Acordo com imensa fome de sexo. O dia está a nascer, é estupidamente cedo. Ela dorme serenamente ao meu lado. Toco-lhe e ela geme qualquer coisa, não parece querer despertar. Percorro-lhe o corpo quente, excita-me ainda mais. Viro-a de barriga para mim, oiço-a gemer, adormecida. As minhas mãos encontram-lhe os seios e despertam os mamilos. A minha boca encontra-lhe o sexo e mergulha nele, sorvendo-o. Ela geme, protesta. Fecha as pernas, quer continuar a dormir e eu faço-lhe a vontade.
Levanto-me, tomo um duche rápido, bebo um iogurte.
Calças, blusão, luvas, via verde, capacete – vou levar a minha
bad girl até à praia.
Sorri para mim assim que me vê, já sabe que vai passear. É pesada, possante e brilhante, depois de a ter conseguido dominar, mostra-se super fiável, é um prolongamento de mim, um instrumento que me faz andar mais rápido.
Faço-me à auto-estrada, sinto o frio a entrar-me pelos tornozelos, devia ter calçado as botas. Tenho a estrada quase toda só para mim. Fico com a sensação de que estou no mesmo sítio, é a estrada que se move, eu apenas tenho de me inclinar ligeiramente para curvar melhor.
Sinto-a vibrar no meu sexo pulsante e a minha fome aperta. Felizmente o destino está próximo. Nunca mais me atrevi a voar a alta velocidade desde “o acidente”. Ter-me esfolado completamente ficou bem marcado no meu corpo e serviu-me de lição – a partir daí sempre blusão e calças de protecção, e nada de distracções – máxima concentração na condução.
Chego finalmente ao meu lugar preferido, no cimo da arriba com o mar aos pés, rodeada de pinheiros. Estaciono-a virada para o mar, não lhe desligo o motor, quero senti-la a vibrar debaixo de mim, enquanto abro a braguilha e enfio sofregamente a mão no interior das calças, numa tentativa de pacificação com o fogo que me consome as entranhas.
Ligo o mp3, estou a ouvir Metallica,
Ride the lightning. Dedilho-me ao som da música, como se fosse uma guitarra. Morro em cada orgasmo, mas não tenho medo porque sei que ressuscito a seguir. Hoje não é excepção. Ou talvez seja, porque embora já o tenha feito aqui neste preciso lugar várias vezes, hoje sinto-me melhor, consigo sentir-me melhor. Venho-me sem pudores, primeiro com uma vibração suave ajudada pela moto, depois estremecendo ao sabor das contracções que me invadem o corpo, percorrido por pequenos choques eléctricos.
A música termina e é então que eu oiço o som suave e preciso, característico de uma moto. Mas não é uma moto qualquer. Olho para o lado e está assustadoramente perto, paralela à minha – uma Honda VTX 1800 T, 106 cv, motor v-twin, preta, linda, a moto dos meus sonhos! – montado nela está um tipo grande, negro da cabeça aos pés, e também ele geme agarrado ao seu membro proporcional, extraordinariamente negro.
Ainda bem que não tirei o capacete! Mesmo assim, ele consegue ver-me os olhos porque a minha viseira é transparente, e consigo ver os dele porque levantou a viseira. São claros, cristalinos, que contradição curiosa!
Esta visão excita-me tremendamente e volto a enfiar a mão para me sentir a ferver. Com a outra mão disponível, abro o fecho do blusão e revelo-lhe o
soutien preto que contrasta com a brancura da pele. Vejo-o aumentar o ritmo. Revelo-lhe os seios e os mamilos rosados entesam-se ainda mais em contacto com o frio matinal, num arrepio pós-orgásmico. Coincidência ou não, estou a ouvir Skunk Anansie baixinho, com os gemidos dele de fundo.
O cavaleiro negro vem-se para cima do depósito da Honda. Está satisfeito, tanto quanto me é dado a perceber pelo olhar e pela expressão corporal. Parece atrapalhado, à procura de qualquer coisa para limpar a moto. Saco de um lenço de papel da mochila e estendo-lho. Não nos chegamos a tocar. Enquanto ele procede à limpeza, eu manobro a moto e zarpo dali. Ele não tarda a seguir-me, e agora? Ele sabe a minha matrícula, eu vejo a dele pelo retrovisor. Quem será ele? Será que valerá a pena conhecê-lo melhor? Será que ele também tem alguém à espera na cama? A minha linda não vai acreditar… Despisto-o ou deixo-o seguir-me? Até onde vai o limite?
Foto: CORBIS editada por mim