sábado, 14 de setembro de 2013

a Odisseia do último Concerto




Terminaste o último concerto da digressão, um arraso, banda e público sintonizados, numa massa sonora fluida, electrizante, que te deixou com a adrenalina toda a galopar descontrolada pelo corpo, cheio de energia e claro, a libido à flor da pele. No meio da multidão, montes de miúdas giras todas oferecidas, falas com algumas que vêm ter contigo, simpáticas e atrevidas, elogiam-te, gritam com o corpo “fode-me!” e tu pensas: “Penélope...”. Que bem que te sabia a pele dela agora, o sorriso, o abraço, a boca, enfim, toda. Ela não te pode acompanhar desta vez, tens de te portar bem. Mas elas bem que te tentam! Os sorrisos, os decotes, as mini-saias, meu Deus, as mini-saias… Dás os autógrafos, despachas as miúdas. Elas são bastante insistentes, o resto do pessoal baza, tu que vás lá ter. O último concerto… e estás apenas a algumas horas de distância dela…

Os teus pensamentos são interrompidos pelo som da aceleração de uma potente moto. Estás deitado no palco exterior e levantas-te a tempo de a ver ser travada com estrondo. 




A moto dos teus sonhos… Quem a conduz é um corpo esguio, vestido de cabedal preto dos pés ao pescoço, com botas de saltos altos do mesmo material. Tira o capacete, mas tem uma máscara de látex tipo Cat Woman sem orelhas, toda a indumentária está concebida para revelar as formas sem mostrar o conteúdo. Mas se não é uma mulher, engana bem e desperta em ti pensamentos luxuriantes. Dirige-se devagar em passos decididos para ti e sorri uns lábios rubros. Intriga-te, esta mulher entesoa-te o cérebro e desconcerta-te.

A próxima vez que abrir os lábios, será para sorver a tua língua, a boca inteira, e beijar-te com uma paixão que nunca antes tinhas sentido. Sabe a fruta. Apanhou-te desprevenido, colou o seu corpo ao teu, tirou-te o fôlego, intumesceu-te o sexo, fez-te tremer as pernas. Há quanto tempo não sentias isto? Mas que loucura é esta?

“Penélope…” o pensamento atinge-te como um raio e torna-se sonoro: tens de parar com isto.

Tens mesmo?...

“Xiu…” sussurra ela de dedo em riste a tocar nos lábios que leva depois aos teus. Ela tem luvas pretas sem dedos, que terminam em belas unhas da cor dos lábios. Não resistes e chupas-lhe o dedo. Tens esta vontade irresistível de lhe chupar os dedos todos, sorvê-la toda.

Para lá do cheiro do cabedal, sentes um leve aroma que não consegues identificar mas que te é extremamente familiar. Tentas inquirir-lhe os olhos, mas percebes que tem lentes coloridas.

Quem é esta misteriosa mulher que te tira do sério? Quem é que ela pensa que é para te deixar assim? Queres saber, claro, e esse desejo sobrepõe-se por momentos ao de a possuir.

“Quem és?”, perguntas. Ela apenas sorri e começa a abrir lentamente o fecho do fato colado ao corpo, revelando a pele branca… o rego das mamas… ui, o umbigo… ai, a fenda do sexo…

Deixa-te doido, completamente doido, latejante, com muito pouco sangue no cérebro. Agora há apenas um pensamento latente na tua mente: fodê-la. Fodê-la de todas as formas que conseguires. Mas logo a seguir, há uma campainha que ressoa: “Penélope… nem sequer tenho preservativos...”
“Mas quem és tu, tenho de saber!” gritas e abana-la com força, prestes a tirar-lhe a máscara de forma violenta se ela não o fizer.
Mas ela fá-lo. Não sem antes seres atingido pelo raio do discernimento e perguntares: “Penélope?”
Ela sorri. Como foi que não percebeste logo no primeiro sorriso? “Penélope!...” Apetece-te bater-lhe pela figura de parvo que fizeste mas conténs-te e ainda acrescentas, com a maior das inocências: “Desde quando é que tu sabes conduzir motas!?”
Ela ri: “Ainda há coisas sobre mim que tu não sabes, Ulisses. Tenho de conseguir surpreender-te de vez em quando. Se soubesses tudo deixaria de ter piada, não achas?” E continua a rir às gargalhadas, perante a tua perplexidade, até te desmanchares a rir também.
“Achas que foi o destino que nos juntou?” – pergunta ela.
“Não tenho dúvidas”.
“E achas que também estava escrito que me reconhecerias?” Ela de vez em quando faz com cada pergunta, não é?
“Isso agora… sei que tive de me conter bastante para não te saltar logo em cima, lá isso tive!”
“E que tal saltares agora?”
Depois de recuperares da surpresa, fazes o que continua a apetecer-te fazer, até com mais vontade agora, fodes e deixas-te foder por ela, de todas as formas que vos apetecer. E há qualquer coisa de diferente, como se estivessem redescobrir-se, a reconquistar-se. E quando passadas umas horas estão os dois satisfeitos, deitados de costas a olhar para o céu, perguntas-lhe: “Onde foste desencantar a moto?” E ela diz-te: “A moto é tua, feliz aniversário!”
Deixa-te conduzir o brinquedo novo e partem os dois, em direcção ao sol nascente.


Imagem: uma montagem manhosa que fiz com isto (gracias Ulisses!) e isto. Aproveito também para agradecer as sugestões musicais ;)

Este texto é a resposta a um desafio proposto pelo Ulisses aqui. Se quiseres participar, ainda vais a tempo, o prazo termina amanhã dia 15. A votação poderá ser efetuada até ao final do mês. Passa por lá e participa!

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4 comentários:

Malena disse...

Muito bom! :) Condiz com o Ulisses e com este canto! :)

carpe vitam! disse...

gracias Malena, espero qu enunca te arrependas de passar por aqui. Gostaste da musiquinha?

Anónimo disse...

Apenas te posso agradecer o facto de teres participado...
...e a música está apropriada...
...e é mesmo como eu gosto! Slow'n'easy...

LOL

:)

carpe vitam! disse...

Caramba, eu é que agradeço a oportunidade! Se não tivesses vindo cá dizer, o mais certo era passar-me ao lado. Temos de fazer mais coisas destas! Para a próxima, lanço eu o desafio ;)