quarta-feira, 30 de março de 2011

O prazer de Cozinhar e Degustar


Antes do sabor, já o aroma invade o ar, os olhos arregalam-se perante o manjar, a língua percorre os lábios com as papilas gustativas excitadas, sente-se a textura, ouve-se ceder sob o poder dos talheres e só depois… o paladar - doce, salgado, ácido ou amargo. Cozinhar, comunicar através da comida, degustar, implicam a utilização de todos os sentidos. Há muito erotismo latente nisto, não há?
“És o que comes”, diz o ditado - isso reflecte-se em todas as vertentes do ser.
Cozinhar é uma forma de expressão, o estado de espírito de quem cozinha reflecte-se no prato e em quem degusta.
Existem receitas, mas costuma sair melhor quando se experimenta bastante e se improvisa e se vai buscar inspiração aos lugares mais improváveis. É isso que faz a diferença entre um arrastar de tachos, um mero exercício técnico e uma obra-prima de saborear e chorar por mais.
Cozinhar não é muito diferente de Escrever – há que reunir os ingredientes, temperá-los, apurá-los. E degustar não é muito diferente de Ler – há que compreender e digerir, tirando o máximo prazer no processo.
A selecção cuidada dos ingredientes, a preparação, são toda uma antecipação do prazer que é comer. Mas por vezes são as coisas mais simples que dão maior gozo. Pode resultar lindamente algo que é feito no momento com as sobras do dia anterior e os temperos que existem no momento. Porque o mais importante de todos os ingredientes é o Amor que se põe no prato – é preciso colocar uma dose generosa para que fique perfeito. A magia acontece quando Amor e Sabor se fundem. Bem cozinhar é química elementar, pura magia alimentar. E degustar é muito mais que comer para satisfação de uma necessidade básica, é comer com todos os sentidos, para satisfazer o corpo e a alma!

imagem: frame do filme O fabuloso destino de Amélie

Leitura recomendada: “Como água para chocolate” de Laura Esquível (obrigatória para quem gosta de comida mexicana e/ou romances que fazem água na boca). Aconselha-se degustação de quadradinhos de chocolate preto para acompanhamento da leitura.

sábado, 26 de março de 2011

diálogos (im)prováveis XI

texto por Lúcio Ferro "Na mouche do Hadith"

«(…) A tua net é lenta. A minha? Ou a tua? A minha costuma ser bastante rápida. É por cabo - fibra óptica - a informação viaja velozmente até me cair no colo; isto é, desde que não esteja a receber ficheiros oriundos do teu pc que, como de costume, está cheio de viroses, em virtude de toda a porn que o infecta... Não tenho porn no meu computador. Não me insultes. Ah! Consultas porn online, é? Claro. Pior um pouco, mais riscos corres; já eu armazeno toda a minha porn em suportes fixos. E só consulto porn na net se e quando oriunda de fontes fidedignas, gosto de porn, não o nego, mas prefiro-a filtrada. Ora, lá estás tu com a tua paranóia habitual; de todos os modos, digo-te que isso de porn, o lexema, é uma palavra muito feia. Prefiro o tradicional e insuspeito eufemismo de "filme de foda". Hmm, parece-me uma combinatória robusta and straight to the business at hand, literalmente, contudo peca por excesso de brejeirice. Que tal, er… filmes de educação sexual? Qual educação. Um mestre por definição já não precisa de educação. Se bem que há algumas películas onde ainda se vê qualquer coisa fora do vulgar. Concordo, há pouco de novo no mundo da porn mas, paradoxalmente, também é verdade que a porn é hoje um dos mais ousados meios de expressão artística, se bem que, por vezes e na ânsia de inovar, a dita expressão roce o doentio.

Ah... Foder como quem faz um filme porn... Ui. Sabes, uma vez fodi a ver um filme de foda: Senti-me como um verdadeiro artista: uma espécie de Clark Gable da foda. E foder para a câmara, já fodeste? Não, alto lá, taradices é que não! Eheheh. Também nunca o fiz, mas sei de quem já o tenha feito. Parece que possui algum mistério, então se for com a criatura amada... Pois, o mistério é como é que é possível agarrar a sarda numa mão e a máquina de filmar na outra. Hmm. É tudo uma questão de prática e ademais pode ser a parceira a segurar; numa coisa ou na outra, bem entendido. Desde que não me dê cabo da máquina... de filmar, bem entendido. Olha, estão a passar educadoras de infância na minha janela, é do infantário ao fundo da rua… Uma loira, metro e sessenta, com colete de sinalização do trânsito... 27, 28 anitos, boa, tão querida, tão boa… Pois. Acredito. Educadoras... educação... filmes de educação... filmes de arte... filmes de arte, filmes de foda... Desculpa, mas não gosto da combinatória "filmes de foda": é feio. É horrível. Imaginas-te a acariciar a tua parceira e às tantas a dizeres-lhe, como quem não quer a coisa: “Querida, vamos ver um filme de foda?..” Não, mas ainda menos me imagino a dizer-lhe: "Querida, vamos ver um filme pornográfico?.."

Realmente, tens alguma razão, é muito complicado gerir as palavras e os eufemismos ainda mais; na volta o melhor é ser ela a dar a dica. É isso mesmo, o giro é quando é ela te confronta com o filme à má-fila; acredita, um tipo fica todo encavacado. Mas depois...Vinga-se. E dá uma excelente foda, garanto. Tem a ver com o sindroma Clark Gable; a arte pela arte. Hmmm… Ou, então, engendra-se uma situação em que, como por "acidente", aparece um filme de foda no canal onde normalmente está a Oprah e um tipo finge que nunca tal coisa viu na vida e diz: "Oops! Mas que vem a ser isto? Já agora, querida, vamos ver o que estão a fazer?.." Bem, é uma estratégia com mérito. Muito embora, mudar da Oprah para um canal porn me pareça ligeiramente inusitado.

Ora, detalhes, sabes, com a minha ex-mulher era giríssimo... Um filme do princípio ao fim e fazíamos questão de replicar a performance dos protagonistas. Isto, claro, se fosse apenas um casal, quando eram orgias entrávamos em variações… Pois. É importante ser versátil e capaz de reproduzir a personagem escolhida com diferentes características; desse ponto de vista é mais um Anthony Hopkins do que um Clark Gable.Er... Não percebi o Hopkins. Há um filme em que ele de facto fode uma gaja mais nova, aquela tipa que foi casada com o Tom Cruise, a australiana. Boazona, ruiva e a fazer papel de mulher ferida e rebelde… Mas, foder imolando Anthony Hopkins? Sim, repara, o Anthony Hopkins é um actor capaz de desempenhar diferentes papéis de modo credível, já o Clark Gable era mais canastrão, era sempre o mesmo. De todo o modo, isto era somente uma metáfora. Sim, claro, percebo, vês-te então como um Anthony Hopkins da foda? Não, mais um Stalone. Um Rambo. Fodo-as a todas com a minha metralhadora, sé é que estás a ver a coisa e, se ficar sem balas, uso o facalhão. Caramba, uma metralhadora? Nunca tinha pensado na foda sob esses termos; e muito menos “facalhão”… mas… Estás louco ou quê? Não me digas que andas por aí armado em Jack the Ripper da foda... Metaforicamente, caralho. Pensava que tinhas uma veia poética, caramba!

Er… Mas um facalhão corta, decepa. E um caralho, pelo contrário, penetra sem ferir, aloja-se, conquista e a dado momento explode. Que lindo, que bonito, mas estás a ver mal a coisa: uma metralhadora tem um ritmo incessante de disparo que pode ser regulado à medida que a munição se esgota ou o cano aquece... Ora bem, a analogia da metralhadora refere-se a sua velocidade de repetição e potência de impacto. O facalhão, no contexto do Rambo, refere-se à capacidade de improvisação quando perdido no meio do mato (também tenho que te explicar a analogia de "no meio do mato"?) Hmm.., sabes, adoro a metrosexualidade púbica, sobretudo se praticada pela minha parceira. Metro quê? Metrossexualidade. Rapar os pelos púbicos, ou queres que te faça um desenho?

Sim, faz-me um desenho, estou curioso. Opá, tu não me provoques, menino. É muito diferente. Sabe bem melhor, isso te garanto... Lamber uma bela cona rapadinha é uma experiência inolvidável e, se for o sexo duma mulher que nos ama, aí então… Esquece. (…)»

sexta-feira, 25 de março de 2011

terça-feira, 22 de março de 2011

Aproveita a PrimaVera!

“Olhos postos na terra, tu virás
no ritmo da própria primavera,
e como as flores e os animais
abrirás as mãos de quem te espera.”

Eugénio de Andrade

Todos os anos por esta altura, chegas com o teu calor e desabrochas as flores, e os animais e as cores, num festival de beleza natural. Um perfume de esperança e renovação invade o ar e faz-me acreditar que tudo é possível. O sabor do teu calor penetra-me a pele e diz-me que já é tempo de guardar as meias e a roupa interior. Vivam as t-shirts e as sandálias! Cantas e encantas com o teu toque fresco e aveludado, escorres-me pela garganta em gole cadenciado. Expiro a inspiração que me dás e expresso-a o melhor que consigo. Tudo parece mais vivo, brilhante, vibrante! Rimas com Poesia, Cor e Alegria!

Grazzie mille Prima :)

[eu sei que já chegaste antes de ontem, mas só hoje consegui reunir todos “ingredientes” necessários para publicar isto]
 

quarta-feira, 16 de março de 2011

diálogos

Texto e foto por Pink Poison

Não me perguntes porquê: imagino-te com umas Dockers azuis escuras e uma camisa azul clara de mangas dobradas… Imagino-te a abrires-me a porta de uma casa e ficares a rir e a chorar ao mesmo tempo, são muitas emoções e tu sabes, SE NÃO SABIAS, FICAS A SABER AGORA: ao pé de mim, podes ser tudo o que quiseres à hora que quiseres… Abraço-te a afago-te no meu peito (ok, aguenta-te) e choras, choras talvez a bola de sofrimento que tens dentro de ti.
Sorrateiramente, tiro da minha mala um bombom da caixa que havia trazido e depois de ter deixado todas as tuas lágrimas correrem, mando-te fechar os olhos:
“Confias em mim?”
“Ai… o que me vais fazer?”
“Coisa linda, confia em mim…”
Ponho um bombom na boca e dou-to à tua boca. Sorris e mastigas ao mesmo tempo e assim se afastou o desabafo das lágrimas… Volto a abraçar-te mas desta vez :”Olha, as tuas mamas são um encosto do melhor” enquanto eu replico:”São tuas”…
Sinto-me a levitar quando fecho os olhos e te aperto bem forte, e tiro-te a camisa para fora das calças… Lá vou eu sentir as tuas costas, enquanto uma das minhas pernas roça a parte interior nas tuas, o que já dá um tesão do caraças…
“Ai estas mamas…”
“Quais? Estas?” E pego na tua mão e ponho-ta em cima da minha mama, respiras fundo e começas a desabotoar-me a camisa para descobrires tudo, (entretanto, tanto um, como o outro, começa a sentir o tesão bem forte), ao mesmo tempo eu sussuro-te ao ouvido: “Estou cheia de tesão, mexes nelas como eu gosto… “ E gemo… (ah, pois, eu gemo muito)…
Puxei por ti e fomos para um quarto… fiz-te uma massagem nas costas, beijei-te as orelhas enquanto te dizia: “A tua puta está a ficar com mais e mais tesão… tens que resolver esse problema”… Viras-te para cima como se a massagem não te tivesse relaxado em nada e voltas a lamber, chupar e amassar as minhas mamas, tinhas uma mão em cada uma e, do nada, eu venho-me… Estou molhada, estou com tesão e desejo-te. Dispo-te e faço-te um broche mas antes beijo-te o interior das coxas, lambo-te os tomates e o caralho desde a base até à cabeça e faço o que mais gosto durante um bom tempo: Tenho um caralho na boca… Enquanto isso ouço e sinto o teu prazer, avisas que te vais vir, e eu preparo-me para engolir aquele jacto quente. Saboreio tudo e rio-me. Rio-me porque finalmente tinha conhecido o teu corpo, o teu cheiro, e estavas despenteado por causa dos amassos… Fazemos uma pausa… E, quanto falamos e falamos, eu digo:
“Apetece-me foder-te”
“E se for eu a foder-te?”, dizes tu.
“Olha o atrevido”
Pegas em mim pela cintura e viras-me no sofá da sala, baixas-me as calças e cuecas ao mesmo tempo…
“Não quero cona, importas-te?”
“Não coisa linda, quero-te em todos os buracos”
Entras no meu cú, devagar, quando me sentes relaxada e a ir contra o teu corpo, percebes que me podes enrabar como foder uma cona, eu gemia, eu vinha-me e a minha cona pingava, enquanto eu te pedia para enrabares a tua puta como se não houvesse amanhã… Esporras-me o cú… e cais para o sofá ao lado…
Levanto-me e como um bombom, vou tomar um duche quente e tu segues-me, relaxamos no duche e mais uns momentos de tró-ló-ló, quero saber como és, como são os, como te sentes, como está a “passa seca”, conto-te que também eu já sofri mesmo muito como tu, falamos de coisas divertidas, do teu desporto, do meu desporto, rimo-nos e abraçamo-nos…
Os abraços silenciosos são tramados.
“Coisa linda, a minha cona está a dizer …”
“Só se te comer em todas as posições que eu quiser”
“Aceito”
Fodemos tanto e tantas horas, de quatro, vim-me, pedi para me dares umas valentes palmadas e deste, percebias que eu era doida na cama, montei-te e gemia, vinha-me várias vezes no meio disto tudo…
“Não estou a conseguir aguentar mais…”
E eu para te atrasar, comecei a perguntar-te a tabuada…
Vieste-te depois de termos fodido em todas as posições, tinha parecido uma dança tal era o entendimento do outro quando queria mudar de posição…
Lá fomos para o duche e desta vez, eu quis lavar-te…
Quando eu saí, estavas na cama a olhar para a janela, sentei-me a olhar fixamente para ti e emocionei-me. Com as lágrimas nos olhos, disse:
..., tu também és tudo. Tu és um espectáculo, nunca te disseram?”
Tu ris e dizes que não é assim.
“Isso cabe-me a mim julgar. Tenho fome”
Fomos a um McDrive e ficamos horas no carro a conversar, entre mimos e gargalhadas, ambos nos sentíamos um do outro… O dia nasceu e fomos cada um para sua casa…
Quando é a próxima?


quarta-feira, 9 de março de 2011

domingo, 6 de março de 2011

carnavalando!

Véspera de Domingo Gordo e ela acorda cedo com vontade de fazer das suas. Despacha as tarefas rotineiras e reúne os ingredientes. Inspirada num sonho que tinha tido há dias, saiu de casa de avental e botas, mas em vez do impermeável, levou um sobretudo comprido e teve de calçar umas meias altas e levar cachecol. Apesar do sol, o Inverno faz-se sentir na pele nua. Mas passado o primeiro contacto com o forro frio do casaco, ela nem o sente, a expectativa aquece-a. Adora fazer surpresas, e esta, se correr bem, vai ser das grandes.

Avisou que ia, mas decidiu ir mais cedo para a surpresa fazer mais efeito - em vez de jantar, levou um cesto com o que iria ser o almoço. Antes teve de passar pelo supermercado para buscar os ingredientes que faltavam. Divertiu-se a fazer as compras com um ar muito discreto e compenetrado, sem dar o mínimo indício do que (não) havia por baixo daquela indumentária.
Pelo caminho foi-se deliciando a imaginar a expressão dele quando a visse e a tentar perceber que espécie de máscara era aquela – uma mistura de capuchinho vermelho de cabeleira flamejante encaracolada, bochechas e lábios vermelhos (cesto de verga com paninho por cima e tudo) Pipi das Meias Altas (não eram coloridas, mas chegavam às coxas) e cozinheira lasciva (só detectável pelo avental de quadradinhos vermelhos após casaco despido e revelação dos seus dotes de… culinária).
A expressão dele… aquele sorriso que sublima os cantinhos da boca e faz o olhar brilhar… ela faria qualquer loucura para testemunhar aquela expressão!
Não pode cozinhar apenas de avental porque estava bastante frio, e depois do orgasmo, não restou tesão que chegasse para aquecer o tempo todo, mas o almoço correu lindamente.
A ementa? Primeiro houve entradas (entraram um no outro e partilharam o leite quente dele com beijos) depois uma sopinha de feijão verde (ela nem sequer gostava de feijão verde, mas o creme de cenoura estava óptimo, apenas um pouco salgado), seguida de uma meravigliosa pasta – fusilli tricolore alla carbonara - acompanhada por uma bela salada: cenoura, cogumelos, milho e courgete fundida com maionese. A bebida escolhida foi… água (tal como no sonho em que ela trouxe a garrafa “fonte de vida” mas aqui sem rótulo especial …ihihihih). Uma magnífica broa de milho áspera, dura e estaladiça por fora e suave, doce e húmida por dentro (muito parecida com ele, de resto) de comer e implorar por mais, especialmente quando está quente (mesmo muito parecida com ele!) e por fim tangerinas docinhas e um quadradinho de chocolate!

O resto da tarde foi passada a limpar arduamente a casa, diferente mas necessária forma de aproveitar o sol, para depois aproveitarem a noite com os amigos. No dia seguinte ela lembrou-se de pôr em prática umas máscaras especiais inspirada por outro sonho que teve. Sonhou que os pêlos púbicos tinham crescido imenso e tapavam, alegremente encaracolados, o triângulo da púbis e metade das coxas. Achou piada, podia fazer tranças com eles! Então toca de pedir emprestados alguns caracóis compridos a uma farta cabeleira, inventar uma mascarilha, colher algumas flores para o toque final “flower power” e desenhar uma boca no saco das bolas. O resultado foi hiLaRiaNtE, claro, uma bela matrafona de nariz à Pinóquio, que apesar do frio, não parava de crescer por causa de uma certa borboleta de longos bigodes de penas pretas pousada numa púbis purpurinada. Escusado será dizer que o nariz cresceu, cresceu, cresceu… e espantou a borboleta que foi voar para outras paragens, deixando a descoberto a entrada para um sítio acolhedor onde o nariz apinocado ficou quentinho durante um bom pedaço de tempo...


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quinta-feira, 3 de março de 2011

paixão proibida

texto por TaViTa
pintura "Nômades Amantes do Tempo" por Bruno Steinbach Silva


Ainda me lembro de todos os pormenores. Do som das tuas palavras ao meu ouvido, das cores do quarto de hotel, do cheiro da tua pele, e de todo aquele calor que sentimos. E o teu corpo majestoso, os teus olhos brilhantes, o teu sorriso sedoso, as tuas mãos que tão bem embalavam o meu corpo naquela noite... Ainda consigo sentir o pecado que viveu em mim. A quantidade de adrenalina que se esvaziou para as minhas veias foi tal, que ainda hoje me alimenta o desejo, e com toda a certeza residirá em circulação para sempre. O coração batia cada vez mais acelerado, mas o cérebro negava todos os impulsos. Queria ficar, o desejo sedento de te envolver, de te conhecer e de me entregar como nunca me tinha entregado a alguém. A força das hormonas conseguiu vencer o meu consciente pecador. A tua sedução venceu. Entreguei-me, não sabia como, mas estava ali. Foi ali num clima nunca antes sentido, num ambiente totalmente desinibido e de excitação, que nos entregamos um ao outro.
Lembro-me de a minha razão ter perguntado ao coração se valeria a pena, se tal pecado seria alguma vez perdoado. Perdoei-me mas não foi de imediato. Só muito depois de te ter tido em mim é que realmente equacionei os sentimentos. Perdoei-me porque de uma maneira ou de outra, e apesar de todos os devaneios que habitavam naquele quarto, tudo foi sentido, houve paixão.
Fecho os olhos e revejo aquela noite. Os teus braços abraçavam-me como que a pedir de alguma forma autorização para me teres. E o momento em que tocas nos meus lábios senti que te tinha concedido o desejo. Avançaste com as tuas mãos grandes e aveludadas, e agarraste-me com vigor. Despi-me logo após de te ver despir em escassos segundos. Ambos queríamos aproveitar todos aqueles momentos a medo que o tempo acabasse ou que eu me arrepende-se. E não, não me arrependi, segui em frente. Tocava-te loucamente, abraçava-te tão forte, queria que me sentisses só tua. O calor habitou em nossos corpos, e o meu pecado capital naquela noite viveu em ti.
Reviveria tudo outra vez. Sentiria novamente os teus beijos, o teu calor, o teu desejo... Cairia na tua cama, ter-te-ia novamente em mim, só para encher uma vez mais o coração daquilo que ainda sinto por ti. Arrepia-me a ideia de um dia poder voltar a sentir o teu toque. É tudo passado, é tudo lembrança, e hoje tudo reinventado seria apenas uma quimera. Aqueles minutos já passados, já queimados, de ouro pecaminoso não voltam mais. Agora só o sonho traz ao coração aquela paixão proibida.