Tinha de ser alguma coisa especial, afinal de contas, é muito tempo!
Muito tempo… a partilhar sonhos, tristezas e alegrias, a crescer juntos…
Ao fim deste tempo todo, não é fácil descobrir coisas que ainda não tenhamos experimentado. Ela disse que tinha uma surpresa para mim, queria levar-me a um sítio e mais não diria. Na minha mente passaram alguns cenários… de certo a comemoração envolveria sexo... Estaria ela a pensar convidar mais alguém? Puxei um pouco por ela. Fez questão de esclarecer que seríamos só os dois. Riu-se e desconversou quando lhe falei em motel.
No dia anterior, mandou-me dar uma volta para fazer uns telefonemas e verificar coordenadas. como ela queria fazer mistério, fiz-lhe a vontade, fui passear para o supermercado, comprei uma tablete de chocolate daquelas de leite, como ela gosta. Ainda me perguntou se eu queria saber ou preferia a surpresa, claro que optei pela segunda, mas a desconfiar que não iria ficar assim tão surpreendido…
Estava meio atordoado, o dia era de chuva intensa, tudo o que sabia é que íamos para os lados de Sintra, continuava a suspeitar do motel, mas ela não adiantava mais nada, só sorria e dizia que eu ia gostar.
Deixei-me levar com ela a conduzir-me segundo as orientações precisas do GPS e depois de muita água e trânsito, chegámos ao local.
Tal como eu suspeitara. O sítio até era discreto, não fossem os inúmeros cartazes com o preçário. Ela comentou a falta de classe da tipografia e organização gráfica da sinalética que retirava todo o charme que o exterior poderia ter. Curioso o facto de os folhetos promocionais falarem de comemoração de aniversários, reveillons, ocasiões especiais perfeitamente lícitas, quando rapidamente se verifica que está totalmente concebido para os encontros clandestinos – a garagem privativa, o acesso directo ao quarto, o discreto serviço de quarto…
Mas ela gostou daquela sensação de clandestinidade, mesmo sem o ser. E eu também. O facto de estarmos ali exclusivamente para foder era uma novidade excitante.
O quarto era simples mas interessante, cama redonda, forrado a espelhos, permitia-nos uma visão diferente de nós próprios. Na casa de banho, uma banheira de hidromassagem esperava-nos. Há muito que ela comentava que queria sentir o poder dos jactos. Mas antes disso, dançou para mim e tirou a roupa criteriosamente escolhida para a ocasião devagar, permitindo-me fazer algumas fotos. Aproveitámos os espelhos para descobrir novos ângulos e brincámos com os vários tipos de luz existentes.
Depois foi a vez dela me despir e saborear. Estávamos com fome, pedimos algo para comer e fomo-nos comendo enquanto esperávamos. Ouvimos alguns ruídos a abrir uma porta seguidos de uma campainha – era a comida – continuámos a comermo-nos na alcova redonda e depois de saciado o sexo, saciámos o estômago.
Ela começou a preparar a banheira. O líquido borbulhante facilmente provocou a espuma do gel duche. Ela mergulhou, levou o champanhe e os bombons e eu juntei-me à festa. Com jeitinho, coubemos os dois e ela pode finalmente experimentar e direccionar os jactos. Brindámos ao amor, à saúde, à felicidade e ao sexo do bom. Brincámos um pouco, mas a banheira era demasiado estreita, pouco confortável para dois corpos fodentes.
Voltámos à cama. Apreciei uma vez mais os nossos corpos em acção como se fosse um espectador graças ao espelho redondo do tecto. Gostei do que vi e ela comentou comigo: “somos fotogénicos a foder, já viste?” E de facto, a forma como os corpos e os músculos se movem é espantosamente sensual. E dei-lhe com força, excitado por aquele estímulo extra, até ela se vir profusamente, até eu me vir de seguida. Era para isso que ali estávamos. Na verdade, o local é indiferente para mim, desde que esteja com ela.
Acalmámos um pouco entre os lençóis, aninhados um no outro, a ouvir a chuva bater furiosamente lá fora, a ver um canal porno sem som e a comentar os clichés. Experimentámos ainda partilhar um chupa duplo de morango e champanhe e fazer algumas fotos com ele saboreando-o nos locais mais prováveis do corpo, fazendo-o derreter e escorrer gulosamente antes de tomarmos duche e seguirmos viagem.
Quando saímos, o dia resplandecia de acordo com os nossos estados de espírito. Fomos pelo caminho a saborear os quadradinhos da tablete de chocolate comprada na véspera, especialmente desenhados para se encaixarem no céu da boca. Para a próxima, talvez fiquemos para a noite…