso. Carnal. Encarnado. Pecado? É ter vivido tanto tempo sem saber, sem conhecer…

Sorrimos, rimos, gargalhamos. Partilhamos. A cama, a mesa, a vida.

Cor de rosa… o nosso romance é desta cor troçada pelos homens que se dizem muito machos. Não tem mal nenhum. Já estava na hora de me reconciliar com o que sinto, com o que sempre senti. Alegria, arco-íris!




44 comentários:

Estrelaminha disse...

este texto está fantástico!!!
toda a abordagem cuidada e sem chocar, adorei.
bjs

Anónimo disse...

Parabêns pelo texto,é magnífico!
Está mto realista, com uma sensibilidade e um erotismo excelente! Digno de ser lido e comentado, por ambos os sexos(homo e hetero)!
Bjs provocadores e um fim de semana
excitante

Adore disse...

Adorei a ousadia.

Um texto simples, erótico, que mete muitos sobre heteros a um canto!

beijo

luafeiticeira disse...

Aqui está um texto diferente dos textos eróticos que se passeiam pela blogosfera, um texto que aborda a homossexualidade masculina duma forma natural, sem chocar, mas a provocar. Parabéns.
beijos

DoisaboresEle disse...

Texto fabuloso.
Diferente...Assunto tabu para muita gente...
Mas abordado por ti de forma simples, bonito e sensual.

beijos

Sabor Feminino

http://www.doisabores.blogspot.com/

Camareira disse...

Texto fantástico. Erotismo e sedução numa deliciosa escrita

Beijos Ardentes

Anita disse...

Parabéns pelo texto, ousado, delicioso e bonito;)))

Uma excelente semana;)

carpe vitam! disse...

gracias meninas, fico muito, mas mesmo muito contente por terem gostado :) Curioso ainda nenhum leitor masculino ter comentado, não acham?

Excelente semana para vocês!

Anónimo disse...

cá está um leitor masculino. ah.... prefiro nao me pronunciar. o texto está muito bem escrito, etc e parabens....

Miss disse...

lol..
sim o nome é engraçado..lol
vejo que tambem aprecias linguas mortas..nao é verdade?..
lol..
..
.
..
posso adicionar-te aos meus blog's favoritos?

JCA disse...

Olá Miss.

Sim, podes adicionar-nos :D

carpe vitam! disse...

Na verdade, prefiro línguas vivas, quando mais vivas melhor! ;)

muito querida disse...

hummmmmmmm....finalmente, cá está ele..o finalmente..

sim, é isso, o tal amor homossexual, muito mais do que o simples envolvimento sexual.."partilhar cama, mesa ,vida".

Ainda bem que a homossexualidade já não é considerada uma doença mental..será o príncipio da adopção por casais homossexuais ou qto a isso ainda temos mto que esperar?

vamos ver. Parabéns pela coragem miguita..
beijocas

Sofia disse...

muito querida, em relação à adopção, creio que no nosso país ainda vamos ter muito que esperar.

eu não precisei de coragem nenhuma para escrever isto, precisei apenas de compreender e acredita que não é nada difícil, basta querer.

Anónimo disse...

Sem palavras. Adorei.

A intensidade das palavras vai muito além da situação em si. Homo ou Hetero. Não deixa de ser excitante.

Adorei mesmo.

Parabéns.

Beijo

Afrika disse...

Hummmm... mas que raio, gostei mesmo do post! Tanto que ate me excitei com o mesmo... hummm Muito bom mesmo!
Parabéns!

carpe vitam! disse...

é muito bom saber isso :) gracias a ti!

carpe vitam! disse...

doce veneno, a ideia é mesmo essa, que diferença faz ser homo ou hetero? O que importa é o Amor, a Paixão, o Tesão!

Sleeping Angel disse...

bem penso que abordas o tema da homossexualidade com muita suavidade descreveste algo com muita qualidade
dos melhores textos do blog bjcas

PontoGi disse...

Muito este texto. Sincero e frontal...de louvar!

The Perfect Stranger disse...

francamente muito interessante.
gostei de ler...
bom feriado

fc disse...

Pois aqui somos dois a responder e as opiniões divergem.

O texto não traz nada de novo, parece-me até uma cópia de um brasileiro.

pau é nitidamente um termo brasileiro, acho corajosa a decisão de sair de casa.
Quando se é homossexual deve assumir-se.

Francamente, não gostei da maneira como abordou o tema.

Abraço

fc disse...

Também não entendi quem é a mulher que lhe facilitou a vida e que adora.
Talvez me consiga esclarecer.

The Perfect Stranger disse...

os teus comentadores não deram pelo erro. não leram...
ehehehehehehe

carpe vitam! disse...

Blackangel, agradeço que me digas que erro é esse para o corrigir se for necessário.
Bom feriado para ti tb :)

carpe vitam! disse...

atp, agradeço a opinião. O objectivo do texto não era tanto trazer algo de novo mas sim mostrar a minha perspectiva do assunto.
Se existe um texto brasileiro parecido, gostava francamente de o conhecer. Fiz algumas pesquisas sobre o tema, mas não encontrei nada semelhante.
O pau não é do brasil, é de carne, lá isso garanto-te!
Não tenho a mínima pretensão de agradar a toda a gente e gosto muito de receber comentários com ideias diferentes.
Muchas gracias :)

carpe vitam! disse...

atp, acerca da mulher de quem a personagem fala neste texto, se leres a primeira parte do texto (suavemente duro...)ficas a perceber quem é. Tens um link directo na parte de cima do duramente suave.

carpe vitam! disse...

Ah, mas espera, tu até o leste, e até o comentaste, e até disseste que gostaste... terá sido o/a outra/o atp? De qualquer das formas, se tiveres alguma dúvida que eu possa esclarecer, estás à vontade!

The Perfect Stranger disse...

nunca se continua um texto sem esclarecer quem são as personagens. quero dizer com isto o quê? não li o primeiro post, portanto, continuo sem saber quem é a mulher de que falas.

ex:se publicares um 1ºlivro e o continuares com uma "continuação", terás forçosamente de reconstruires todas as personagens do primeiro livro.
tipo, por exemplo: Harry Potter. não lês o primeiro, compras só o segundo.
se certas personagens transitam do 1º para o 2ºlivro terás de as construires novamente. isto para que os leitores "apanhem " o sentido do que se escreve.


não tenho dúvida nenhuma. tu é que precisas de esclarecer as tuas. o/a outra/o o atp, qué que isso interessa?
podemos ser uma comunidade ou até apenas um. qué que isso te pode interessar? escreve e cala-te.

Intimacy disse...

Carpe
Eu, por exemplo. Sabes quem sou?
Interessa saber quem é quem? Quem é o/a autor/a de determinado blog?
Para que fins? Para denunciar infracção aos códigos da blogsfera?


Quem tem o direito de se armar em detective e denunciar: este é este, esta é aquela. Qualquer autor, mesmo na escrita dita séria, pode permanecer incógnito, se assim o entender.

Não consigo compreender esta fixação doentia de perceber quem é quem, quem escreve ali ou aqui. Eu, por exemplo, não estou nada interessada em saber se és homem, mulher, se és mais do que um ou dezenas deles. Se tens um ou mais blogues, se és feio, bonita, magro, ou gorda. Só me interessa (entre aspas) o que escreves. Volto a visitar-te se gostar, não voltarei mais se ao fim de três leituras não apreciar a escrita e "desandar".

Posso criticar. Até hoje, a censura ainda não voltou. Mas critico e vou-me embora. Nem regresso para ver se respondeste ao meu comentário. Pura e simplesmente por não me interessar a sua opinião.

E então? Já sabes qual é o meu blog?

carpe vitam! disse...

blackangel, agradeço os teus conselhos mas isto não é nenhum livro e está lá uma hiperligação. Quem quiser lê, quem não quiser, não lê. Ainda tem a vantagem que a interactividade permite para perguntar se houver dúvidas.
Mas quando as críticas são bem observadas, não tenho qualquer problema em fazer melhoramentos e agradeço bastante o gesto.

Como já disse, sou uma pessoa curiosa e tento fazer as minhas perguntas sem ofender ninguém. Claro que gosto de conhecer quem se dá ao trabalho de vir à minha casa falar comigo! Não se querem dar a conhecer, fiquem quietos no vosso canto, porque cada letrinha que escrevem revela-vos.
Não estou aqui para perseguir ou denunciar ninguém. Estou aqui para me divertir de forma sustentada. Se for esse o vosso objectivo, serão sempre bem-vindos. Se não for, poderão encontrar algumas vezes a porta fechada.

Bom fim-de-semana!

Anónimo disse...

Olá. Ficou muito bem, lindíssimo, cheio de sensualidade. Adorei.

carpe vitam! disse...

gracias taurnil, muchas gracias pela ajuda :)

Unknown disse...

Acabei de ler os dois textos. Achei-os excelentes, parabéns. Deram-me uma enorme tesão. Os textos exploram uma situação com uma enorme carga simultaneamente erótica e humana. Gosto muito da forma como se foi criando tensão até ao pico do final da 1a parte e como depois essa tensão vai sendo docemente superada na 2a parte. Acho que as palavras empregues (pau, bolas...) não são minimamente grosseiras, são as adequadas e fazem parte do léxico comum do português de Portugal dos dias de hoje... Gostava de encontrar mais contos do mesmo tipo na net, mas infelizmente a maior parte da produção homoerótica (ou heteroerótica) cai em fórmulas muito básicas, com um nível francamente ordinário. Sugeres-me outras leituras igualmente boas?

carpe vitam! disse...

Olá Fernando, é sempre bom receber feed-back do que se escreve, muchas gracias, assim fico com a ideia de que o objectivo foi cumprido :) em relação às sugestões de leitura, procurei bastante alguma coisa deste género homoerótico, mas o que encontrei é tudo mais hard, e foi por isso mesmo que aqui quis criar um compromisso entre o hard e o soft. Mas heteroerótico ou homo entre duas mulheres, encontras muita coisa. Basta passeares pelos links sugeridos aí na barra lateral. Nem todos são soft, mas isso tu percebes logo. Se quiseres enviar-me um mail, posso enviar-te alguns textos que fui coleccionando.
Bom fim-de-semana!

aproveita.a.vida@gmail.com

C. disse...

muitos parabens pelo texto, muitos parabens mesmo! *

... desde que me vi numa situação bastante complicada que envolvia homossexualidade, não comigo, mas com quem tinha um certo carinho especial, que respeito mesmo quem o é... Não tenho nada que consiga dizer o mal que tem de o serem, cada um é como é... e por vezes são precisas pessoas assim para encarar a realidade...

Li muito do seu/teu blog e adorei, adorei mesmo .. muitos parabens, é so o que tenho a dizer..

* Comentários de quem não percebe, são como nada .. ;) força, espero que um dia não haja qualquer tipo de problema com preconceitos.. *

carpe vitam! disse...

unnamed, já percebi que mesmo as pessoas que dizem não ter preconceito nenhum em relação a isso, quando se vêem confrontadas com uma realidade próxima, assustam-se.
fico contente por teres gostado da abordagem :) eu aprecio todos os comentários, mesmo aqueles que não percebem ou não querem perceber, afinal de contas, uma pessoa que se dá ao trabalho de vir aqui dizer alguma coisa, merece ser lida. Desde que não desrespeite a opinião dos outros, será sempre respeitada a sua opinião.
Creio que o preconceito irá sempre existir enquanto existir má educação, ignorância e inveja, mas podemos sempre lutar contra isso.

Anónimo disse...

Uma palavra: lindo!

Obrigado por partilhares este texto.

Um abraço

carpe vitam! disse...

tiago, gracias a ti por partilhares a tua opinião :)

Anónimo disse...

Encontrei este blog por acaso vagueando pela net e fiquei docemente surpreendido! Este texto particularmente está fabuloso! Parabéns! Continua neste registo erótico que em nada é chocante, ordinário ou vulgar mas sim extasiante, delicioso e provocante! Parabéns mais uma vez!

carpe vitam! disse...

gracias! vou tentar fazer mais alguma coisa dentro do género um dia destes, mas eu gosto de variar. fico contente por teres gostado.

Isso de estar entre o sol e a lua deve ser interessante. Curioso, faz-me lembrar uma música que tenho ouvido bastante nos últimos tempos: http://www.youtube.com/watch?v=UGrAU-FnarM

carpe vitam! disse...

parece que o vídeo anterior foi removido, segundo o you tube "por violação dos termos de uso"... o pior é que eu não me lembro que música era... isto é para eu não me esquecer de pôr os créditos das coisas.

Bruno disse...

Odeio pornografia, mas amo erotismo ousado. Quero um dia ser fotografado em fotos eróticas e bem explícitas, mas não vulgares. Quero que fotografem cada parte do meu corpo, meu pênis ereto, as mãos do meu parceiro acariciando meu corpo suavemente, seus beijos no meu pescoço, meu rosto gemendo de prazer, o pênis dele me penetrando suavemente, meu pênis ejaculando, meu corpo molhado, nós dois abraçados...

Tudo excitante e selvagem, mas sem vulgaridade. Nada de fotos ridículas abrindo o ânus, com pernas pra cima, fazendo cara de pervertido ou coisa do tipo. Só o sexo em seu lado mais puro e romântico.

carpe vitam! disse...

Bruno, entendo-te perfeitamente. O Dylan Ricci faz um trabalho interessante nessa área, os modelos devem ser profissionais, mas nós aqui temos tido muito boas experiências a fotografar pessoas normalíssimas (nós próprios e amigos) e sabemos que é possível fazer fotos especiais com pessoas normais. Todos somos fotogénicos vistos por um bom olho e a produção certa.
Experimentem fotografar-se um ao outro. O olhar da pessoa que ama é sempre especial, pode dar resultados interessantes, além de ser uma experiência muito boa :)